Sunday, July 02, 2006

Poema - 2

Colocarei pela primeira vez um poema meu que gosto, gosto mesmo de ler. Principalmente a última estrofe. O fato de eu gostar não quer dizer que o poema seja bom , na verdade, tem alguns defeitos que eu sempre mudo aqui ou mudo ali cada vez que leio, exceto pela última estrofe. (desde que postei aqui, o poema já foi mudado).

Solidão Induzida

Um banco de cimento, enquanto passava,
disse-me com os olhos secos, da secura que era o dia:
“sente aí, faça uma companhia homem!”
sentei-me afinal

havia nele o anúncio da velha padaria,
a que fechou para abrir uma farmácia no lugar

então fiquei sozinho, enquanto passavam os homens
e acabava o dia estupidamente
Silenciei-me, apreciei a solidão, tolo que sou
e logo conclui que não servia era para nada
só para ficar olhando, para silenciar

Não sirvo nem nunca servi, esse é meu lema
e quem não serve certa hora deixa de existir
É o orgulho e dignidade que ninguém quer ter
Desaparecer, ofuscar-se pela luz do céu
misturar-se entre os bancos velhos, arruinar-se com a cidade

e por isso sou odiado pelos outros
há os apáticos, há os agitados
Eu sou a ruína, e mantenho-me firme como ruína,
sou maior, subsisto, irrito os homens úteis,
que duram apenas o quanto existem
que tudo precisam aproveitar
Querem ter certeza de que são
Servem para tudo, e servos são

Eu, senhor de mim, reino na praça
E só os bancos, solitários na mesma medida
Reconhecem minha majestade
A despeito da minha formidável indigência
E das minhas lágrimas desimportantes
Porque foram os bancos a primeiro chorar quando eu nasci
E a lamentar minhas feridas da alma
Porque fora o tempo dos bancos, das praças, de mim
Dos reis, dos senhores de si, dos livres!
O tempo é dos servos, dos felizes
E os felizes não nos suportam

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