Sunday, July 02, 2006

Falando de Futebol

Eu sou um apaixonado por gol a gol. Gosto de jogar de todos os tipos e com todas as regras, principalmente em pequenas quadras de salão.

O gol a gol é uma das várias brincadeiras que usam os princípios do futebol mas não são propriamente futebol. Mesmo as pessoas mais fanáticas pelo jogo coletivo nem sempre encontram quorum suficiente, ou até ficam enjoadas do jogo usual. Para isso há uma série de outras brincadeiras, cada uma estimulando um fundamento diferente do futebol. Serve muito para o aprendizado dos muleques. Muito antes deles jogarem o jogo como é jogado, eles aprendem essas pequenas brincadeiras de chutar, driblar, dominar, cabecear ou fazer embaixadas. Por isso o futebol é tão praticado no Brasil. Não existem só jogos de futebol, e sim toda uma estrutura de outros jogos preparatórios que substituem perfeitamente os outros jogos com bola que usariam a mão, por exemplo, de modo a todas as brincadeiras infantis masculinas girarem em torno de um só objetivo: aprender a jogar futebol, não só o esporte, mas toda a ética presente nele.

O gol a gol explora dois fundamentos: o chute ao gol de longe (cobrança de tiros ao gol) e a defesa desses tiros, pois o o jogador tem sobrepostas as funções de atacante e goleiro. É bom para quem não está bem condicionado fisicamente e quer pegar o rítmo, porque não há a necessidade de correr. Eu observo algumas modalidades básicas de gol a gol, "tipos ideais" (para max weber se revirar no túmulo):

1) Free for all - os dois jogadores chutam, sem limite de força, distância e sem restrições quanto ao uso da mão com o objetivo de fazer os gols. Quando os dois adversários são muito competitivos, esse jogo pode se transformar num campeonato de quem acerta a bola mais forte na cara do outro, e por isso é pouco popular pela sua falta de regras que acabam por valorizar a força e não a técnica do indivíduo, transformando-se num jogo sem propósito. Três traves ou invasão do campo adversário resultam em um pênalti.
2) Na àrea, sem mãos - Os jogadores podem chutar sem limites de força, distância, podendo usar a mão somente fora da pequena àrea, resultando num pênalti (sanção) o uso da mão dentro da área, a invasão do campo adversário e a ocorrência de três bolas na trave. É a modalidade mais comum, e por sua vez mais equilibrada, visto que o objetivo do jogo acaba sendo encobrir o adversário, cavar um pênalti ou pegá-lo de surpresa.
3) Jogo café com leite. Há restrições quanto a potência, a distância, e a colocação dos chutes, sendo lícito o uso da mão na maioria das situações. A invasão do campo adversário resulta em pênatli. Essa modalidade é jogada por crianças, ou adultos versus crianças, de modo que se um adversário é muito baixo, não vale chutar no alto nem "à queima roupa" e assim por diante. A modalidade também é inaceitável após os treze anos, em que qualquer sinal de apreço a esse sistema resulta numa grave repressão do grupo, por ser considerada uma atitude afeminada e anti-esportiva.
4) Um toque. Os jogadores se deslocam no campo todo. Cada jogador tem apenas um toque e não é permitido o uso da mão em nenhuma hipótese, resultando em pênalti o uso dela. Na Cobrança do pênalti pode-se dar dois toques para defender, sendo um com a mão e outro com o pé. É modalidade que exige mais esperteza e noção espacial da parte dos jogadores, sendo impopular e de difícil assimilação entre os mais novos.

É fácil perceber como a brincadeiras de futebol prendem os muleques desde pequenos num determinado corpo de regras, mais ou menos maleáveis, nem excessivamente restritivas, nem excessivamente desreguladas, que definirão para sempre sua conduta e reputação predominante na prática do esporte. Isso é genial para quem lê um pouco de ciências sociais.

Eu gostaria muito de um dia poder explicar a minha visão sobre o futebol no Brasil . A ética futebolística é a mais perfeita e aplicável que existe, não sendo nem a mais pura nem a mais perversa. É simplesmente aquela que fez do brasileiro, onde se aplicou, o melhor do mundo e insuperável, inalcansável.

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