Monday, July 24, 2006

O encontro

Um lugar vago, finalmente o achara. Sentara naquele banco e sentira pairar o silêncio por todo vagão. Ao contrário do ônibus onde é normal conversar alto com outras pessoas, no metrô esse costume não vingou. Lógico que alguns mantêm velhos hábitos, mas o metrô, desde o início, foi um verdadeiro expoente da modernidade, e com ela toda a individualidade, o charme do anonimato cosmopolita. O metrô foi um dos primeiros locais da cidade a ter escada rolante, e é impossível imaginar a grande expectativa das pessoas em torno de um invento como esse. Nos primeiros dias de operação as filas eram enormes para poder usar aquele presente da tecnologia, uma escada em que não se precisasse fazer esforço para subi-la.
E ali estava, sentado em seu banco marrom, olhando para os rostos das pessoas e para os reflexos dos rostos delas, nos vidros das janelas, sugando o que podia sugar do privilégio de ser indivíduo. As pessoas se entreolhavam sem parar, os seus olhos não paravam quietos. Em poucos minutos obtinha-se uma impressão completa de grande parte das pessoas que estavam no vagão.
Do seu lado não havia ninguém. Estava até vazio para aquele horário. Esperava que nas próximas estações mais gente haveria de se sentar, talvez ao seu lado. E tendo analisado involuntariamente cada pessoa próxima, por um momento viu-se sozinho e lembrou-se daquela música que compusera mentalmente. A música tinha um som de uma flauta e combinava com o apito do metrô quando chegava a uma estação. Mas foi intrrompido:
- Com licença.
- Ah sim. Deixou que uma moça sentasse ao seu lado.
Estranho, ela carregava consigo um caderno, e assim que sentou começou já a fazer anotações. Que palavras estará escrevendo? Ficara curioso e passou a esticar um pouco o pescoço, de modo a tentar ler suas frases. Sua cabeça quase invadia o espaço individual de ar reservado para aquele assento. Isso era perigoso. Sua visão não era boa e seu interesse por ler aquilo diminuía a cada instante em que olhava para o rosto lindo e alvo da moça. A inicial vã curiosidade, na verdade, em poucos segundos transformou-se numa vontade inexplicável de ver-se percebido por ela, que apesar de compenetrada no assunto que escrevia, não deixou de perceber os olhares para o seu caderno. Ela hesitou um pouco em responder com um outro olhar, afinal ele não tinha caderno, não era a mesma coisa olhar de volta a seus olhos.
Foi sem querer, entretanto, que desviou uma olhada rápida para ele, mas logo se envergonhou e virou o rosto. Alberto não conseguiu mais pensar em nada, e tentou segurar uma palavra que já escapara muito antes que pudesse tê-la evitado:
- Oi. - O sorriso custou a sair.
- Oi. - Respondeu.
Uma saudação curta, mas que não poderia transbordar mais sentimento, dada a frieza daqueles dois corpos. Aquilo não deveria jamais ter acontecido, era um deslize grave, um engano. Deveriam sim ter ficado apenas nos olhares como se faz normalmente todos os dias. E imediatamente perceberam a tragédia. Estavam apaixonados, amarrados, ligados para sempre, mesmo que nunca mais se encontrassem, porque sentimento não tem nem precisa de memória. Não! Não em plena atualidade dos homens passantes e bem protegidos. Deixar escapar um erro desses era imperdoável, um aprofundamento inconveniente do mistério da vida.
Podia tê-la conhecido e se apaixonado num lugar em que era permitido, numa festa, num bar com os amigos, não no metrô, nesses lugares dedicados à rotina de cada dia, isso era definitivamente um engano, uma atitude infâme. A sociedade é muito mais restritiva do que se imagina. Ele não podia ficar parado, tinha de corrigir.
Tentaria se redimir do erro levantando de seu banco e descendo na próxima estação. De certo o faria, contanto que não se despedisse. Não lhe daria nem mais um olhar, não daria mais chances. Era a única oportunidade que tinha de impedir um eventual reconhecimento num outro lugar, numa outra hora, nesses momentos em que qualquer que seja a probabilidade certos eventos sempre ocorrem. Aí sim estariam perdidos.
Desceria na próxima estação onde descansaria um pouco. Ali sim poderia sonhar com o amor que perdeu, com o rosto lindo daquela moça. Antes pudesse ver o amor distante, ,enfeitá-lo, e então se arrepender de não tê-lo vivido, do que vivê-lo, apenas vivê-lo e nem pensar nisso.
O som se inicia e abrem-se as portas, ele tão compenetrado em fugir, mal ouve o pedido dela:
- Com licença, eu desço nesta estação.
E agora? Ele não havia pensado nessa hipótese, não estava preparado. Simplesmente não tinha resposta alguma. E, por acaso deveria ter? A moça insistiu:
- Licença moço.
Alberto não podia descer com ela. Se ela fez o contrário que pensava, ele deveria fazer o contrário do contrário, já que deveriam se separar. No entanto ouve um som finíssimo, quase imperceptível. Mas que depois de ter sentido profundamente tanto amor em seu peito, mais do que sentiu em toda sua vida, entendeu tudo, tudo o que a fala dizia:
- Tchau. Disse ela quase não pronunciando o “u”.
Mais uma vez, ele sente um impulso incontrolável, afastando-o ainda mais da razão:
- Espere, eu vou com você.
Com você? Não bastava o desastre que fizera, agora a reconhecia como uma pessoa, uma pessoa mesmo. Bem, estava feito. Não havia volta. Ele, Alberto, e aquela moça, que se chamava Clara, desceram naquela e nas outras estações que ele tinha planejado passear. Dizia ela ter esquecido até para onde ia depois que conheceu Alberto, mas mais certa é a versão de que ela não iria a lugar nenhum e simplesmente não havia razão para ela ter tomado o metrô naquela hora, nem para ter pegado seu caderno e começado a escrever do lado dele.

Thursday, July 13, 2006

poesia cotidiana


Hoje, comi uma coxinha,

Estava muito boa

Tinha muita carne

E me caiu muito bem

Para que o dia fosse feliz

Só faltou pimenta

Sempre a pimenta

Monday, July 10, 2006

A beleza e a capitulação

A desistência e a rendição são subvalorizadas.
Esse pensamento lembra-me de um documentário que vi quando um ex-general americano da segunda guerra mundial contava sobre a época da rendição das tropas alemãs, em que encontrara um general alemão e recebeu dele uma arma de presente. Este último, ao apresentar a rendição de seus soldados, teria dito a ele que a pistola a qual lhe estava dando de presente nunca dera um único disparo se quer, e era o símbolo de como qualquer conflito deveria terminar. Nenhum de seus soldados morreram e todos puderam voltar as suas famílias.

Admiro a coragem mais do que qualquer virtude. Desistir por vezes é uma covardia. Mas naquelas vezes em que desistir é se recusar a participar de um jogo estúpido, e se servir para esvaziar de legitimidade uma postura desumana, digam que sou anti-herói, digam que fujo da vida. Sei que no fundo é lá que me aproximo de viver, porque viver é ter coragem, é capitular.

Friday, July 07, 2006

Meus planos não tão nobres.

Saiu hoje o resultado de um concurso literário o qual tinha inscrito um texto de ficção. Como era de se esperar de um escritor iniciante ridículo e infâme como eu meu texto não foi nem selecionado.
Reparem que quando digo infâme e ridículo falo com uma enorme sinceridade de mim mesmo. convivo muito bem com isso tirando os socos que dou no ar de vez em quando.

Há outras coisas que me deixam triste de verdade. mesmo essas eu aceito com um sorriso trêmulo mas cordial.

No concurso do ano que vem verei se inscrevo umas poesias para variar um pouco. Mesmo nos fracassos há de se sair da rotina.

E que "ninguém me dê piedosas intenções, ninguém me diga vem por aqui".

Tuesday, July 04, 2006

Os excessos de nosso mundo (culinário)

Acho infundado esse fanatismo por chocolate. Chocolate é bom, eu entendo e não discuto. Mas esses dias estava num aniversário e serviram um bolo de chocolate com chocolate demais. Não dá. Alguém há de dizer a essas pessoas que por mais que todo mundo goste de chocolate, se colocarmos demais o bolo fica com gosto de chocolate em pó, nescau, toddy.

Mas nosso mundo é assim, quando gostamos de algo temos que enxarcar a vida disso senão não estamos aproveitando corretamente e então nos queimam em fogueiras.

Vá ao mercado municipal e peça aquele sanduiche inescrupuloso de mortadela. A mesma coisa. Alguém tem de dizer isso, alguém tem de levar a fama de cri cri: aquilo lá é um exagero.

Sunday, July 02, 2006

Tempo Livre.

Aproveitei o tempo livre para mudar de blog. Este parece-me mais legal.
Quem estiver lendo pela primeira vez, que seja bem vindo.

Eu não vou falar da Copa do Mundo não. Pelo menos não hoje.
Esperarei passar o domingo até que me venha algo a cabeça.

eu.

o fim.

acabaram-se minhas provas. volto a escrever após uma noite de sono.

comentário autobiográfico

Senti que o velho Diogo de sempre volta de vez em quando pra dar palpite em uma ou outra besteira da vida. Eu acato salutarmente.

Nos últimos dias fui tentado a escrever toda sorte de coisas agradáveis, politicamente utópicas, intimamente revolucionárias. À minha maneira sempre, ou à de um velho Diogo não tão melodramático.

Às vezes é bom aceitar que certo romantismo com as coisas não faz mal. Seja o que for, até para passar por sonhador, ou alguma palavra que se aproxima a isso e não me vêm à cabeça. Sonhador não é a palavra correta, nunca é, porque sugere neblina, fumaça.

Sobre a abstração na política

há de se separar política de políticagem. Assim como a desigualdade entre os homens e o não reconhecimento formal dessa desigualdade no dever de isonomia do Estado.

precisamos perceber que uma coisa é a representação do nosso sistema democrático burguês, claramente uma abstração, algo que fica no plano das idéias. à outra é a realidade empírica desse sistema. Ninguém vai negar que a distância entre um e outro é do tamanho do universo, mas não é só isso. Essa representação torna-se um artifício retórico para impedir que mudanças estruturais ocorram e possam limitar os vícios do sistema real.

A idéia então toma vida própria e sai por aí justificando o que existe, mesmo que seja injusto e vicioso. É por isso que há tantas dificuldades em formular formas alternativas de participação política. Ronda sempre o perigo da destruição dos valores democráticos, que são realmente o que de mais valoroso se fez na humanidade. Mas que mau ofício a que se presta! Defender a realidade exploradora!

Poema - 3

é antigo. de uns 2 anos atrás. Interpretem como bem lhes aprouver.

Cirurgia Plástica

Quis certa vez, e queria hoje
Que uma borboleta pousasse
Bem na ponta do meu nariz

Assim alguém poderia tirar uma foto
para eu botar num quadro, emoldurado
Colocaria na Internet, talvez
Minha imagem ficaria ótima

Pareceria mais jovem
Alegre, amigo, despreocupado,
E de certo esconderia deles um pouco de mim

A fotografia teria a graça,
A leveza de um dia ensolarado
E também mistério
A benção de um ser escolhido...
Puxa! Como eu queria, deus,
Que uma borboleta pousasse
Bem na ponta do meu nariz

E então eu olharia para ela vesgo
Rindo, rindo incontrolavelmente
E tudo isso sairia na foto
Como se aqueles poucos segundos
Fossem o ápice da minha felicidade
E seriam, essa seria a minha fotografia!
Aquela que só eu teria, finalmente a encontrara

Faria com ela o diabo
Eu a colocaria em preto e branco
Em tons de amarelo, azul, verde
Deixaria embaçada, escura , brilhante
E mandaria imprimir milhares delas
Para entregar a todos que me conhecessem
E eles me invejariam, dizendo que talvez no fim da tarde
Pediriam a deus para que isso acontecesse a eles

Ah como eu queria,
Mas como eu queria
Que uma borboleta pousasse agora
Bem na ponta do meu nariz

Mas ela nunca vai conseguir
Meu nariz é pontudo demais

PCC

Colocar o crime organizado como produto da exclusão social é um equívoco. Também é um engano ver organizações criminosas como preenchimentos de um vazio deixado pelo Estado. Costuma-se usar a exclusão como um coringa, que explicaria todas as mazelas do Brasil. é preciso haver cuidado no uso desses conceitos.

Itália, Russia, Japão são países com um crime organizado mundialmente reconhecido: o japão tem uma ótima distribuição de renda, a rússia é um ex-pais socialista, e a itália no século XX consolidou sua reforma agrária.

Quem relaciona crime organizado com os movimentos de resistência, como a intifada, está fazendo um dos raciocínios mais absurdos que se pode fazer. afinal, o PCC não apresenta alternativa política e inclusive se mistura com os políticos do status quo.

O crime organizado surge quando há viabilidade econômica e permissividade nas leis, impunidade. Não tem nada a ver com exclusao social.

Exclusão social pode até gerar crime, mas daí a ele se tornar organizado é outra história.

continuidade dos serviços públicos?

As empresas de ônibus de são paulo não poderiam ter retirado seus ônibus de circulação. Não importa que haja risco de perder o patrimônio. O contrato administrativo é bem claro em sempre assegurar a continuidade dos serviços públicos. Se estava ocorrendo incêndios e destruição de ônibus, as empresas deveriam continuar a operar nas linhas e a administração pública deveria indenizar as empresas mais tarde, se houvesse perdas patrimoniais.O que não podia ter acontecido era a cidade ter ficado ainda mais caótica, num momento em que isso não poderia acontecer. Esse foi um dos maiores absurdos que presenciamos no dia de hoje.

Do mesmo jeito que as pessoas desconfiam do pânico desproporcional da chamada classe média. Eu desconfio desses iconoclastas que teimam em dizer que a população não deveria ter ficado tão assustada com o ataque sistemático às autoridades de segurança pública.
Vamos refletir e ver que nada é tão puro assim quanto parece.

Falam da culpa dos boatos na disseminação do medo. é um equívoco. Boataria é comum nesses casos. Colocar a culpa disso nos boatos é um absurdo. A partir do momento que vc não consegue chegar ao trabalho por causa de uma ineficiência das autoridades em garantir a sua chegada a ele, está aí um bom motivo para entrar em pânico.
Não me venham com classe média, com reacionarismo, conservadorismo, esses lugares-comuns usados para desqualificar a perplexidade de todos. Houve motivo para pânico sim. O motivo não foi a violência, mas a descontinuidade de serviços essenciais de transporte que prejudicaram não só as áreas dos ataques, mas toda a cidade.

Há outros equívocos, como o de dizer que crime organizado se combate com programas sociais e com educação. Mas isso é assunto para outro dia.

fabriquinha de comida

uUm amigo meu me levou num lugar que ele falava, onde havia uns salgadinhos muito bons e baratos, bastante frequentado pela juventude transviada de são paulo.
eu topei passar lá, e no caminho até o lugar ele me explicou que chamavam o point de "Fabriquinha de Comida".

dpois de ouvir esse nome eu mal podia mastigar direito a coxinha, muito boa por sinal, de tanto dar risada. Eu gargalhei dpois sobre isso por mais umas 3 horas, cada vez que eu lembrava do nome.

fabriquinha de comida é muito nada cool para o nome de um point em que se vai depois de baladas muito loucas na noite paulistana. Genial chamarem disso.

sobre a raiva e certos tipos humanos

Pô meu. Não escrevo há um tempo já.
São os testes, obrigações, etceteras da vida cotidiana.

Já falei aqui de uma raiva compressa de certos tipos de pessoas que tenho. às vezes me imagino dando uma marretada e amassando suas cabeças. Respondam rápido: isso é um traço histérico, neurastênico ou o quê?

mas vejam só, eu nunca conseguiria esmagar a cabeça de alguém, e a culpa é muito das minhas censuras pessoais, que bem ou mal, fazem-me um sujeito pacífico. Peço só para não subestimarem, no entanto, a força do pensamento.

É a única alternativa que tenho e que me evita de ser um louco. Loucura é o contrário do que se pensa.
Jung dizia para trazerem em seu consultório os sãos que ele os curaria. Loucos são os que vivem nesse mundo e não reclamam.

por fora, na vida prática, tento viver um equilíbrio para valer. dentro sou paradoxal. tenho meus paradoxos bem encaixadinhos uns com os outros e sempre tiro um da cabeça para enfiar minhocas na cabeça de alguém mais lúcido. aí falam-me as vezes que o que eu digo está errado, como se só eles, centro do mundo, soubessem disso. Alguns deles gostam de mim porque eu falo de meus próprios paradoxos e pensamentos, sem medo. Com essas pessoas eu sou tolerante.

Outras simplesmente não me entendem, ou me entendem de forma oposta. Estão num nivel de vegetação e pastagem que "dentro", não existe mais para elas. E quando dizem que existe, estão mentindo. São seres absolutamente absurdos. Não se curvam para nenhum mistério, usam a subjetividade que não têm para justificar posicionamentos pró superficialidade. Usam da subjetividade que não têm para dizer que sua superficialidade é, na verdade, profunda. Alienan-se de um conhecimento e da grandeza da humanidade de tal forma, que de humano neles não lhes resta nada. Não adianta que lhes expliquem, que lhes falem.
dá é vontade de vomitar-lhes insultos sem parar.
mas eu seria, nesse caso, legado ao ostracismo.

que sejam esmagadas suas cabeças, pois.

Afirmações Incontestáveis

a frase, ou pergunta, mais pronunciada na cidade de Nova York é "Does it have to be kosher?".
Em São Paulo certamente a pergunta mais pronunciada é "Desce a Cardeal?".

Podem conferir. Qualquer situação cabe perguntar se algo desce ou não a Cardeal.

o sábado e o domingo misturados.

Passei o dia de ontem com os amigos da "época" do colégio. São encontros marcados por nonsense e discussões bem interessantes. Os tenho como muito amigos, embora até se diga entre os antigos que a amizade verdadeira só possa existir entre indivíduos virtuosos.
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O domingo causa agradável repugnância com a constatação de que esses programas de TV afinal são ilhas de terra barata cercadas por mares vazios em todos os lados.

discussão: crime organizado/ tráfico

irei reproduzir aqui umas das discussões que tive, aí vão alguns aspectos teóricos que eu uso para entender melhor esse problema no Brasil. Talvez pareçam um pouco jogados esses argumentos, mas é pq eles foram colocados numa longa discussão. com tréplicads, réplicas, etc.
I)
1)O crime é um produto da desigualdade social, mas o crime ORGANIZADO é resultado de uma permissividade nas leis, uma mistura de impunidade com má redação das leis mesmo. Por isso que o crime organizado existe no japão, na rússia, existia na itália. paises com boa distribuição de renda. Dizem mto das semelhanças entre a máfia russa e o crime organizado brasileiro.
2) o crime organizado tem braços políticos e articulações com o status quo, eles elegem representantes, tem lobbys por todo brasil. é um erro enxergá-los como fora da dinâmica do Estado. Eles SÃO o Estado, por isso preenchem funções de Estado, e não são substitutos do estado brasileiro, são parte dele.
3) A luta de classes tem vínculo direto com a dinâmica de conflito e resistência dos modos de produção. Se o PCC não é resistência, ou melhor é uma forma bastante corrompida de resistência pq se alia à braços políticos do crime, ligadas a lavagem de dinheiro, com contas bancárias em paraísos fiscais, então ele não tem a ver com luta de classes. Assim eu não estou dizendo que o crime comum não tenha a ver, ele tem, pq faz parte de um ciclo de exclusão, que nao necessariamente desagua no crime organizado, na verdade, ele desagua na maioria das vezes em movimentos sociais e na criminalidade comum não organizada.
a presença do Estado, com seu corpo de leis bem constituído deve coibir o uso ilegítimo da força por essas organizações, isso se quiser, se tudo já não estiver tão misturado com o crime, que seja impossivel essa empreitada.

II) na verdade chico, eu estou colocando outra perspectiva pro mesmo conjunto de evidências. Veja: se concebe-se o Estado como um corpo que deve servir antes de tudo o povo, o Estado brasileiro é bastante ineficaz, e portanto o crime organizado preenche essa lacuna deixada pelo Estado no sistema penitenciário.
O caso é que o Estado predominantemente não tem como finalidade o povo, principalmente o Estado Brasileiro. O Estado Brasileiro, predominantemente tem como sua finalidade principal a defesa da classe dominante e seus instrumentos de manutenção do estado de coisas. Não há como dizer que o Estado Brasileiro seja ineficaz nisso, dada a sustentação por décadas de uma insustentável desigualdade social.
O PCC então, é braço do Estado, de natureza igualmente opressora, e que sustenta, fora da cadeia esquemas de lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, usando capital de "investidores" da tríplice fronteira, ou seja, elites. Sem contar que diminui os custos de manutenção dos presos, usando dessas ações que vc mencionou. O Estado se confunde com o crime, pq é criminoso. A diferença é que formalmente apenas, o Estado tem o uso da força legitimado pela população.O crime é necessário, sem dúvida. Mas ele não se opoe ao Estado.
O crime organizado sempre foi uma forma de ascenção social, está lá, nos filmes de mafiosos. No brasil ocorre é o contrário. O "administrador" do tráfico fica lá fodido (sic) , faz uns bailes funks e mais nada, enquanto que o cara que está atrás dele, o peixe grande que aplica no tráfico e em títulos do tesouro brasileiro, ele sim está lá fazendo festas na TV. Nem no tráfico há ascenção social.

* o crime surge num contexto de desigualdade, mas ele se organiza num contexto de permissividade. è um problema da Natureza do Estado, o seu corpo jurídico serve a outros interesses. Não há oposição CrimeXEstado. eles são aliados, é uma relação simbiótica, interdependente.normalmente ve-se o crime organizado como o sintoma de uma doença (sendo o Estado !ineficaz" e a desigualdade social a doença e a febre o crime organizado) eu não vejo dessa forma, como expliquei. O crime faz parte da doença. A febre é a desigualdade, o sintoma.

III) o crime organizado é um desenvolvimento desse mecanismo perverso de manutenção do status quo.

Como que o poder polítco vem depois do poder economico se eu estou dizendo que membros da elite "investem" seu capital em mecanismo de lavagem de dinheiro e trafico de drogas? Não esqueça da economia política, como o poder economico e o politico estao entrelaçados.

como eu explico que 50 anos antes nao havia crime organizado? ora ora, a tecnologia era outra meu amigo. Existiam outras formas mais adequadas à epoca. O jogo do bicho era uma delas (e nao subestime o tamanho da industria da contravenção no sec XX), agora , a população aumenta , a panela de pressão eh maior e cada vez mais se usam de metodos mais criminosos para conseguir manter o estado de coisas da classe dominante.

e "fazer políticas sociais" não tem a ver com o desmantelamento de uma organização criminosa. Ela tem a ver com o combate dos sintomas, a desigualdade. é como tomar aqueles remédios para gripe em que vc baixa a febre mas continua gripado.
Criminosos são o Estado e o PCC, eles tem que ser combatidos, primeiro mudando o corpo do Estado, sua estrutura legal, jurídica. aí sim estamos combatendo a doença.

IV) o jovem pobre é soldadinho, é alimento humano, escudo, sim ele é, é lixo para as elites. Isso só prova o quanto o crime organizado é opressor para esses jovens, embora coloquem minhocas em suas cabeças. mas vc quer matar o sistema de inanição??? quer esperar ele morrer de velho??? Garanto a você que sempre sobrará gente para servir o crime organizado, há milhoes de lixos, de escudos, sempre disponíveis para se sacrificarem por aquilo que é a sua própria perdição, e da sua classe. Por isso tem que mudar a lógica, não apenas os resultados da lógica. A lógica está fortemente ligada as caracteristicas do estado moderno brasileiro, com suas instituições normas, costumes. Pode-se diminuir a desigualdade de renda, e o crime organizado só se refinará como se refinou na rússia.
o tráfico é um mecanismo de manutenção sim. ele inclusive, no RJ mantêm a maior parte do tempo o morro quietinho lá, sem dar um pio. porque com 1,5 milhoes de pessoas morando em favela já era pra ter estourado faz tempo.

O fato de metralharem bancos faz parte do espetáculo, as fachadas tem seguro. As perdas não alteram a rentabiliadade que os bancos apresentam a esses mesmos investidores que colocam lá, ou em restaurantes, hoteis o dinheiro sujo do tráfico.

e mudar a estrutura jurídica não tem nada a ver com colocar leis repressivas. apenas colocar leis inteligentes. Um exemplo é a lei que define a possibilidade de isolamento de grandes chefes do tráfico em cadeias de segurança máxima. a idéia é inspirada na lei italiana que permite à policia isolar os chefoes da máfia até que de tão isolados eles percam a liderança, tornando a organização mais vulnerável, forçando uma reestruturação rápida que facilitaria os serviços de inteligencia policial na localização de nucleos criminosos. A lei italiana define que o preso deve ficar isolado por tempo indefinido, até que perca a liderança, mas a lei brasileira define o prazo de um ano , que não é suficiente para o cara perder totalmente a liderança do grupo. então acontece q a lei é ineficiente.uma outra lei por exemplo seria uma que restringisse o envio de dinheiro a paraisos fiscais.

Não há tempo para escrever.

para escrever não há tempo
não que falte as horas do dia
não que não viva a vida lento
mas é essa eterna noite fria

demasiadamente complicado.

Chamar alguém para sair é tarefa nebulosa. Do momento em que vc vê ela como normal para aquele em que vc eleva a imagem dela e engana a si próprio, por motivos razoáveis ou não, tudo muda e torna-se mais dificil. São tantas as variáveis que interferem nisso que se alguém compreende essa totalidade complexa, está preparado para entender todo o resto das coisas inteligíveis do planeta. Em outras palavras, não tem muito jeito não, tem que ter sorte e muito estômago.

Por isso que eu clamo por ter acertado em algumas apostas e ter falado as palavras certas. Isso aprumado, já é meio caminho para afastar-me da temida solidão de nossos dias.

Algo a ver com o pessimismo.

*Hoje foi o dia em que reli muitas coisas que eu tinha guardadas escritas e achei um lixo. Tentei consertar um poema e não deu certo. reli o conto que tinha mandado para o concurso de contos do Estado de S. Paulo e vi que estava muito fraco. estava pensando também e descobri que muitas coisas que eu tinha planejado realizar no próximo mês deram errado.

Enfim, uma semana de otimismo antecipado deve sempre ser seguida de uma de pessimismo na hora certa. Eu já deveria saber.

*Somado a isso, gastei parte de meu salário em livros que eu terei tempo de ler somente daqui um tempo. Estou numa leitura que não acaba nunca de um livro de 800 páginas, e é constantemente interrompida pelas milhões de leituras obrigatórias da faculdade.

*Andava pelo MASP quando fui a abordado por um poeta que vendia seus próprios livros nas ruas. Inspirei me da solidariedade humana por um homem que dizia querer viver de poesia, que buscava temas para o que escrevia em todos os elementos da vida. O caso é que eu li todas as poesias dele e as achei horríveis.

*Uma moça a qual estava pensando e até já tinha lhe escrito um soneto bonitinho revelou-se uma bruxa estúpida, das tantas que já me deparei na vida.

*Li no jornal a notícia de que os líderes latino americanos estão se reunindo para consolidar a Alba (alternativa bolivariana para as américas). Fiquei triste por não ter conseguido me enstusiasmar.

*Pude ao menos jogar futebol com uns amigos e emprestar um bom livro para um moleque do prédio. Tomara que ele não derrube pão com manteiga nas páginas mais interessantes dele.

Vender Poste?

Um homem perguntou ao amigo no que investir nesses tempos de crise, em que a situação andava preta. Ele disse bem rápido

-Em momentos de crise, o negócio é comprar poste!
-Comprar poste?
-É, comprar poste!
-Porra, mas por que comprar poste?
-Pra revender, oras. Poste é uma coisa que alguém sempre vai querer comprar.
-ah é?
-Se é! E depois da crise, a tendência é de mais gente ainda querer ter um poste, aí o preço vai lá pro alto.
- Pois é.

Política 2.

Antes que comecem as especulações em vista do pleito presidencial, eu queria colocar uma coisa que eu acho essencial. O grosso dessa minha idéia foi publicada no jornal acadêmico da FEA-USP deste mês. Quem puder ler, confira.

O ponto especifico que eu quero tocar aqui diz respeito ao voto útil. Muito tem se especulado sobre ele devido aos últimos casos de corrupção. O voto útil é uma ferramenta que funciona mais ou menos assim: Você escolhe um candidato não por simpatia ou por afinidade ideológica, mas pq ele pode evitar que outro pior vença as eleições, ou que possa haver um outsider no jogo político, com a finalidade de botar medo nos coroneéis, tocar o caos nas expectativas deles. Ás vezes é algo não recomendável, pois é um raciocínio que poderia levar a votarmos no Maluf de vez em quando. No nosso contexto, no entanto, o voto útil é indispensável.

Vale avisar que voto útil é coisa pra maluco, pq em vez de votar em quem vc quer vc vota de acordo com uma suposta racionalidade.
O certo é votar em quem vc quer. Os políticos sabem disso, por isso se aproveitam da nossa previsibilidade. Eles, com razão, não confiam na hipótese de sermos lúcidos. Eles acham que nós somos marionetes deles. O voto útil existe para invertermos esta situação.

Muitos dizem que o voto útil é o voto nulo. Eu não concordo. O voto nulo é inútil por definição. Ele pode no máximo, preocupar políticos, mas para fazer eles sentirem a voz da população seria melhor eles sentissem uma divisão mais equitativa dos votos válidos.

Neste cenário o voto útil vem a ser a escolha de um candidato que vá acirrar a competição partidária e evitar conluio entre outros partidos, forçando a discutir as propostas e a mostrar resultados mais rapidamente nos governos.

. Hoje temos o PT e PSDB como opostos, algo absolutamente irreal. Alguns partidos ou vão para o lado do PT , ou do PSDB, mas o maior deles, PMDB, vai para o lado dos dois. Conclusão: os dois partidos "opostos" terminam com a mesma configuração de poder, porque ainda que mude um ou outro ministério, a base de poder de ambos explora as richas PMDBistas para poder governar, fazem comcessões ideológicas que tornam os dois partidos "opostos" muito menos diferentes do que se imagina. Ambos os partidos se utilizam da mesma estrutura de poder.

Democracia pressupões alternância de poder. Se não há alternância, é melhor revisarmos em quem estamos votando.
Por isso o voto útil tem que quebrar este ciclo que mantêm tal estrutura de poder, uma estrutura bastante ineficiente e degenerada. Temos, pois, que apoiar o projeto de autonomia do PMDB e o fortalecimento do PDT (e demais oposicionistas de esquerda). Uma candidatura diferente do Garotinho (que num segundo turno apoiaria lula e juntaria o PT ao PMDB, mantendo a velha estrutura), seria perfeita para um projeto alternativo de poder, só aí já teríamos três ( e a tendência seria cada um se delimitar mais e mais). Um candidato como Cristovam Buarque ou o senador Jefferson Perez (um dos melhores políticos da atualidade, na minha opinião) , do PDT, recebendo uma quantidade significativa de votos, obrigaria o partido governista a ficar de olho aberto em várias frentes, pois teria alguns tipos de oposição, muito dispostas a fiscalizar e criticar o governo, desta vez com a força que uma votação expressiva lhes dera simbolicamente.

Para haver pluralismo não basta haver uma oposição, tem de haver muitas oposições, e isso é que o voto útil pode nos dar: Um Pluripartidarismo efetivo.

Haveria, portanto, uma mudança significativa na estrutura de poder de um governo eleito. Um voto que a promovesse seria mais do que útil.

este texto merece algumas correções mais tarde.

Alguns Assuntos

Vocês já devem ter ouvido falar daquele golpe em que criminosos ligam para telefones de classe média para aterrorizar/extorquir dinheiro. Eles dizem que estão sequestrando tal familiar, que estão com a arma em sua cabeça, é algo bem cinematográfico. Aí fazem essa pessoa no telefone acreditar e pagar um resgate de um sequestro que nem aconteceu.

Isso sinceramente eu não acreditaria pq eu sei no meu íntimo que minha vida tem sido uma sequência de situações vegetativas. Ser sequestrado... Muito Improvável acontecer isso. Iria contra o projeto que os deuses têm pra mim, contra minha identidade. Eu nasci e colocaram na minha testa um código que me coloca sempre nas situações menos movimentadas da vida, para bem ou para mal.

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Eu acordei hoje entendendo mais as mulheres. Que afirmação mais pretenciosa! Quando abri meus olhos estava com um pensamento na cabeça que dizia que quando as mulheres arranjam piores namorados do que esperam é porque elas ficam exigentes em qualidades externas a de um bom namorado.

Por exemplo, ela começa a refinar suas escolhas para homens que tem ótimas habilidades na a conquista inicial (digo conquista inicial para diferenciar da conquista permanente, essencial na relação amorosa e diferente dessa outra que só é usada nos primeiros encontros).
A mensagem que ela passa ao público masculino é essa: "invista em conquista inicial e será um dos eleitos". Como é muito custoso para aqueles que não tem muitas habilidades de conquista inicial entrarem na briga pela menina, a competição masculina é restringida a uns poucos que embora sejam bons conquistadores iniciais, não necessariamente são boas pessoas em si. A mulher então, entre os poucos candidatos, vai escolher a melhor pessoa (num prazo que varia, entrando até a possibilidade de traição com outros competidores) que está muito longe de ser o que seria a melhor pessoa se a competição fosse também aberta aos não-conquistadores (pois se os incluísse a competição seria maior, e a probabilidade de achar um bom namorado/marido). Resultado: a mulher que procura a "pegada" está mais propensa a ter namorados ruins, maridos ruins.
Uma solução para as mulheres que se acham azaradas por não acharem o homem ideal é que deveriam lutar para diminuir os custos de transação para usar um termo econômico. Vou elencar 5 medidas e depois me digam se não funciona:

1) tirar a exigência de uma boa conquista inicial e abrir a concorrência para os não tão bons nisso
2) participar de grupos diferenciados de amigos
3) tornar-se mais acessível para conversas e convites, em vez de manter-se no Olimpo
4) criar uma certa rede de relacionamentos que dê corretas informações sobre cada um dos concorrentes. Não utilizar-se das amigas fofoqueiras ou amigos de concorrentes pois eles piorariam a assimetria de informações. Poucas pessoas idôneas com uma boa cabeça e julgamento que se possa confiar.
5) Estabelecer regras claras a todos os concorrentes, de tratamento, limites para a privacidade, para insistência e para o não comprometimento.

Isso iria me favorecer bastante, até porque sou uma boa pessoa. Mas aí é aquela discussão, se afinal a ciência existiria como um instrumento a serviço de algum grupo particular.
Acho que não. =)

Eu tirei essa idéia depois de estudar como funcionavam os grupos de mercadores, caravanas na europa , eu não vou explicar tudo.

legal né...
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Minhas homenagens à memória de Telê Santana.

Poema - 2

Colocarei pela primeira vez um poema meu que gosto, gosto mesmo de ler. Principalmente a última estrofe. O fato de eu gostar não quer dizer que o poema seja bom , na verdade, tem alguns defeitos que eu sempre mudo aqui ou mudo ali cada vez que leio, exceto pela última estrofe. (desde que postei aqui, o poema já foi mudado).

Solidão Induzida

Um banco de cimento, enquanto passava,
disse-me com os olhos secos, da secura que era o dia:
“sente aí, faça uma companhia homem!”
sentei-me afinal

havia nele o anúncio da velha padaria,
a que fechou para abrir uma farmácia no lugar

então fiquei sozinho, enquanto passavam os homens
e acabava o dia estupidamente
Silenciei-me, apreciei a solidão, tolo que sou
e logo conclui que não servia era para nada
só para ficar olhando, para silenciar

Não sirvo nem nunca servi, esse é meu lema
e quem não serve certa hora deixa de existir
É o orgulho e dignidade que ninguém quer ter
Desaparecer, ofuscar-se pela luz do céu
misturar-se entre os bancos velhos, arruinar-se com a cidade

e por isso sou odiado pelos outros
há os apáticos, há os agitados
Eu sou a ruína, e mantenho-me firme como ruína,
sou maior, subsisto, irrito os homens úteis,
que duram apenas o quanto existem
que tudo precisam aproveitar
Querem ter certeza de que são
Servem para tudo, e servos são

Eu, senhor de mim, reino na praça
E só os bancos, solitários na mesma medida
Reconhecem minha majestade
A despeito da minha formidável indigência
E das minhas lágrimas desimportantes
Porque foram os bancos a primeiro chorar quando eu nasci
E a lamentar minhas feridas da alma
Porque fora o tempo dos bancos, das praças, de mim
Dos reis, dos senhores de si, dos livres!
O tempo é dos servos, dos felizes
E os felizes não nos suportam

Política.

Vejam só, estava nessas conversas de bar, que a maioria das pessoas acha legal e tal.

De repente surgiu a pergunta de porque que a população tinha a intenção de votar no Lula, mesmo depois dos escândalos. Essas perguntas que saem no jornal, quando o Carlos Lacerda pula do túmulo para escrever artigos.

Eu disse que poderia explicar aquilo com duas coisas: a primeira é que o lula ocupa um espaço no imaginário popular brasileiro, e a maioria (pois que se identifica com esse imaginário) não consegue odiar aquele sapinho barbudinho. A história dele parece que foi escrita num cordel.
A outra é que talvez o governo dele não seja assim tão ruim - pode até não ser bom o suficiente, mas para padrões brasileiros está a mesma porcaria.
A renda real do camarada q ganha salário mínimo aumentou, e isso no nordeste é mais que motivo para se votar em alguém.

Aí saiu na revista época um quadro que explica qual o perfil do eleitor do lula. Lula ganha de lavada nos estados do norte e nordeste, e perde, ou há empate técnico nas outras regiões; ganha entre os pobres; perde entre os ricos; ganha entre os menos educados; perde entre os mais educados. é só olhar na edição desta semana.

Além das abordagens meio elitistas que possam vir na interpretação desses fatos vale lembrar que como o Brasil não tem crescido economicamente, uma alteração na renda real da classe mais baixa vai teoricamente implicar numa diminuição da renda real das classes média e média alta . Está explicado porque ricos e bem educados não votam no lula: estão comendo sua parte da renda nacional! Eles estão é certos.

No fim, tudo é interesse.

O anticristo

O post será breve em razão do feriado.

Bem, sexta feira santa, toda aquela coisa de não comer carne.

ótimo.

Fui num restaurante próximo ao parque antártica, onde estava ocorrendo uma festa evangelica, renascer com cristo, algo do gênero. No restaurante entra um grupo de pastores, reconheci-os pelas roupas, com 90% de certeza (é aí, nesses 10%, que me chamam de preconceituoso).

Estou lá eu comendo meu bacalhau, quando um dos pastores passa no buffet, vai até a grelha de churrasco, e pega um prato inteiro SÓ de picanha.

Eu sinceramente não quero parecer dramático, mas não é que ele pegou carne e outras coisas junto. Ele pegou SÓ picanha. Foi engraçado.

Conclui que o pastor estava querendo desafiar os costumes religiosos bravamente, assim como aquele que deu um golpe de kung fu na Virgem Maria. Vai saber.

Mas pensei melhor, e vai ver ele não fez itencionalmente.

Eu tinha um familiar que era ateu e mesmo assim pensou em investir numa dessas igrejas petencostais, ser pastor. Ele não via muita contradição nisso. Vai ver é até prática comum e eu não sei. O ateu estava lá, de pastor, e foi almoçar. Que que tem de mal em comer carne?

Roteiro

Alguns dos que lêem este blog sabem que eu também escrevo roteiros para filmes de curta metragem. A tombo filmes já é quase consagrada e tal, tem filmes exibidos. Hoje colocarei um pedaço de um dos diálogos que escrevi hoje. Não vou explicara história inteira, pq só vendo o filme mesmo.

DELEGADO
Me ajude aqui Manuel, você que colocou tudo a perder, carrega esta caixa aqui (dá uma caixa para ele carregar)

MANUEL
Que nós vamos fazer ,chefe?

DELEGADO
Chefe... você é meu capanga agora? Eu não sou seu chefe, sou o delegado, você é um atorzinho que nem na revista Caras nunca saiu

MANUEL
Sai sim, na parte de flagras.

DELEGADO
Apareceu sua calcinha na foto?

MANUEL
Não, eu apareci um pouco de relance assim, do lado da Ângela que estava com o vestido decotado

DELEGADO
Ela era um pitel, não é?

MANUEL
Ô... mas nós enfiamos a faca nela! HEHE

DELEGADO
SHHH! Cale a boca. Chegamos no apartamento dele.

MANUEL
Que nós fazemos agora, chefe?

DELEGADO
Chefe é a mãe, entendeu!? Agora, nós vamos colocar a caixa bem aqui na frente da porta dele e vamos tocar a campainha. Aí nós damos no pé.

Falando de Futebol

Eu sou um apaixonado por gol a gol. Gosto de jogar de todos os tipos e com todas as regras, principalmente em pequenas quadras de salão.

O gol a gol é uma das várias brincadeiras que usam os princípios do futebol mas não são propriamente futebol. Mesmo as pessoas mais fanáticas pelo jogo coletivo nem sempre encontram quorum suficiente, ou até ficam enjoadas do jogo usual. Para isso há uma série de outras brincadeiras, cada uma estimulando um fundamento diferente do futebol. Serve muito para o aprendizado dos muleques. Muito antes deles jogarem o jogo como é jogado, eles aprendem essas pequenas brincadeiras de chutar, driblar, dominar, cabecear ou fazer embaixadas. Por isso o futebol é tão praticado no Brasil. Não existem só jogos de futebol, e sim toda uma estrutura de outros jogos preparatórios que substituem perfeitamente os outros jogos com bola que usariam a mão, por exemplo, de modo a todas as brincadeiras infantis masculinas girarem em torno de um só objetivo: aprender a jogar futebol, não só o esporte, mas toda a ética presente nele.

O gol a gol explora dois fundamentos: o chute ao gol de longe (cobrança de tiros ao gol) e a defesa desses tiros, pois o o jogador tem sobrepostas as funções de atacante e goleiro. É bom para quem não está bem condicionado fisicamente e quer pegar o rítmo, porque não há a necessidade de correr. Eu observo algumas modalidades básicas de gol a gol, "tipos ideais" (para max weber se revirar no túmulo):

1) Free for all - os dois jogadores chutam, sem limite de força, distância e sem restrições quanto ao uso da mão com o objetivo de fazer os gols. Quando os dois adversários são muito competitivos, esse jogo pode se transformar num campeonato de quem acerta a bola mais forte na cara do outro, e por isso é pouco popular pela sua falta de regras que acabam por valorizar a força e não a técnica do indivíduo, transformando-se num jogo sem propósito. Três traves ou invasão do campo adversário resultam em um pênalti.
2) Na àrea, sem mãos - Os jogadores podem chutar sem limites de força, distância, podendo usar a mão somente fora da pequena àrea, resultando num pênalti (sanção) o uso da mão dentro da área, a invasão do campo adversário e a ocorrência de três bolas na trave. É a modalidade mais comum, e por sua vez mais equilibrada, visto que o objetivo do jogo acaba sendo encobrir o adversário, cavar um pênalti ou pegá-lo de surpresa.
3) Jogo café com leite. Há restrições quanto a potência, a distância, e a colocação dos chutes, sendo lícito o uso da mão na maioria das situações. A invasão do campo adversário resulta em pênatli. Essa modalidade é jogada por crianças, ou adultos versus crianças, de modo que se um adversário é muito baixo, não vale chutar no alto nem "à queima roupa" e assim por diante. A modalidade também é inaceitável após os treze anos, em que qualquer sinal de apreço a esse sistema resulta numa grave repressão do grupo, por ser considerada uma atitude afeminada e anti-esportiva.
4) Um toque. Os jogadores se deslocam no campo todo. Cada jogador tem apenas um toque e não é permitido o uso da mão em nenhuma hipótese, resultando em pênalti o uso dela. Na Cobrança do pênalti pode-se dar dois toques para defender, sendo um com a mão e outro com o pé. É modalidade que exige mais esperteza e noção espacial da parte dos jogadores, sendo impopular e de difícil assimilação entre os mais novos.

É fácil perceber como a brincadeiras de futebol prendem os muleques desde pequenos num determinado corpo de regras, mais ou menos maleáveis, nem excessivamente restritivas, nem excessivamente desreguladas, que definirão para sempre sua conduta e reputação predominante na prática do esporte. Isso é genial para quem lê um pouco de ciências sociais.

Eu gostaria muito de um dia poder explicar a minha visão sobre o futebol no Brasil . A ética futebolística é a mais perfeita e aplicável que existe, não sendo nem a mais pura nem a mais perversa. É simplesmente aquela que fez do brasileiro, onde se aplicou, o melhor do mundo e insuperável, inalcansável.

A Culpa de Não Ser Revolucionário

Vocês devem perceber ao lerem minhas besteiras aqui que meu estilo de escrever é até bastante comvencional. Convencional porque ele não vai além de uma certa lógica racional de escrever, isto é, eu não pretendo fazer aqui nada mais do que transmitir meus pensamentos para uma tela de computador. Escrever, para mim, sempre será um meio.

Não tomei uma posição estética, estilística ainda. Em alguns momentos, reconheço, bate uma certa culpa de não estar acompanhando uma suposta vanguarda, de não adotar os padrões correntes da literatura e da postura conhecida como transgressora.

Não vou dizer que não me aflige essa dura realidade. Não vou dizer que não seria muito cool saber escrever umas frases pós-modernas, descompromissadas e revolucionárias. Não vou dizer que não seria melhor eu demandar a destruição de tudo o que é "tradicional e bem estabelecido".

Às vezes eu até tento seguir esse paradigma, depois sinto-me ridículo.
É um olhar no espelho e se ver como alguns pseudo-transgressores dos anos sessenta, que depois viriam a moralmente virar a casaca.

"Como são uns caras de pau!", penso.
Eu não quero ser um cara de pau. Se minha velhice for bem perfumada com cheirinho de alfazema eu gostaria de pelo menos não danar essa vida de conforto, típica de um bunda-mole, para depois ficar me desdizendo com cara de idiota.

Creio sim ter alguma raiva cômica em estado embrionário (vide segunda parte do último post), contra a sociedade. Mas minha percepção do status quo é outra, diferente da usual. Não tenho raiva da Igreja, nem da autoridade, nem daqueles seres de espírito capitalista clássico (estrturas sólidas da realidade). Tenho raiva é de ouvir certas máximas de senso comum, como "temos que viver intensamente", "temos que viver cada momento", "não devemos nos arrepender de nada", "temos que mudar sempre" todos esses imperativos sobre o que deve ser e como se deve viver a vida, também me enraivece toda essa máscara que o mundo corporativo se coloca, essa coisa de fazer ioga e meditação budista depois de cortar 30% dos custos fixos da empresa, postura quase inversa da austeridade cruel (e repreensível) porém sincera dos antigos capitalistas. Em suma também, essa predisponibilidade geral para parasitar na sociedade. O stablishment é mais maleável do que imaginamos. Ele está nos pequenos detalhes irritantes da sociedade. É nisso que minha percepção se difere.

É triste ver que a transgressão vulgar não buscar romper os valores e posturas menos nobres e menos caracterizadoras do espírito humano. Ao contrário, elas contribuem para a sua afirmação. Então não é transgressão, é o contrário. Por vezes vejo martelarem numa mesma tecla, como se aquele assunto já não tivesse sido superado ou virado um algo estabelecido. É a forma mais perigosa de conservadorismo, quando ele se manifesta somente na forma de contestação.

Muitos podem estar vendo aqui um pedido de aos valores que o senso comum facilmente classificaria como conservadores, num raciocínio simples: "Se a contestação é conservadora, o conservador é a contestação. " No entanto, há um outro espaço além desses dois, no campo das idéias, que certamente já está reservado. Resta só saber se o futuro virá ou não.

Pesadelos Modernos

Cair de um abismo eternamente? Ser assaltado por ladrões?

Não é nada ter pesadelos como esses. Eu não os acho marcantes, eu nunca senti medo deles.

Vou dizer o que é pesadelo de verdade quando contar esse último que tive e que repetiu-se algumas vezes. Nele eu estou de frente a um caixa eletrônico e olho na tela um teclado virtual e a ordem para digitar minha senha. Digito, e logo vem a pergunta: "Qual sua frase preferida?" Respndo. Aí vem outra pergunta: "Qual suas duas letras preferidas?" Digito. "Qual sua comida preferida?" Digito. "Em que você está pensando AGORA?". Digito. A próxima tela: "O que é o que é, tem chapéu, mas não tem cabeça, tem boca mas não fala, tem asa mas não voa?". Penso... Digito: Bule. A tela agora mostra uma figura abstrata: "Você consegue reconhecer um cachorro neste figura?". Digito sim. "Porquê?". Ajoelho e começo a chorar. Grito em agonia: "eu só queria tirar 20 reais, eu só queria tirar 20 reais, Eu só queria tirar 20 reais!". O sonho se acaba.

Assustador, não?
Essa frase me martelou a cabeça o dia inteiro.

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Sonhos tem muitos aspectos engraçados. Têm aquela velha suspeita de que a vida não existe e somos apenas atores coadjuvantes de um sonho do pipoqueiro em frente a nossa casa. Uma vez contei dessa suspeita a um colega. E ele disse que viver a realidade e esse sonho seria a mesma coisa já que o sonho nos pareceria real da mesma forma. Eu discordei na hora e contei de um sonho bastante comum em que eu começava a dar socos e pontapés em todos os amigos da escola, de forma que eles faziam uma fila indiana para apanhar de mim que nem aquela cena dos zumbis da casa de áries no Cavaleiros do Zodíaco. O meu ponto era exatamente esse: Aquela era minha forma de agir padrão nos sonhos, visto a constante ocorrência dessa mesma cena várias vezes. Se estivéssemos participando de algum sonho ele certamente perceberia uma mudança de comportamento de minha parte. Por isso faria toda a diferença, eu seria outra pessoa, certamente com um ar maior de libertador, de herói.

Poema

Vivem dizendo que eu sou um pouco quieto, misterioso e que não gosto de conversar mais que um minuto ao telefone. Para abrandar esta minha imagem, vejam o meu lado mais estúpido e feliz neste poema que escrevi. É um poema bem simples de amor, desses que vêm por 1,99 junto com a revista caras. A idéia do poema é uma tentativa do sujeito aí do poema ( o termo eu lírico carrega uma empáfia insuportável às vezes) tentar convencer sua amada do sentimento de completude que traria-lhes o amor, se ela o correspondesse igualmente. Tenta em vão.

Mensagem direcionada a um (im)provável amor futuro

Vem cá, não ria
Olhe para mim
Escute,
Quero te falar que
Por você eu ia escrever
Um poema a cada dia
Sem cansar

Vem cá, deixe eu dizer
Que te amo imensamente
Que já não sou dono de mim
Sou teu, só teu
E não consigo parar de olhar
De olhar seus olhos
De vê-los me beijar

Vem cá, preste atenção
Cada dia me apego mais
Aos seus gestos, ao seu rosto
Minha alma é só alegria
E a vida, meu deus, a vida
Ela faz sentido!
E eu, que nunca o imaginei

Vem cá, dê-me a mão
Entenda que nada vence o amor
Nem a morte, nem o aluguel
Nós daremos um jeito
Eu juro, seremos um só
Acredite em mim

Vem cá, não, não chore
Amor assim é possível
Você verá!
Eu a farei feliz
Eu espremo minha alma
Sangro, ó sangria que não cessa
Que o amor prega peças na gente

Mas vem cá, não vá embora

"Porque meu dente dói? É tipo um ritual né?"

Os dois últimos textos acho que não chegaram aonde eu queria. Paciência.

Esses dias uma coisa que tem me atrapalhado foi eu ter extraído o siso. Aí algum espírito de porco vai perguntar: "O que têm a ver?". É.
É um incômodo, nada mais. e pensar incomodado ou é muito bom ou é muito ruim. No meu caso é muito ruim.

Agente se ilude achando que passa por essas dores, fases de conflito, por um motivo racional, como se fosse justificado nós tirarmos o dente bem numa determinada idade. Na verdade é tudo um resquício de um comportamento religioso arcaico que fala que chega uma hora que vc tem q sofrer muito. Não é a toa que quando passamos para a idade adulta vem uma série de provações, de desilusões. Porque tem q ser tudo junto? É para agente aprender alguns valores ué. Uns valores bem estúpidos, é verdade.

Nas comunidades primitivas, quando o rapaz ia chegando a idade adulta, tratavam de fazer um monte de cerimoniais. Em certas tribos da África, um grupo de meninos era jogado com apenas um mentor em uma floresta hostil por algumas semanas, e lá convivendo e sobrevivendo apenas do que podiam caçar. Parece reality show.
A diferença é que eles saiam de lá muito mais maduros e prontos para seguir os padrões ético-religiosos da tribo.

E também ninguém ganha, porque não há noção de individuo.
Felizmente eles não tem que depois ouvir palestras desses ganhadores de reality show, falando de ser empreendedor etc.

Outras tribos fazem nos ritos a troca de vestuário, de marcas, pinturas corporais. Fazem essa distinção estética entre grupos sócio-religiosos. (qualquer semelhança é mera coincidência)

Os ritos de maneira geral retratam uma cosmogonia. A passagem do caos para a ordem, que começa na morte e termina no renascimento.

No caso específico da passagem para a puberdade(q muitas vezes coincide com a passagem para uma sociedade secreta em certas tribos) observamos mais ou menos esse mecanismo: 1) primeiro há um afastamento da zona de conforto familiar, e o rapaz é mandado a um lugar hostil (simbolizando a morte de um velho estado, ou a regrassão a um estado embrionário) 2) os jovens candidatos sofrem provas e torturas diversas e são instruídos das tradições da tribo 3) a partir daí vem o renascimento: ou os iniciados recebem outros nomes, ou aprendem uma nova lingua.

Há fortes semelhanças coma nossa sociedade, embora ela seja dessacralizada. eu percebo quatro ritos pelos quais eu passei na adolescência quase sequenciais, são eles:

A Extração do Siso, O alistamento militar, O Vestibular e o Exame de motorista.

São coisas bastante marcantes na juventude. Todos lembram mais ou menos como passaram por isso, e o que aconteceu. O alistamento militar é o exemplo perfeito. todos acabam lembrando como foi quando pela primeira vez alguém, que não eram seus pais, nem os professores (ou seja, não ttem nenhuma preocupação em te educar) falou furioso com você. É uma lição de humildade. E o vestibular então? é conceitualmente um rito de passagem. Aprende-se até uma nova linguagem: A científica.

tentem achar outros traços de semelhança com os ritos sagrados. Para recapitular são eles: Segregação do meio familiar, colocação num lugar hostil -> provações e torturas -> renascimento e o aprendizado de uma nova linguagem, mudança de vestuário.

Trabalhador e Comandante

"Na Rua passa um operário. Como vai firme!". Sobe ao ônibus junto comigo e senta no banco perto do motorista. Seus sapatos são sujos de terra, sua barba é mal feita, sua camiseta está rasgada. "Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão." É apenas um homem comum. Eu passo de mochila nas costas, caderno na mão e ele diz. "Está voltando da faculdade, filho? Vai bem nos estudos?". Eu respondo que sim, que vou bem, graças a deus. Ele sabe que não os entenderemos nunca. Responde a mim: "Eu também, garaças a deus me formei engenheiro, hoje eu só comando". O operário não se banhou ao mar, nunca se banhará. Prometeram-lhe o futuro e depois o estapearam. Por isso ele nos despreza, por isso decidiu-se ser outra pessoa. "Não ouve, na Câmara dos deputados, o líder oposicionista vociferando". Está desiludido, só lhe resta a mentira. Dou um sorriso a ele, e não falo mais nada. Pago minha passagem e sento-me no banco. "Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorrisocada vez mais frio."
Chega a hora de descer, ele usa o cartão eletrônico para pagar a passagem. Não há crédito. Ele diz ao cobrador: "eu acabei de recarregar 49 reais aqui". O cobrador argumenta que não há dinheiro nenhum no cartão. Ele diz que foi engando. Ele diz que foi enganado!. E foi. Diz: "Terei que descer aqui mesmo então, e vou ter que voltar no posto para reclamar." Desce no ponto que havia de descer o operário, na ilusão que nunca o levou ao mar.

isso foi inspirado num acontecimento de hj e num poema, "o operário no mar" de carlos drummond de andrade. Lógico que no poema, há um sentido diferente para o operário, típico da época em que le foi escrito. Eu aqui tentei moldar um outro, sem deixar de reconhecer uma das percepções de drummond: a de que por mais que especulemos sobre o operário, nunca iremos entendê-lo.

Diálogo acerca da vingança da natureza

Na academia onde eu nado acontecem muitas coisas que valem a pena serem escritas, pode um dia até ficar repetitivo. Então para não ficar parecendo que eu treino profissionalmalmente (embora seja bom por criar aquela idealização da minha pessoa, tipo um poeta sem camisa), façam de conta que essa história aconteu, sei lá, numa feira livre. O que importa é que dessa única vez no diálogo não sou eu que jogo os pensamentos filosóficos inoportunos. puxei a conversa:

-opa, tudo bem?
- tudo...
- Pô, vc viu essa chuva aí?
- vi, vi . Começou desde madrugada não é?
- Desde as duas da manhã.
- Puxa vida.
- Esse pessoal que mora nos barracos é que deve estar sofrendo.
- é mesmo, chuva só é ruim por causa disso.
- (silêncio)
- eu digo, chuva é boa porque nos lembra essa força da natureza.
- é?
- é. lembra que nós não somos nada. tipo, que o homem não é nada.
- (silêncio) - pensei comigo: po, qdo eu vejo essa chuva e percebo que eu estou aquecido e assistindo TV, me dou conta de que o homem é tudo. tudo tudo. Mas pra que contrariar, só pra ser o chatão?
- (silêncio)
- é , o homem gosta de planejar as coisas e pensar que tem o controle do ambiente só para viver melhor consigo, mentalmente, mas na verdade não o tem.
- Isso mesmo cara, putz! (aponta o dedo como quem diz que eu tinha pegado a idéia principal)
- e no fim, estamos todos sujeitos a natureza.
- é. O dia que ela resolver se vingar...
- O jeito é cultivar nosso jardim e torcer.
- porque quando chegar a hora...
- salve-se quem puder

(foi então que percebi que corria o risco de ficar completando suas frases eternamente, e me despedi)

Somos como homens da idade média com medo do juízo final. E o pior é que nenhuma empresa poluidora vai nos indenizar por esses minutos de preocupação que dedicamos diariamente e inutilmente ao tema. Surge um novo paradigma:

"Acho que eu mesmo vou acabar me vingando delas antes que a natureza. Quem sabe assim ela goste e chova menos no caminho para a faculdade."

eu chamo isso de egoliticamente correto.

Miscelânea

* Deixe eu avisar antes que passe o tempo: Os assinantes ou leitores irregulares de Carta Capital poderão ter o desprazer de ler, na parte de cartas dos leitores, um comentário crítico meu sobre uma das matérias da mesma revista. É a revista que tem o Alckimin na capa.

* Uma das coisas que li hoje me causou uma reflexão interessante: Heródoto diferenciava o politeísmo grego do politeísmo indiano dizendo que neste último os deuses tinham forma humana e no outro natureza humana. Álvaro de Campos, Ricardo Reis, diziam, e eu passei a concordar que isso diferencia a Religiosidade Grega de todas as outras que já existiram. Para os gregos, os Deuses eram deuses sendo humanos (tendo inveja, traindo, amando), de forma que ser divino era ter natureza humana, falível. Já nas outras religiões, o humano se aproxima das divindades negando sua própria natureza, sendo não-humano, algo exageradamente bom, perfeito, ou, ao contrário, algo pretenciosamente imoral, mal.
Genial visto o quão, não mais a religião, mas as utopias humanitárias, sociais, nos afastam igualmente (e paradoxalmente?) dessa chamada natureza humana.
Misturando pensamentos de alguns filósofos, podemos dizer até que, com a dessacralização do mundo formou-se uma lacuna na mente das pessoas, facilmente preenchida por esses delírios humanitários e universalismos (materialismos tb) que tanto ferem o objetivismo absoluto dos sãos e o equilíbrio mental e corporal dos lúcidos a respeito da vida e da morte.

* Quebrando o gelo um pouco... Quer dizer, algo muito bom para amenizar essa reflexão dura sobre muitos dos preceitos que nós aprendemos a apoiar (não que eu queira isso sempre) é contar o diálogo entre um bêbado e uma senhora que eu presenciei:

- Olá senhora, como vai a família, sua filha , tudo bem?
- Tudo, tudo bem.
- Sua filha ainda está na Bahia,? porque a minha está;
- Não, minha filha é daqui mesmo.
- Ah, felicidades então pra você e para sua família. Eu tenho que ligar pra minha filha. Até mais.
- Até mais.

o diálogo, feito sem uma voz de bêbado, seria totalmente razoável. Vejam só como nossas mentes são perversas.

Telefones Grampeados

Nessas horas eu queria que meu telefone fosse grampeado. Imaginem aparecer esse diálogo no jornal nacional.

- Alô
- Alô, fala Diogo tudo certo?
- Fala (personagem não revelado). Tudo bem. E aí?
- Escuta, tive uma idéia de uma piada para fazermos em conjunto que eu vi na TV, tipo um combo.
- (risos) Legal. Conta aí.
- Nós esperamos uma situação em que todos nossos amigos estejam reunidos, tipo numa mesa, numa sala, tanto faz.
- Certo, e aí?
- Aí eu vou fazer um comentário assim: "Putz Diogão, eu ando meio preocupado com essa história de gripe do Frango e tal"
- (risos) Ahn.
- Aí você responde: "Nah! Não precisa se preocupar! Isso aí é só na Ásia!
- (risos)
- Aí eu respondo: "Ai não, justo a parte que eu mais gosto!"
- (risos)
- (risos)
- Muito boa! Vamos fazer!
- Então tá certo, está combinado.
- Ok. Vc me dá um toque quando o timing for conveniente.
- Ok
- Mais alguma coisa?
- Não, eu só liguei para dizer isso mesmo, senão ia esquecer;
- Ah tá. Falou então.
- Falou.

Sarcasmo Acadêmico

Alguns professores realmente sabem como decepcionar, esmagar a curiosidade intelectual dos alunos. Três situações que eu vivi são exemplos perfeitos. A primeira foi assim: O professor explicava Marx e de repente nos mostrou uma fórmula presente no terceiro livro d'O Capital. A fórmula mostrava matematicamente que a tendência das sociedades capitalistas era, a longo prazo, ter a taxa de lucro das empresas cada vez menor, quase zero. Ou seja, a fórmula nem diz isso exatamente, mas pareceu na hora que ela dizia que o capitalismo tendia a própria extinção.

Estávamos numa das primeiras aulas da faculdade. Todos em silêncio, boquiabertos. Imaginem, vc passa vida inteira imaginando como deve ser a faculdade e logo nas primeiras aulas mandam essa revelação bombástica. O conflito existencial é solucionado pelo professor, minutos depois de um largo silêncio: "Então, mas isso aí está errado né". Todos soltam a respiração.

O segundoa é simples: O professor no começo da aula e nos disse que éramos uma geração perdida. Ficamos sem reação. Aliás, uma evidência bastante convincente de que de fato éramos uma geração perdida.

Há um padrão nisso. Essas situações somente ocorrem nos primeiros dias de aula.

A Terceira e mais recente aconteceu da seguinte forma: O professor, mudando quase completamente de assunto disse: " O Keynes usou em toda sua Teoria Geral preços deflacionados pelo salário mínimo em homens/hora. Por exemplo, o PIB era calculado em termos de homens/hora trabalhadas. Ele simplesmente escolheu isso, não se sabe porque."
Este "não se sabe porque" deixou a sala apreensiva. Colocou algo de místico na sala. Keynes escolheu ao acaso, ou por alguma força divina, algum sonho que teve.

O professor, quieto observava a sala com uma cara de Oráculo.

Ele retomou a palavra, mudando de expressão: "Bem, na verdade ele teve um propósito sim em usar isso, mas eu demoraria um curso inteiro para explicar pra vocês". E voltou ao assunto em que estava anteriormente.

Entendi, É porque demoraria 6 meses.

Eu acho que esses comentários dos professores sempre carregam um pouco de sarcasmo.

A Rainha e o Retardamento Mental

Política brasileira é imprevisível. Uma vez eu tentei falar dela e errei tudo, como muitos profissionais especializados fazem.
Culpa, em parte, dessas malditas pesquisas que ficam nos desmentindo. Bom, e ai vc reclama da pesquisa e dizem que ela é científica e tal. Que que vc vai fazer contra a "ciência"?

Mais fácil é você criar uma teoria depois que saem as pesquisas. Aí, por mais idiota que seja sua conclusão, como ela justifica os números ela acaba dando pro gasto. Essa análise acham legal.
No jornal saiu que o presidente presidenciável tinha subido do nada nas pesquisas, e tinha ganho mais popularidade. O camarada atribuiu a subida nas pesquisas à viagem e a foto tirada do presidente na Inglaterra, com a Rainha ao lado. (a reportagem repara o possível impacto dessa foto no imaginário popular)

Tá...

se o cara se arriscasse a dizer isso antes das pesquisas serem divulgadas ele iria ser um idiota, iriam rir feio dele. Aliás, eu duvido que ele se arriscaria. Depois das pesquisas é fácil falar essas besteiras, elas explicam os números mesmo. Ninguém seria capaz de prevê-la.
Vai, quem sabe os coordenadores de campanha dos candidatos devam ter previsto esse impacto, mas só porque são filhos de satanás.

Eu não gosto de pensar que a população passou a gostar mais do presidente porque ele tirou uma foto com a Rainha da Inglaterra. Significa que o presidente é visto como um artista de TV e se ele aparece bem na caras, sua popularidade aumenta. Fica parecendo que o povo sofre de algum retardamento mental, autismo, não é?
Certas coisas eu tomo como dogmas, se não eu posso passar a defender o lado dos "caras do mal". Tipo isso: o povo sabe decidir melhor que ninguém seu caminho. Se eu disser que não sabe, aí eu não acredito mais em democracia. Eu não posso comprovar que sabe nem que não sabe. Certos momentos é quase impossível dizer que sabe, até porque no caminho muitas informações erradas atrapalham a melhor decisão. Mas é um dogma, portanto Credo quia Absurdum est (creio porque é absurdo).

Podem achar ingênuo. ingenuidade é franqueza, simplicidade, e falta de malícia, e isso olhando assim parece bom.

Racismo, Hermano

Eu nunca sei qual desodorante pegar na prateleira da farmácia. Há uns 15 tipos de cada marca, versão azul., pele sensível, pele áspera, sei lá. Como eu sempre vi essas variações como a mesma coisa, por engano acabei comprando um desodorante específico para pele negra. Ultimamente várias marcas de produtos para banho, essas coisas, lançaram linhas específicas para a população negra, vendo nela um mercado em expansão. Quando eu compro um Xampu para cabelos "ondulados", não é que eu saiba que meu cabelo é ondulado, da mesma forma que eu não sei precisar se meus dentes são sensíveis, ou se minha pele é seca. Eu não imagino como eu poderia saber disso. Com certeza deve ter gente que pode dizer uma coisa dessas sem a menor dúvida, mas eu não. Por analogia, fazendo total sentido, eu também não deveria ter certeza ao dizer que sou branco ou negro, mas essa distinção foi culturalmente disseminada, de modo que todos, de uma forma ou de outra sabem, ou pelo menos têm uma opinião definida sobre si mesmos. Por isso que essa sociedade não vai para frente. Imagine uma sociedade em que todo mundo fizesse caso por ter pele oleosa ou seca: para dizer o mínimo é uma estupidez.

Eu nunca comprara um desodrante que achasse eficaz no objetivo para o qual eu o tinha comprado. Talvez porque eu sue mais que o normal, não sei. Pela primeira vez, por incrível que pareça, logo este aí me deixou completamente satisfeito.

Pensando mais tarde em casa, cheguei a uma dupla conclusão: "Talvez esses industriais racistas tenham formulado o produto pensando: os negros suam mais, precisamos reforçar na matéria prima com eles". Fiquei indignado. Mas mesmo assim, na outra mão pensei: " talvez a minha própria inconsciência racista, derivada do meu background histórico, dos meus modelos mentais cultivados a partir de uma atmosfera de um país escravocrata, tenha me induzido a um juízo sobre o produto para pele negra, que ele havia sido mais eficiente.
É interessante pensar por esse lado. Eu me vi como um monstro reprimível. se não temos controle sobre nosso inconsciente, isso também pode ter acontecido à minha revelia. Fiquei dividido, afinal, é um tema delicadíssimo.

Para tentar sanar minha dúvida, fui à embalagem do desodorante tentar achar algo nas instruções que fosse condenável. Nada escrito, nenhuma fórmula específica, nenhum "fator alfa" "fator beta", que normalmente se colocam nos produtos para diferenciar um tipo do outro. Estava quase desolado, vendo-me um hipócrita, quando li em letras pequenas na parte inferior da embalagem os dizeres "Producto Argentino". Estufei meu peito aliviado, ironizando a mim mesmo, e gritei: "Argentinos filhos da...!".

Saiam já da piscina

Uma coisa que eu não entendo é essa mania de colocar dance music nas aulas de hidromassagem para pessoas idosas.

No lugar onde eu nado semanalmente há duas piscinas: Uma maior, que eu uso, e outra menor em que eu sempre vejo um grupo de 6, 7 anciãos mais um professor mexendo os braços ao som de algum hit do anos 90. Não tenho nada contra os anos 90, foram anos de uma euforia irresponsável. Mas numa piscina com espaguetes na mão, dançando Kool and The Gang, não era o lugar ideal que eu me imaginaria daqui uns 50 anos.
A minha idéia de uma pessoa velha, pode ser antiga, mas é aquela inspirada no meu avô, de ela ter lá a sua sabedoria e sempre estar contando alguma história a alguém mais jovem, com um humor implacável. Os jovens aprendem muito, quase sem querer, com o contato com pessoas mais velhas. Elas são fontes de bons e maus exepmlos ambulantes, sendo quase de graça conseguir essas informações.
Entretanto, há em curso uma mudança significativa dos costumes da sociedade. Esse contato vem diminuindo em razão de uma fé cada vez mais latente no dinamismo e na força da juventude (desde o século XX). Isso dos dois lados: os jovens procuram descartar os ensinamentos dos velhos pois eles são considerados obsoletos e caracterizam uma postura de aversão ao risco ( empresas que selecionam cada vez mais altos dirigentes muito jovens) e os velhos, que auto-excluem seus aprendizados em favor de uma sabedoria imediata, fexível e sintonizada com as exigências do mercado e dos meios de comunicação. A hidromassagem entra muito nessa parte pois ela começou a se popularizar devido a uma recente onda de "vida saudável", nacisismo, e de afinal aproveitar "a melhor idade" em vez de ficar em casa "parado", sem gastar a aposentadoria.
Muitos estão atraídos por essa idéia. Muitos ouvem a música dance e a acompanham (e talvez por isso essas músicas sejam usadas) como uma oportunidade de se alinharem com a juventude.

Mas isso também não quer dizer que eles percam aquela outra postura comum que se adquire coma velhice: aquela de não se impressionar com mais nada, de nada mais te deslumbrar. Por isso a expressão daqueles anciãos em exercício aeróbico é tão parada. "Estou no meio da água, com uma roupa de banho que no meu tempo seria considerada atentado ao pudor, dançando uma música constrangedora, em que não posso tirar ninguém para dançar propriamente, com espaguetes, bolas gigantes, boias terapêuticas na mão, e não estou nem aí" . Eles não mudaram,(pois o ser humano não muda). Entretanto, agora, tomando essa postura num lugar totalmente diferente e sufocante, perderam sua função primordial: esclarecer os mais jovens sobre a estupidez da vida.

Esta é a questão que nos é colocada: Até mesmo os velhos, conservadores quase que por natureza, tentam se adaptar numa sociedade flexível, imediata e ensurdecedora. A sociedade os recebeu como um mercado, e tratou de criar formas de fazê-los gastar suas aposentadorias. Sua conduta rabujenta continua, mas agora na aula moderna e saudável de hidromassagem. E enquanto fazem isso algum vácuo é deixado.
quem então há de contar histórias e dar exemplos às nossas crianças?

(faltam nesse texto algumas correções, desculpem a falta de tempo)

NivER dO DIiogO

Pela primeira vez eu pude o comemorar não comemorando. Foi lindo. Uma sensação de liberdade indescritível.

Não sei se alguém tem uma família como a minha que gosta de fazer estardalhaço com tudo. Quem tem sabe que quando eles não fazem estardalhaço é uma benção. Não ter um evento amplificado em 10x é o melhor presente de aniversário. Teve anos em que eu achava que ia ser assim também, mas fui surpreendido por uma festa surpresa, então dessa vez eu tentei me preparar emocionalmente, enxerguei certas conspirações onde não havia. A paranóia de ter ou não uma festa surpresa só acaba quando seu aniversário passa, é uma agonia mortal.

Eu acredito que ser presidente, chefe de estado de uma nação é como fazer aniversário todos os dias. Estão sempre te reverenciando e quando não estão, vc começa a desconfiar de que estão tramando alguma coisa. A tensão de ser presidente é semelhante a tensão de desconfiar 24 horas por dias, 365 dias por ano de que alguém em algum lugar pode de repente estar ligando para seus amigos para combinar uma festa surpresa.

Entra entao em seu gabinete escuro o estadista, esperando que quando ele vá acender as luses nada aconteça.

Eu não vou me alongar, mas só hoje eu pensei numas 15 semelhanças entre o aniversariante e o chefe de estado.

Também pensei numa fórmula economica para maximizar as a receita das cervejadas promovidas pelo centro acadêmico. Por eu estudar economia, isso é inevitável. A fórmula é a seguinte:

O preço corrente de uma cervejada é 10 reais por pessoa, open bar de cerveja. Ou então a fórmula de vender cada cerveja a um preço fixo, sem entrada.

A minha idéia é usar Tarifas Compartilhadas. Primeiro respondemos essas perguntas que nos caracterizarão a demanda (no caso universitários de classe média) :

1) qual o máximo que alguém, dentre toda a demanda, pagaria por uma cerveja, mesmo que seja só uma pessoa? (supomos, 4 reais)
2) que preço de cerveja todos aceitariam pagar, sem excessão (supomos 1 real)
3) quanto custa cada cerveja que os organizadores compram? (supomos 0,89 centavos -> itaipava)

Respondidas estas perguntas, temos as ferramentas para maximizamros a receita da cervejada.

Entra aí a pura teoria econômica.. A idéia por trás da fórmula, é capturar o excedente do consumidor, para isso temos de fazer com que quem possa pagar mais, pague mais, e quem possa pagar menos, pague menos, de forma que todos consumam e gastem o máximo que puderem, de acorod ocm seus preços de reserva.

dadas as suposições, Devemos cobrar uma entrada de 4 (com uma cerveja grátis ou não, dependendo se o publico ja tiver ido em outras festas e tiver sem dinheiro) reais e vendermos a cerveja a 1 real lá dentro e maximizaremos a receita. Isto é ganharemos mais dinheiro do que no caso de vender cada cerveja a um preço e de cobrar 10 reais por pessoa, open bar. A razão é muito simples: ao cobrarmos os dez reais de entrada, parte da demanda não irá na cervejada, se cobrarmos 2,00 por cerveja, parte da demanda comprará menos lastinhas q o normal.

Usando as tarifas compartilhadas eh a unica forma de fazermos os que já iriam na cervejada, gastarem mais que dez reais; cobrar a entrada daquela parte da demanda que gostaria de gastar menos que dez reais e também fazer aqueles que tomariam menos cervejas, consumir mais pagando a entrada.

A unico entrave seria o cálculo das despesas com caixas, fichas de cerveja que poderia tornar mais cara a organização da cervejada, diminuindo o lucro. Mas se as despesas forem minimizadas, o lucro poderá ser o maior possível.

(nenhum)

Este blog passa por uma crise. Mas garanto que é algo passageiro.

Uma das melhores coisas que você podia ter feito nesta semana era ter ido na palestra do Senador Eduardo Suplicy, na faculdade de economia, administração e contabilidade da Universidade de São Paulo. É uma pena, porque muito provavelmente você perdeu sua conhecida performance musical, cantando Blowin' in the Wind, seus comentários sobre seu filho Supla, e mais a interpretação genial de "Homem na Estrada", dos Racionais MC's.

Esperando a prévia reprovoção de vocês, vou escrever que de certa forma alguma idéia que ele disse me reanimou em relação à política. Mas não entendam como uma pieguice. Pelo menos ela enfraqueceu o ceticismo que eu adquiri quando entrei na faculdade, e isso me fez lembrar de uma velha idéia que tinha. Não era bem uma idéia. Era um objetivo de um dia poder crer na utopia sem ser ingênuo.

Devo um dia desses elaborar algo que ajude quanto a isso.
Como crer na utopia sem ser ingênuo, sem que a desilusão vá um dia nos desanimar por completo, fazer nós disistirmos?

Amanhã me empenharei em descrever um acontecimento que se passou. Na minha cabeça eu acho que tem algo a ver com essa idéia. Mas sei lá. Julguem vocês.

fama dinheiro e um site de quotations

A minha diversão (não é lá uma grande diversão) na internet é entrar nessas páginas de "quotations". São páginas com uma espécie de banco de dados de citações de qualquer personalidade, de qualquer autor.

A propósito, há uma citação de Winston Churchill que diz que é uma boa coisa para um homem ignorante possuir um livro de citações.
Talvez seja a única forma de ele captar pensamentos importantes sobre a vida sem gastar muito tempo.
Devem estar achando também que eu ao colocar essa frase e dizer que gosto de ler citações estou admitindo minha ignorância. É exatamente isso.

Hoje eu procurei as citações de Douglas Adams, autor de "o guia dos mochileiros das galáxias"(sou vergonhosamente ignorante quanto a esse livro, mas tenho muito interesse em saber dele). São extremamente engraçadas;
Elas falam sobre o universo, sobre o tempo, vida após a morte. Duas delas ficaram na minha cabeça no dia de hoje. A primeira diz (garanto a idéia, não as palavras exatas) que há uma teoria que diz que sempre que alguém descobre como explicar coisas importantes sobre o universo e o mistério da vida, ela imediatamente desaparece e é substituída por algo mais bizarro e inexplicável. E que há uma outra teroria que diz que isso já aconteceu.

é uma explicação para o fato do mundo desde que começou estar ficando cada vez mais ininteligível. E a tendência é piorar.

a outra frase me fez rir muito pelo raciocínio inusitado presente nela: Ela diz que voar significa tentar se jogar mirando no chão e errar.

É muito boa a definição.


Ps: tenho andado um pouco exausto e em outra oportunidade falarei sobre isso.

O mito do Churrasco

A sociedade ideal seria aquela em que cada pessoa pudesse fazer e ser aquilo que gosta e é melhor. Sem interpretar papeis, de pai, empregado, chefe, consumidor. Simples assim.

Tenho um amigo, por exemplo, que é bom em fazer churrasco. Hoje numa reunião de amigos tivemos certeza disso. Ele parece colocar uma ordem cósmica em tudo o que está na churrasqueira. De uma hora para outra, precisam ver, as carnes melhores e as piores, antes com algumas richas em questão (uma por ser boa demais para dividir a grelha com a outra, e a outra ressentida e raivosa com o desaforo), festejam em consonante harmonia a sua subordinação e resignação ao mago churrasqueiro. Se entregam de corpo e alma pelo bem comum.

E então, como numa atmosfera de mágica e fantasia, quando o churrasqueiro sai para jogar baralho, tudo aquilo que parecia lindo, brilhoso, bom de se ver, vai pelo ralo. Na mesma velocidade a churrasqueira perde tudo de sagrado que tinha, e vira caos, morte, destruição, retalhos de carne, linguiças deformadas.

Mas também nisso há um ciclo. Os cidadãos amantes de churrasco, inconformados com a profanação de sua cultura , pedem urgentemente a volta aos valores tradicionais. o Conservadorismo é a caracteristica que impera. Não é mais possível tolerar a deturpação de tais valores tão importantes às gerações. Mas e se não tiver mais volta? e se for o fim de tudo? Estaremos condenados eternamente aos pedaços de picanha que de tão modestos e nada macios parecem de contra-filé?

Eis que se ouve, sombria e fofa, o som das pegadas do Salvador. Os trovões caem dos céus e reacendem a brasa que arde em nossas almas, e também o carvão. As flores desabrocham! as carnes se rearranjam! Os passaros cantam e são os arautos da boa nova! Os homens se curvam diante do grande MIstério, e choram de felicidade! Tomados por uma alegria incomensurável, põe-se a dançar e a festejar o renascimento, a festa da vida!

Pois não haveria vida, sem morte.

Entoam ao Salvador com um tapinhas nas costas:

- Aê! Voltou! finalmente!

Poema para computadores

Eu nunca coloquei, desde o início deste blog, nenhum dos meus poemas.
Começarei colocando um que fiz há mais de um ano, e que se diferencia, assim como um outro que mostrarei se tiver a oportunidade, de todos os outros poemas que eu escrevi. Nele, exploro o tema da tecnologia, dos coputadores. Já li muitos poemas que abordam esses temas, muitos de até 80 anos atrás, mas todos procuram usar sempre a sua própria linguagem de poeta(humana) para tocar no assunto, isto é, como se, em nome da humanidade, expressassem seu espanto, maravilhados com os progressos da tecnologia. Quando lia pensava : "Mas as máquinas não os entendem, e não está no objetivo deles que elas os entendam!".

**Nesses poemas, o poeta normalmente vê e sente a uma certa distância, numa posição de descrição do confronto do homem e da máquina, mas sem que esse confronto aconteça propriamente entre eles dois. **

Desta vez eu procurei usar em parte da própria linguagem da tecnologia, como se o poema fosse também para o próprio objeto entender, ou como se o poeta estivesse se comunicando antes com a máquina, numa relação quase humana. Assim eu toco num assunto de extrema atualidade:: o homem e a máquina agora se misturam e não são mais objetos antagônicos. Eles nos ajudam a ser, a existir. Pois se uso o computador para escrever, só sou poeta com a ajuda do computador, ainda que possa ser sem a sua ajuda.
O texto foi feito todo no editor do Ms-Dos, com os comandos necessários para deixar escrito a mensagem. No arquivo , é possivel vizualizar o texto ainda no editor do Dos, o que torna o poema muito mais mais intreressante esteticamente. Eu tentei transferir como figura a vizualização, mas ficou impossível de se ler, então coloco apenas o poema escrito:


C:\prompt[poema]
[poema]cls
[poema]date
[poema]qua 01/072004
[poema]time
[poema]20:32:31,42

[poema]edit
Você me fascina
Olho para você e fico admirado
porque quando olho, pergunto-me
que são afinal esses computadores?
E sei que não passam de coisas
Mas às vezes no enganam,
parece que vieram a algo, para nos mostrar algo

Digam-me, como é viver sem coração?
por favor, não entendam
como xingamento ou provocação
só quero saber de onde vem
essa sua frieza de pedra
essa misantropia cega, diga!

E como podem errar, se são máquinas?
Como ainda são capazes de errar,
em meio a tantas tentativas de controle?
Os tolos humanos muito se esforçam
Mas vocês resistem bravos e, deus, imóveise ainda erram humildemente, sem medo
Ao contrário de muitos humanos.
Eu invejo essa liberdade que têm

alt, arquivo, sair
[poema]dir
[poema]files
[poema]erase
[poema]exit

Diferença irrelevante

Leiam o livro Judite, do velho testamento da bíblia. Além de ser uma bela história contra a tirania, é um dos únicos lugares da bíblia em que vc vai achar passagens explicitamente eróticas.

não se esqueçam, no entanto, que erótico naquele tempo era falar de perfume e cabelos.

Na história, há a luta pelo fim do cerco a cidade de Bethúlia comandado pelo general Holofernes das tropas assírias de Nabucodonossor.

A heroína é Judite, uma viúva, que seduzindo Holofernes e o embebedando, acaba por decaptá-lo, salvando o povo judeu mais uma vez do domínio estrangeiro. A decaptação de Holofernes inspiriou muitos pintores renascentistas, que usavam a imagem para fazer uma alegoria ao fim da tirania. Bem, eu coloquei aí duas imagens de pintores do mesmo tempo: um homem (caravaggio, um dos pintores que mais gosto) e uma mulher (Artemisia Gentileschi). Sendo simplista, serve para ver como o homem vê a mulher e como a mulher se vê. Para caravaggio a viúva é um tanto magra, delicada, e parecer ter até nojo em arrancar a cabeça do tirano, para artemisia (um dia coloco aqui sua história de vida) Judite é gorda, forte, raivosa e determinada a salvar seu povo. Olhando as duas fotos uma conclusão é inevitável: Uma mulher delicada não é, em nenhuma hipótese, menos cruel que o normal.
(versão de Artemisia)

(Este homem nos dois quadros não levantou a tampa do vaso para urinar depois de ter entrado com o "pesão sujo de barro" em casa)

Ligações entre a CIA e a SPtrans

Nós usualmente não percebemos, mas enquanto nós levamos nossa rotina acontecem as coisas mais interessantes a nossa volta.
E não digo só quando você está trabalhando, que há sempre uma modelo fazendo umas fotos na praia tomando um drink pago por algum bem nascido do circuito paris-londres-NY,
Eu digo a nossa volta mesmo, poucos metros nossa frente. São peças pregadas pela vida pra te fazer acreditar que tudo em que você não está participando é mais legal. A vida já me convenceu, ela me dá provas disso todos os dias. Eu poderia citar milhões de casos, mas cito um mas recente para não me alongar e acabar me enchendo desse texto, como sempre acontece.
Quando estava esperando o ônibus chegar para dar o meu bom dia solitário ao motorista, chega de repente uma cegonha, esses caminhoes que levam carros, e esta levava um carro importado, muito bonito por sinal. Ele parou bem na minha frente, no lugar exato em que o ônibus pararia. Na hora disse "não precisava tanto" para o motorista da cegonha. Imaginem o sorriso mais amarelo que o sol que recebi.
Um sujeito da casa ao lado deve ter recebido o carro de presente. o carro então ficou estacionado em frente a uma casa. Nesse tempo meu onibus chegou e eu felizmente não pude ver a entrega se completar.
mas Eu pensei: "miserável, só pode estar querendo tirar com a cara de quem está esperando ônibus".

E pode ter sido isso mesmo. Talvez minutos depois depois o carro tenha voltado ao caminhao, e ele tenha saido para visitar outros pontos nas várias regiões da cidade, fazendo a mesma simulação de entrega, para quem sabe convencer os cidadãos de que não adianta o quanto se esforce, sua vida nunca será surpreendente.
Se eu tivesse perdido o ônibus poderia ter desmascarado essa conspiração de uma vez por todas, aí sim minha vida teria sido interssante por um dia.

mas logo vou saber que outra pessoa, ao contrário de mim que preferi ir a aula de contabilidade, fez isso, e que foi "legal pra caramba".

Onde vamos comer?

A Indecisão é muito perigosa para o ser humano.

Hoje vivendo numa cidade e com relativa abundância de recursos, a indecisão torna-se um luxo permitido e tolerável. Mas em outros espaços e outros tempos, ela poderia, em última instância, ser mortal.

Essa é é uma das razões porque nunca me agradou a idéia de poder usar uma máquina do tempo. "vou usar pra quê?". E se eu tivesse de caçar mamíferos pré-históricos no tempo que eu poderia estar assistindo TV? Já não era suficiente a minha indecisão sobre qual programa assistir, (aliás, indecisão que me fez perder os quatro programas simultâneos que passavam)? Teria agora de enfrentar a indecisão de quando ataco minha presa, quando taco a machadinha, onde me posiciono? Eu não. Prefiro sofrer as pensalidades de uma indecisão, quando estas não envolvem minha vida.

(vou abrir um parênteses para aqueles que quando leram acharam "ah, mas vale pela aventura de voltar no tempo" aqueles que não pensaram isso não precisam ler se não quiserem
Aventura... aventura é tentar não morrer de tédio 24 horas por dia. Isso é adrenalina:
"será que consigo terminar este pacote de bolacha água e sal antes do fim de E.R?" O coração bate mais forte até por causa das suas veias entupidas e sedentarizadas.)

Voltar no tempo é constatar um instinto de sobrevivência enferrujado. Como não somos relativamente (não há o peso da morte) obrigados a decidir (eu digo cidadãos comuns, não monopolistas bilionários), quando finalmente o somos, nossas decisões não levam em conta questões prioritárias,(sobrevivência) e outros fatores tomam lugar.


São as facilidades tecnológicas que provocam esse estado. faz tudo parte do plano dos robôs de destruirem a raça humana, fazendo-os perderem a noção de sobrevivência, direcionando sua capacidade para coisas superfluas.

Como na tragédia em Nova Orleans em que se saquearam, antes de comidas e remédios, cerveja e salgadinhos. Por isso o homem vai entrar em extinção.


(desculpem se o texto saiu confuso hoje, as idéias pipocaram e eu fiquei indeciso sobre o que escrever. É sério, não foi uma piada)

A ditadora e o Idiota

Cedo a tentação de falar sobre relacionamentos. Prometo que não andarei por esses caminhos duvidosos a que se jogam os roteiristas de filmes e seriados de TV para solitários em NY. Queria expor unicamente uma idéia e uma situação que ocorre do desdobramento dessa idéia. Algo simples, como deve ser.

Se há uma máxima válida quanto à relação homem/mulher, ou outras combinações modernas, é esta (por mim formulada): "Há 4 mil anos, os humanos se relacionam e tentam decifrar um código perfeito para uma vida harmoniosa consigo e com os outros,. Não tenha a pretensão de descobrir algo novo e acreditar que vá dar certo. Por isso use o mandamento único, que serve para quase tudo na vida: 'Não reinvente a roda'.

Em se tratando de relacionamentos, esse é o único mandamento legítimo.
Seja um chavão ambulente, use o máximo de clichês comportamentais que você identifica no seu meio social. Só ássim você será compreendido e terá a certeza de receber as reações previsíveis de que precisa para administrar o que se deve administrar.

Entretanto, uma falha na cadeia de ações provoca um imprevisível desastre na cadeia de reações, e tudo vai por água abaixo.

A seguir coloco uma conversa entre duas amigas que eu ouvi, não me lembro aonde, em que na primeira leitura, pode-se até ver traços de irracionalidade e insanidade, mas interpretando com cuidado faz total sentido. Elas comentam sobre uma atitude incomum, embora "exemplar", de um namorado, e pelo diálogo se percebe o estado mental a que essa ação levou:

- Ai. Eu não aguento mais. o Oswaldo está me deixando nos nervos
- homens... que aconteceu?
- ah, ele sempre vai aonde eu quero ir
- como assim?
- ah, sempre que combinamos de sair ele sugere algum lugar, ai eu digo que preferia ir para outro, e ele aceita.
- mas você então quer que ele seja firme, e a faça aceitar a sugestão dele?
- Não, até parece, eu namorar com um machão cantando de galo
- então não entendi
- Ai sabe, as vezes eu queria poder gritar com ele e dizer "Vamos aqui e pronto!". Mas ele aceita muito facilmente.
- é mesmo. tem que brigar as vezes, mostrar quem é que manda.
- isso! se ele sempre me obedecer voluntariamente, ele nunca vai saber q eu estou no comando, porque ele vai pensar "eu preferi a sugestão dela também"


enquanto ouvia, xingava o gênero feminino: "Bando de ditadoras." Passeiam com o cachorro, mas esperam eles se afastarem da dona para sentirem a corda amarrada no pescoço. E sentem prazer nisso.

Só depois, pensando em casa, que eu fui descobrir que a culpa era do namorado mesmo, aquele idiota altruista (a máscara de bonzinho não me engana), que não seguiu os padrões de comportamento compatíveis com um homem de nossa sociedade;

enquanto estamos no feriado e nada acontece.

Eu nunca fui bom em desenhar. Era muito dificil para mim entender isso nos primeiros anos da escola, afinal o mínimo que se tinha que fazer era isso.

Eram minhas as menores notas de artes, figuravam uma mancha negra no meu boletim. Ainda eu achava que compensava a falta de habilidade em pintar e desenhar, quando ao menos sabia um pouco melhor recortar e colar. Doce engano. Meus trabalhos tinham a total reprovação de meus professores.
Não que eu levasse essa reprovação de alguma forma traumática, mas sim ficava com raiva do fato de que aquilo era o que davam maior importância na escola. E justo nisso eu era ruim.
Meus padrões artisticos também eram bastante baixos. Apenas em quatro ocasiões meus trabalhos foram medíocres, isto é, não foram horríveis como de costume, e estão bem guardados até hoje com muito orgulho num plástico num lugar especial.
Tenho um grande amor por aqueles trabalhos, um apego que vai além do apego que sempre tive pela minha infância. Pus ali (no inconsciente de meu esforço) a essência da minha postura diante da vida. Eles não são apenas a minha inteligibilidade colocada a uma finalidade estética, pois a minha inteligibilidade só conseguiria fazer trabalhos desastrosos e sempre foi assim. São primariamente resultado de uma vontade de impressionar os outros que os fossem ver, e exemplos de como pude ultrapassar minha deficiência através de um esforço que envolveu a própria negação dos meus limites reais. São um fingimento (e só eu e eles sabemos disso). É preciso fingir para quebrar a representação do mundo e ir mais longe do que se pensa. Até hoje, no que faço, procuro essa forma de me superar.

Talvez a relação de amor/ódio entre o artista e sua obra seja o elemento mais importante na arte. É esse vínculo, quase real e parental, um caldeirão de sentimentos contraditórios, que traz o traço humano intempestivo à produção estética. É nele, pois, que se comprova a existência dos dois (um é parte do outro). é uma das maiores criações da humanidade.


Se eu pudesse mostrar a caricatura que faço do Charles Chaplin, vocês iriam entender.

Algumas Idéias.

Estamos na semana do carnaval, mas eu nunca falaria sobre esse feriado ridículo.
Nesse momento, ao escrever aqui neste blog, faço um esforço tremendo para não ceder a tentação de dissertar longamente sobre as minhas razões de não gostar dessa festa popular, embora elitista, e alegre, embora deprimente.
Se há algo de positivo nesse feriado, é que ele é um paradoxo em si, como tudo na vida.
O problema é que quando você tenta se controlar para não falar sobre algo que você adoraria falar, é obrigado involuntariamente a discorrer sobre o assunto pelas beiradas.
Eu bem lembro de uma ocasião em que conversava com uns amigos e defendia o ponto de que a felicidade não possui nenhum significado, que ela não passa de uma das amarras que o próprio ser humano se coloca. Ninguém gosta de ouvir que o único sonho que vale a pena (ser feliz) é uma completa farsa. Elas preferem retrucar: "então quer que sejamos tristes?". Ora, seja o que você quiser, mas não se engane.
Sendo um ser humano, é inevitável termos que sentir todo o tipo de emoção. Não é razoável desejarmos viver felizes, quando isso se torna um fardo da vida. "ser completamente feliz". Para mim, isso é abdicar da liberdade de aceitar todos os sentimentos da vida. Atrás desse imperativo, as pessoas fazem loucuras, e perdem a serenidade que precisam diante dos acontecimentos. Compram bens, e enchem a sua dispensa de felicidade, e sem querer passam a quantificá-la. Querer ser feliz é em última instância, calcular o QUANTO se é feliz. Perde-se a lógica fundamental da vida, que é dada sempre qualitativamente.
Entãop me perguntam: "qual deve ser o objetivo do ser humano, para ele evitar de aprisionar a si mesmo?". A minha resposta é: Se você é um prisioneiro e tenta sempre se libertar (caminhando do menos livre para mais livre, mas nunca totalmente livre), e o seu colega de cela é também prisioneiro, mas constroi nela um complexo de lazer completo (tv a cabo, jacuzzi, microondas), você que tenta se libertar certamente é mais infeliz, mais angustiado, mas é o seu objetivo, e nao o dele, o mais apropriado.

Por quê? Por que é o único objetivo que pode te transferir da situação primordial de aprisionamento. Esta é a situação que importa e que as pessoas precisam reconhecer: Você começa prisioneiro. O resto são acidentes de percurso.

E por se libertar entendo ficar sempre atento à gravidade do mistério da vida, elevar o espírito humano, não ignorar a vontade, criar uma consciencia da humanidade, e sempre que possível contribuir para a civilização. Em suma: "ter na vida o interesse de um decifrador de charadas".


*o objetivo de se libertar é o único que não nos aprisiona ainda mais.