irei reproduzir aqui umas das discussões que tive, aí vão alguns aspectos teóricos que eu uso para entender melhor esse problema no Brasil. Talvez pareçam um pouco jogados esses argumentos, mas é pq eles foram colocados numa longa discussão. com tréplicads, réplicas, etc.
I)
1)O crime é um produto da desigualdade social, mas o crime ORGANIZADO é resultado de uma permissividade nas leis, uma mistura de impunidade com má redação das leis mesmo. Por isso que o crime organizado existe no japão, na rússia, existia na itália. paises com boa distribuição de renda. Dizem mto das semelhanças entre a máfia russa e o crime organizado brasileiro.
2) o crime organizado tem braços políticos e articulações com o status quo, eles elegem representantes, tem lobbys por todo brasil. é um erro enxergá-los como fora da dinâmica do Estado. Eles SÃO o Estado, por isso preenchem funções de Estado, e não são substitutos do estado brasileiro, são parte dele.
3) A luta de classes tem vínculo direto com a dinâmica de conflito e resistência dos modos de produção. Se o PCC não é resistência, ou melhor é uma forma bastante corrompida de resistência pq se alia à braços políticos do crime, ligadas a lavagem de dinheiro, com contas bancárias em paraísos fiscais, então ele não tem a ver com luta de classes. Assim eu não estou dizendo que o crime comum não tenha a ver, ele tem, pq faz parte de um ciclo de exclusão, que nao necessariamente desagua no crime organizado, na verdade, ele desagua na maioria das vezes em movimentos sociais e na criminalidade comum não organizada.
a presença do Estado, com seu corpo de leis bem constituído deve coibir o uso ilegítimo da força por essas organizações, isso se quiser, se tudo já não estiver tão misturado com o crime, que seja impossivel essa empreitada.
II) na verdade chico, eu estou colocando outra perspectiva pro mesmo conjunto de evidências. Veja: se concebe-se o Estado como um corpo que deve servir antes de tudo o povo, o Estado brasileiro é bastante ineficaz, e portanto o crime organizado preenche essa lacuna deixada pelo Estado no sistema penitenciário.
O caso é que o Estado predominantemente não tem como finalidade o povo, principalmente o Estado Brasileiro. O Estado Brasileiro, predominantemente tem como sua finalidade principal a defesa da classe dominante e seus instrumentos de manutenção do estado de coisas. Não há como dizer que o Estado Brasileiro seja ineficaz nisso, dada a sustentação por décadas de uma insustentável desigualdade social.
O PCC então, é braço do Estado, de natureza igualmente opressora, e que sustenta, fora da cadeia esquemas de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, usando capital de "investidores" da tríplice fronteira, ou seja, elites. Sem contar que diminui os custos de manutenção dos presos, usando dessas ações que vc mencionou. O Estado se confunde com o crime, pq é criminoso. A diferença é que formalmente apenas, o Estado tem o uso da força legitimado pela população.O crime é necessário, sem dúvida. Mas ele não se opoe ao Estado.
O crime organizado sempre foi uma forma de ascenção social, está lá, nos filmes de mafiosos. No brasil ocorre é o contrário. O "administrador" do tráfico fica lá fodido (sic) , faz uns bailes funks e mais nada, enquanto que o cara que está atrás dele, o peixe grande que aplica no tráfico e em títulos do tesouro brasileiro, ele sim está lá fazendo festas na TV. Nem no tráfico há ascenção social.
* o crime surge num contexto de desigualdade, mas ele se organiza num contexto de permissividade. è um problema da Natureza do Estado, o seu corpo jurídico serve a outros interesses. Não há oposição CrimeXEstado. eles são aliados, é uma relação simbiótica, interdependente.normalmente ve-se o crime organizado como o sintoma de uma doença (sendo o Estado !ineficaz" e a desigualdade social a doença e a febre o crime organizado) eu não vejo dessa forma, como expliquei. O crime faz parte da doença. A febre é a desigualdade, o sintoma.
III) o crime organizado é um desenvolvimento desse mecanismo perverso de manutenção do status quo.
Como que o poder polítco vem depois do poder economico se eu estou dizendo que membros da elite "investem" seu capital em mecanismo de lavagem de dinheiro e trafico de drogas? Não esqueça da economia política, como o poder economico e o politico estao entrelaçados.
como eu explico que 50 anos antes nao havia crime organizado? ora ora, a tecnologia era outra meu amigo. Existiam outras formas mais adequadas à epoca. O jogo do bicho era uma delas (e nao subestime o tamanho da industria da contravenção no sec XX), agora , a população aumenta , a panela de pressão eh maior e cada vez mais se usam de metodos mais criminosos para conseguir manter o estado de coisas da classe dominante.
e "fazer políticas sociais" não tem a ver com o desmantelamento de uma organização criminosa. Ela tem a ver com o combate dos sintomas, a desigualdade. é como tomar aqueles remédios para gripe em que vc baixa a febre mas continua gripado.
Criminosos são o Estado e o PCC, eles tem que ser combatidos, primeiro mudando o corpo do Estado, sua estrutura legal, jurídica. aí sim estamos combatendo a doença.
IV) o jovem pobre é soldadinho, é alimento humano, escudo, sim ele é, é lixo para as elites. Isso só prova o quanto o crime organizado é opressor para esses jovens, embora coloquem minhocas em suas cabeças. mas vc quer matar o sistema de inanição??? quer esperar ele morrer de velho??? Garanto a você que sempre sobrará gente para servir o crime organizado, há milhoes de lixos, de escudos, sempre disponíveis para se sacrificarem por aquilo que é a sua própria perdição, e da sua classe. Por isso tem que mudar a lógica, não apenas os resultados da lógica. A lógica está fortemente ligada as caracteristicas do estado moderno brasileiro, com suas instituições normas, costumes. Pode-se diminuir a desigualdade de renda, e o crime organizado só se refinará como se refinou na rússia.
o tráfico é um mecanismo de manutenção sim. ele inclusive, no RJ mantêm a maior parte do tempo o morro quietinho lá, sem dar um pio. porque com 1,5 milhoes de pessoas morando em favela já era pra ter estourado faz tempo.
O fato de metralharem bancos faz parte do espetáculo, as fachadas tem seguro. As perdas não alteram a rentabiliadade que os bancos apresentam a esses mesmos investidores que colocam lá, ou em restaurantes, hoteis o dinheiro sujo do tráfico.
e mudar a estrutura jurídica não tem nada a ver com colocar leis repressivas. apenas colocar leis inteligentes. Um exemplo é a lei que define a possibilidade de isolamento de grandes chefes do tráfico em cadeias de segurança máxima. a idéia é inspirada na lei italiana que permite à policia isolar os chefoes da máfia até que de tão isolados eles percam a liderança, tornando a organização mais vulnerável, forçando uma reestruturação rápida que facilitaria os serviços de inteligencia policial na localização de nucleos criminosos. A lei italiana define que o preso deve ficar isolado por tempo indefinido, até que perca a liderança, mas a lei brasileira define o prazo de um ano , que não é suficiente para o cara perder totalmente a liderança do grupo. então acontece q a lei é ineficiente.uma outra lei por exemplo seria uma que restringisse o envio de dinheiro a paraisos fiscais.
Sunday, July 02, 2006
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1 comment:
necessario verificar:)
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