Uma pessoa começa a conversar com outra e de repente descobre que há uma possibilidade não muito remota de essa pessoa ter algum amigo em comum com ela. É então a hora em que elas começam a cuspir nomes, sobrenomes, acontecimentos com a esperança de que pelo menos algum deles seja o elo perdido que ligaria ela à outra pessoa. Então se acharem alguém, vem uma euforia e tal, toda aquela coisa.
Hoje no ônibus presenciei um diálogo, que apesar de ter me irritado por um segundo, quando prestei atenção nos detalhes, eu gostei de ter ouvido inteiro .As pessoas entram nessas conversas e não desistem até achar o tal amigo em comum, é uma viagem sem volta, até segredos de família são revelados para poder achar o amigo em comum. O diálogo começou porque uma velhinha disse para o outro e para o motorista, que aliás não podia conversar dirigindo, que se pudesse, moraria no interior. Ai o outro velhinho disse que nasceu numa cidade do interior e que conhecia tudo lá por aquelas bandas. Segue-se o diálogo:
- então... São Carlos , Araraquara, eu conheço tudo lá por aquelas bandas.
- eu também, eu também. Minha família fica toda em São Carlos. Mas Araraquara eu conheço também.
- a Senhora conhece a Dona Helena?
- Dona Helena, de onde, lá da Padaria dos Prazeres?
- Padaria dos prazeres?
- é perto do bairro das laranjeiras?
- Olhe, esse bairro eu não conheço não, deve ser mais para outro municipio.
- é, acho que é.
- Mas a senhora não lembra da Done Helena mesmo, aquela que era mulher do dono do Banco português?
- O senhor conhece a dulce dona de uma papelaria? é minha prima!
- Não. O Banco português foi um banco conhecido no Brasil, a senhora não se lembra?
- Leeeembro, Lembro sim, como não.
-Pois então, o dono do Itaú foi comprando todos os bancos menores, e ai comprou o Banco português, .. com o dinheiro, esse marido da Dona Helena construiu a Usina Tamoio. A senhora conhece a Usina Tamoio? é muito famosa!
- Conheço só de nome assim.
- era a maior usina de açucar da América Latina . Tinha mais de 12 mil funcionários.
- Veja só!
- Então, ai a dona Helena contratou um homem pra dar um fim no velho.
- A parece que estou lembrando, ela não namorou um artista de cinema depois?
- Não senhora
- Aí ela matou o velho e só depois de cinco anos descobriram que ela tinha participado do assassinato.
- que coisa!
- é, essa família era muito rica lá em araraquara, todo mundo conhecia.
- é , mas eu não conhecia muito araraquara, mais o centrinho da cidadade sabe. São Carlos eu conheço bem! A dulce, tem certeza que não te lembra nada?
- é neves o sobrenome?
- Não, é Almeida!
- Nunca ouvi falar!
- E a Maria das Dores?
- Só de vista.
- Só de vista?
- é , na verdade não conheço não
(ele se levanta para descer do ônibus, talvez para evitar que a conversa dure uma eternidade)
- Ah, mas é muito gostoso morar por lá não?
- é, muito gostoso
- eu, se pudesse, me mudaria ou para Araraquara ou para São Carlos. São Carlos mais pela família, e araraquara mais pela cidade mesmo.
Motorista: Mai lá é bom demais! eee
- Bom senhora, eu já vou aqui nesse ponto. Mais lá é muito bom, sempre que eu posso vou lá pra araraquara!
- Eu também ...conheço tudo por lá! Até.
- Ora se conhece! Até.
Sunday, July 02, 2006
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment