Sunday, July 02, 2006

spray de pimenta na cara dos outros é refresco

Segundo regra minha, o meu blog deve sempre falar sobre temas universais e nunca cair na armadilha do provincianismo. Para eu poder então esquecer a minha vida cotidiana e ao mesmo tempo me basear nela para escrever (minha única fonte de histórias), eu tenho que mentir.

Hoje, eu vivi uma situação de greve. Para nós, cidadãos da modernidade, e para outros, cidadãos da pós-modernidade, a greve pode ser um evento relativamente raro, se compararmos com outras épocas da história, mas mesmo assim , ela continua a acontecer e não cessará tão cedo.

Fazer greve é algo que necessita de mais esforço do que viver a vida normalmente, sem paralizações. Antes eu pensava que fazer greve era não trabalhar por um motivo de ordem política, não trabalhar como protesto. Hoje eu vejo a greve como não fazer o que você teria que fazer, e no lugar disso, fazer (agora exclusivamente), o que todos os seres humanos fazem enquanto fazem outra coisa: Reclamar, e reclamar com razão. É como se você, homem, trocasse de papel com a sua esposa.

A greve é necessária. Mas justifiquem vocês essa afirmação para mim.

Numa greve as pessoas ficam reunidas fazendo manifestações. E há sempre uma preocupação de que a maioria das pessoas, se possível todas, não furem à greve. Para isso trazem trios elétricos, dvds, políticos famosos, passistas de canaval para seduzir essas pessoas a entrarem na greve. É um espetáculo. Em certos momentos, se mulatas ensaboadas não atrairam muitas pessoas, costuma-se discutir meios alternativos para evitar o "furo" da greve:

- devemos arrancá-los à força?
- não. Ouvi dizer que a violência é a parideira de velhas sociedades.
- Vamos inventar um boato cabeludo então!

E depois de consolidada a mobilização. è sempre bom atrapalharmos alguma coisa. Bloquear uma avenida por exemplo:

- vamos sentar aqui na faixa de pedestres.
- beleza.
- assim os carros não passam.
- é
- veja, não é um policial vindo não?
-dois agora
-três
- quatro
-eles tem spray de pimenta
- vamos levantar, vai.
-odeio a Autoridade
-vc sabe né?
- o que?
- eles vao bater na gente mesmo assim.
-vão?

tarde demais.

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