Estamos na semana do carnaval, mas eu nunca falaria sobre esse feriado ridículo.
Nesse momento, ao escrever aqui neste blog, faço um esforço tremendo para não ceder a tentação de dissertar longamente sobre as minhas razões de não gostar dessa festa popular, embora elitista, e alegre, embora deprimente.
Se há algo de positivo nesse feriado, é que ele é um paradoxo em si, como tudo na vida.
O problema é que quando você tenta se controlar para não falar sobre algo que você adoraria falar, é obrigado involuntariamente a discorrer sobre o assunto pelas beiradas.
Eu bem lembro de uma ocasião em que conversava com uns amigos e defendia o ponto de que a felicidade não possui nenhum significado, que ela não passa de uma das amarras que o próprio ser humano se coloca. Ninguém gosta de ouvir que o único sonho que vale a pena (ser feliz) é uma completa farsa. Elas preferem retrucar: "então quer que sejamos tristes?". Ora, seja o que você quiser, mas não se engane.
Sendo um ser humano, é inevitável termos que sentir todo o tipo de emoção. Não é razoável desejarmos viver felizes, quando isso se torna um fardo da vida. "ser completamente feliz". Para mim, isso é abdicar da liberdade de aceitar todos os sentimentos da vida. Atrás desse imperativo, as pessoas fazem loucuras, e perdem a serenidade que precisam diante dos acontecimentos. Compram bens, e enchem a sua dispensa de felicidade, e sem querer passam a quantificá-la. Querer ser feliz é em última instância, calcular o QUANTO se é feliz. Perde-se a lógica fundamental da vida, que é dada sempre qualitativamente.
Entãop me perguntam: "qual deve ser o objetivo do ser humano, para ele evitar de aprisionar a si mesmo?". A minha resposta é: Se você é um prisioneiro e tenta sempre se libertar (caminhando do menos livre para mais livre, mas nunca totalmente livre), e o seu colega de cela é também prisioneiro, mas constroi nela um complexo de lazer completo (tv a cabo, jacuzzi, microondas), você que tenta se libertar certamente é mais infeliz, mais angustiado, mas é o seu objetivo, e nao o dele, o mais apropriado.
Por quê? Por que é o único objetivo que pode te transferir da situação primordial de aprisionamento. Esta é a situação que importa e que as pessoas precisam reconhecer: Você começa prisioneiro. O resto são acidentes de percurso.
E por se libertar entendo ficar sempre atento à gravidade do mistério da vida, elevar o espírito humano, não ignorar a vontade, criar uma consciencia da humanidade, e sempre que possível contribuir para a civilização. Em suma: "ter na vida o interesse de um decifrador de charadas".
*o objetivo de se libertar é o único que não nos aprisiona ainda mais.
Sunday, July 02, 2006
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