Sunday, July 02, 2006

Racismo, Hermano

Eu nunca sei qual desodorante pegar na prateleira da farmácia. Há uns 15 tipos de cada marca, versão azul., pele sensível, pele áspera, sei lá. Como eu sempre vi essas variações como a mesma coisa, por engano acabei comprando um desodorante específico para pele negra. Ultimamente várias marcas de produtos para banho, essas coisas, lançaram linhas específicas para a população negra, vendo nela um mercado em expansão. Quando eu compro um Xampu para cabelos "ondulados", não é que eu saiba que meu cabelo é ondulado, da mesma forma que eu não sei precisar se meus dentes são sensíveis, ou se minha pele é seca. Eu não imagino como eu poderia saber disso. Com certeza deve ter gente que pode dizer uma coisa dessas sem a menor dúvida, mas eu não. Por analogia, fazendo total sentido, eu também não deveria ter certeza ao dizer que sou branco ou negro, mas essa distinção foi culturalmente disseminada, de modo que todos, de uma forma ou de outra sabem, ou pelo menos têm uma opinião definida sobre si mesmos. Por isso que essa sociedade não vai para frente. Imagine uma sociedade em que todo mundo fizesse caso por ter pele oleosa ou seca: para dizer o mínimo é uma estupidez.

Eu nunca comprara um desodrante que achasse eficaz no objetivo para o qual eu o tinha comprado. Talvez porque eu sue mais que o normal, não sei. Pela primeira vez, por incrível que pareça, logo este aí me deixou completamente satisfeito.

Pensando mais tarde em casa, cheguei a uma dupla conclusão: "Talvez esses industriais racistas tenham formulado o produto pensando: os negros suam mais, precisamos reforçar na matéria prima com eles". Fiquei indignado. Mas mesmo assim, na outra mão pensei: " talvez a minha própria inconsciência racista, derivada do meu background histórico, dos meus modelos mentais cultivados a partir de uma atmosfera de um país escravocrata, tenha me induzido a um juízo sobre o produto para pele negra, que ele havia sido mais eficiente.
É interessante pensar por esse lado. Eu me vi como um monstro reprimível. se não temos controle sobre nosso inconsciente, isso também pode ter acontecido à minha revelia. Fiquei dividido, afinal, é um tema delicadíssimo.

Para tentar sanar minha dúvida, fui à embalagem do desodorante tentar achar algo nas instruções que fosse condenável. Nada escrito, nenhuma fórmula específica, nenhum "fator alfa" "fator beta", que normalmente se colocam nos produtos para diferenciar um tipo do outro. Estava quase desolado, vendo-me um hipócrita, quando li em letras pequenas na parte inferior da embalagem os dizeres "Producto Argentino". Estufei meu peito aliviado, ironizando a mim mesmo, e gritei: "Argentinos filhos da...!".

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