Creio que por ser Brasileiro, e. portanto. selvagem, eu não sou capaz de entender alguns dos raciocínios do mundo civilizado. Examinando um desses documentos do Banco Bundial, sobre o "Civil Service" no mundo, li uma passagem que demorei trinta minutos para achar alguma lógica. A passagem falava de como prevenir que cargos públicos de indicação política (cargos em comissão, para nós aqui no Brasil) se tornassem um instrumento de patronato, de um Estado Patrimonial, em vez de serem para o bem do estado Burocrático. Eis a passagem:
"Little is known about how individual politicians are constrained to ensure that pure political appointments serve overall government objectives. One interesting example is Sweden where political appointees are guaranteed salaries for 2 years after dismissal. Norwegian political appointees are treated similarly, although the guaranteed allowance continues only for 2 or 3 months. the effect of these arrangements is to prevent any ministerial appointemnt from being interpreted as a purely personage patronage position"
(???) Bom, a única lógica que encontrei, foi que o indivíduo indicado não teria rabo preso, por ter os salários garantidos por tanto tempo. Mas imaginem no Brasil a farra que não seria?
Definitivamente o Banco Mundial não conhece o que é um Estado Patrimonial. Nós, selvagens, sim.
Thursday, September 27, 2007
Friday, September 21, 2007
O homem sem eco (inc)
O homem sem eco
pelos becos, sozinho
com dor no peito
gritava, gritava alto
nem ele escutava seu próprio grito
os vizinhos não reclamavam
os policiais não ouviam
o homem sem eco
morreu de quê?
morreu de opaco
ele não vê
não ouve. Não houve.
não causou desgosto
não deixou herança, mulheres, filhos
não tinha seu próprio endocrinologista
ou gerente de sua conta bancária
este homem, único homem absoluto da história, passou
e o mundo autista não viu
pelos becos, sozinho
com dor no peito
gritava, gritava alto
nem ele escutava seu próprio grito
os vizinhos não reclamavam
os policiais não ouviam
o homem sem eco
morreu de quê?
morreu de opaco
ele não vê
não ouve. Não houve.
não causou desgosto
não deixou herança, mulheres, filhos
não tinha seu próprio endocrinologista
ou gerente de sua conta bancária
este homem, único homem absoluto da história, passou
e o mundo autista não viu
Thursday, September 20, 2007
CPMF e EU.
A CPMF não tem nada a ver comigo. Nunca usarei camisetas contra impostos, disto tenho certeza. Aliás, ouso dizer que nunca usarei uma camiseta para levantar qualquer bandeira. Para isto existem as bandeiras.
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Bem, desculpem ir logo começando a falar de assuntos pesados, mas precisava desabafar. Já já mudo de assunto.
Uso as madrugadas para ler o que tenho que ler. Não as coisas da faculdade, porque isso eu faço de manhã, quando acordo, já que estudo a tarde e à noite (faço uma jornada de 10 horas). De madrugada eu leio aquilo que eu defini que teria que ler algum dia. Muito das coisas que faço são assim, tenho percebido. Simplesmente defini que teriam que ser feitas. É uma espécie de teimosia mais rara.
Então leio esses livros, uns mais leves, como esses clássicos da literatura, e uns mais pesados, como esses clássicos da filosofia etc. É meu momento só, não que seja o único, pois estou sempre andando por aí, só. Mas quando ando por aí estou só, mas com gente à minha volta. Gosto de ficar sozinho porque a mim sei que agüento, e que às vezes sou do meu agrado.
O problema de ler de madrugada, é que não se dorme bem depois, as palavras ficam passeando pelo cérebro durante o sono. E os raciocínios maquinando. Quando acordo, parece que fiquei o dia inteiro em conflito de idéias, num debate caloroso. Então fico deitado, acordado na cama, um tempo tentando descansar, olhando para o teto. Tento pensar em mulheres simpáticas, cumprimentando-me, sorrindo. Mulheres que conheço, e as que desejo rever um dia. Lembro das que magoei, das que me desculpei, das que não me perdoaram, das que, por ser jovem demais naquela época, acho que esqueci de beijar. Mas a vida continua, por isso elas sorriem. Aos poucos as idéias vão tomando outra forma. Quando levanto da cama, estou em equilíbrio, um tanto reflexivo, um tanto emocional.
Tentei já parar de ler de madrugada, pois isto me tirava algumas horas de sono, e me deixava agitado. Mas aí vi que não teria outra hora para ler o que teria que ler. Eu passo um tempo aprendendo coisas, como uma fuga, e eu também aprendo coisas para garantir que eu seja ouvido, que eu não fique só.
Nada dessas coisas funcionam.
Hoje tento, em vez de ler, escrever, e sei que também não irá funcionar. Amanhã é outro dia, e a vida continua. Acordarei do mesmo jeito, como quem emerge de um debate ideal.
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Bem, desculpem ir logo começando a falar de assuntos pesados, mas precisava desabafar. Já já mudo de assunto.
Uso as madrugadas para ler o que tenho que ler. Não as coisas da faculdade, porque isso eu faço de manhã, quando acordo, já que estudo a tarde e à noite (faço uma jornada de 10 horas). De madrugada eu leio aquilo que eu defini que teria que ler algum dia. Muito das coisas que faço são assim, tenho percebido. Simplesmente defini que teriam que ser feitas. É uma espécie de teimosia mais rara.
Então leio esses livros, uns mais leves, como esses clássicos da literatura, e uns mais pesados, como esses clássicos da filosofia etc. É meu momento só, não que seja o único, pois estou sempre andando por aí, só. Mas quando ando por aí estou só, mas com gente à minha volta. Gosto de ficar sozinho porque a mim sei que agüento, e que às vezes sou do meu agrado.
O problema de ler de madrugada, é que não se dorme bem depois, as palavras ficam passeando pelo cérebro durante o sono. E os raciocínios maquinando. Quando acordo, parece que fiquei o dia inteiro em conflito de idéias, num debate caloroso. Então fico deitado, acordado na cama, um tempo tentando descansar, olhando para o teto. Tento pensar em mulheres simpáticas, cumprimentando-me, sorrindo. Mulheres que conheço, e as que desejo rever um dia. Lembro das que magoei, das que me desculpei, das que não me perdoaram, das que, por ser jovem demais naquela época, acho que esqueci de beijar. Mas a vida continua, por isso elas sorriem. Aos poucos as idéias vão tomando outra forma. Quando levanto da cama, estou em equilíbrio, um tanto reflexivo, um tanto emocional.
Tentei já parar de ler de madrugada, pois isto me tirava algumas horas de sono, e me deixava agitado. Mas aí vi que não teria outra hora para ler o que teria que ler. Eu passo um tempo aprendendo coisas, como uma fuga, e eu também aprendo coisas para garantir que eu seja ouvido, que eu não fique só.
Nada dessas coisas funcionam.
Hoje tento, em vez de ler, escrever, e sei que também não irá funcionar. Amanhã é outro dia, e a vida continua. Acordarei do mesmo jeito, como quem emerge de um debate ideal.
Sunday, September 16, 2007
Sobre estar na contramão
"Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria."
É sempre bom relembrar o velho Camões. Os sonetos são a forma poética mais lógica e racional, portanto, um bom soneto de amor é sempre estranho (no bom sentido de estranheza) para quem lê. É Estranho, mas ainda assim muito melhor que os poemas do romantismo, que são sofríveis. Difícil achar um bom. Mesmo gostando de Álvares de Azevedo, por várias vezes durmi no meio de seus poemas falando de virgens dormindo de seio nu.
Hoje, nos livramos do romantismo, mas esquecemos que o amor sem ser romântico ainda pode ser amor. E que o romantismo, quando tiramos as virgens dormindo de seio nu, não é nada importante, mas um acessório que torna a vida mais bonita.
Aceitar o amor e a paixão pelo outro como uma parte da vida, e algo a se buscar, e até a se priorizar, não trocar por nada, e um elemento indispensável para a obtenção do belo, é como estar na contramão do que se diz por aí. Os jovens, quando muito, aceitam às pressas, mas logo abandonam essa idéia, quando sofrem por isso e etc, depois dizem-se maduros. Ao contrário, creio que a maturidade é atingida apenas quando os indivíduos percebem essa escolha de forma lúcida, duradoura e serena, apesar dos contratempos.
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria."
É sempre bom relembrar o velho Camões. Os sonetos são a forma poética mais lógica e racional, portanto, um bom soneto de amor é sempre estranho (no bom sentido de estranheza) para quem lê. É Estranho, mas ainda assim muito melhor que os poemas do romantismo, que são sofríveis. Difícil achar um bom. Mesmo gostando de Álvares de Azevedo, por várias vezes durmi no meio de seus poemas falando de virgens dormindo de seio nu.
Hoje, nos livramos do romantismo, mas esquecemos que o amor sem ser romântico ainda pode ser amor. E que o romantismo, quando tiramos as virgens dormindo de seio nu, não é nada importante, mas um acessório que torna a vida mais bonita.
Aceitar o amor e a paixão pelo outro como uma parte da vida, e algo a se buscar, e até a se priorizar, não trocar por nada, e um elemento indispensável para a obtenção do belo, é como estar na contramão do que se diz por aí. Os jovens, quando muito, aceitam às pressas, mas logo abandonam essa idéia, quando sofrem por isso e etc, depois dizem-se maduros. Ao contrário, creio que a maturidade é atingida apenas quando os indivíduos percebem essa escolha de forma lúcida, duradoura e serena, apesar dos contratempos.
Saturday, September 15, 2007
Educação - Inclusp
Muitos acham maravilhoso o programa de inclusão social da USP, o INCLUSP. O aluno de escola pública tem preferência na contagem de pontos (3% a mais) em relação aos alunos de escolas privadas, no vestibular da FUVEST. O argumento todo gira em torno do fato de que, bem, os alunos de escola pública são pertencentes a camadas menos favorecidas da população. É uma política pública de discriminação positiva. Eu, particularmente, sou a favor dessas políticas, tanto de cotas universitárias para negros, se quisermos combater o problema do racismo (situação de fato), como de cotas para alunos de baixa renda, se quisermos combater a desigualdade social.
Entretanto, o Inclusp fica no meio do caminho. Nem toda escola privada é o Santa Cruz, Bandeirantes e Rio Branco. Nem toda escola pública é uma escola estadual em Parelheiros. Há escolas privadas em que a mensalidade é de R$50,00, e que recebem alunos tão menos favorecidos quanto as escolas públicas ruins. Há escolas públicas, como a escola técnica Federal do Maranhão, que o filho do governador estuda, e o filho do juiz, etc.
Regime de propriedade de escolas não é critério algum. O que a USP pode estar fazendo, consciente ou não, é selecionando os melhores alunos das escolas públicas que se equiparam em qualidade à boas escolas privadas, e deixando o aluno pobre, com menos oportunidades, de escola pública, e o pobre de escola privada, sem qualquer benefício. Isto não é política de inclusão social, por mais que digam que é.
Entretanto, o Inclusp fica no meio do caminho. Nem toda escola privada é o Santa Cruz, Bandeirantes e Rio Branco. Nem toda escola pública é uma escola estadual em Parelheiros. Há escolas privadas em que a mensalidade é de R$50,00, e que recebem alunos tão menos favorecidos quanto as escolas públicas ruins. Há escolas públicas, como a escola técnica Federal do Maranhão, que o filho do governador estuda, e o filho do juiz, etc.
Regime de propriedade de escolas não é critério algum. O que a USP pode estar fazendo, consciente ou não, é selecionando os melhores alunos das escolas públicas que se equiparam em qualidade à boas escolas privadas, e deixando o aluno pobre, com menos oportunidades, de escola pública, e o pobre de escola privada, sem qualquer benefício. Isto não é política de inclusão social, por mais que digam que é.
Renan Calheiros
Não sei dizer se o governo fez o cálculo político correto. Ao que parece, ele fez. Ao apoiar Renan Calheiros, pode ter conseguido uma fidelidade importante do PMDB, e do presidente do senado, que não é pouca coisa. No entanto há a questão da oposição e a prorrogação da CPMF, que poderia se acalmar caso o governo consiga com que Calheiros peça afastamento temporário.
No entanto, no jogo político democrático, a grande burrice é desprezar o componente eleitoral de tudo isso. Se a população julgar este ato ilegítimo, provavelmente alguns senadores podem começar a temer por sua reeleição em 2010. A prova de que o Brasil está mudando não estaria na condenação política de Calheiros, como muitos pensam. Ao contrário, esta mudança só será de fato mudança quando vier da própria população, mais concretamente pelo voto ou algo parecido, de forma que o político reflita previamente sobre este risco no seu cálculo político (de permanência no sistema).
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No entanto, no jogo político democrático, a grande burrice é desprezar o componente eleitoral de tudo isso. Se a população julgar este ato ilegítimo, provavelmente alguns senadores podem começar a temer por sua reeleição em 2010. A prova de que o Brasil está mudando não estaria na condenação política de Calheiros, como muitos pensam. Ao contrário, esta mudança só será de fato mudança quando vier da própria população, mais concretamente pelo voto ou algo parecido, de forma que o político reflita previamente sobre este risco no seu cálculo político (de permanência no sistema).
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Wednesday, September 12, 2007
A simpatia
A grande maioria das pessoas é difícil de simpatizar. E eu nem quero ser misantropo, sempre sou simpático, dou risadas. Mas há dessas vezes em que olhamos para o que uma pessoa está falando e achamos idiota. Não sei. Algumas coisas irritam mesmo. Irritam-me essas coisas que as pessoas sempre falam, como se elas estivessem falando no piloto automático, o small talk medíocre. Irrita-me porque aquele indivíduo fala alguma coisa e e me faz pensar que qualquer outro indivíduo que estivesse no seu lugar falando a mesma coisa não mudaria em nada aquela situação.
Eu não pressuponho que os seres humanos sejam únicos, ou que eles não sejam normais. Nem gostaria que cada um falasse de um jeito. Gostaria apenas que as situações fossem específicas, próprias a cada contexto, e aí não acharia que estou perdendo tanto tempo em viver.
O sentimento de que não há contexto para os acontecimentos me irrita profundamente. E conversar com qualquer pessoa hoje, conhecê-las, é pairar sobre o vago, o não-específico, sobre o qualquer. Logo passo a odiá-las secretamente, embora mantenha sempre guardado este ódio viral.
Eu não pressuponho que os seres humanos sejam únicos, ou que eles não sejam normais. Nem gostaria que cada um falasse de um jeito. Gostaria apenas que as situações fossem específicas, próprias a cada contexto, e aí não acharia que estou perdendo tanto tempo em viver.
O sentimento de que não há contexto para os acontecimentos me irrita profundamente. E conversar com qualquer pessoa hoje, conhecê-las, é pairar sobre o vago, o não-específico, sobre o qualquer. Logo passo a odiá-las secretamente, embora mantenha sempre guardado este ódio viral.
Friday, September 07, 2007
desequilíbrios (incompleto)
Ainda sinto minha pausa na natação
sinto que meus braços estão atrofiando
e junto com eles minha disposição
e um descompasso, posto que muito ando
entre a força das minhas pernas e de meus braços
Eu sei que deve-se fazer exercícios
Vejo isto nos programas de televisão,
que me exortam também a outros vícios
que me exortam a reciclar e a ouvir minha família
Um dia, que eu estiver em paz comigo
Farei tudo como mandam
Enquanto isso, mantenho-me (de pé, masnão muito firme) sem abrigo
sinto que meus braços estão atrofiando
e junto com eles minha disposição
e um descompasso, posto que muito ando
entre a força das minhas pernas e de meus braços
Eu sei que deve-se fazer exercícios
Vejo isto nos programas de televisão,
que me exortam também a outros vícios
que me exortam a reciclar e a ouvir minha família
Um dia, que eu estiver em paz comigo
Farei tudo como mandam
Enquanto isso, mantenho-me (de pé, masnão muito firme) sem abrigo
Tuesday, September 04, 2007
Comerciais
A partir dos comerciais, é possível fazer análises sociológicas interessantes. É comum a alusão, nos comerciais brasileiros, a produtos que são "de primeiro mundo", ou seja, que têm a qualidade dos produtos das grandes nações industriais. Celso Furtado diz, entre outras coisas, que os consumidores brasileiros de alta renda procuram imitar o que se consome no primeiro mundo, e por isso forçam a criação de uma indústria de capital intensivo com dificuldades de competição externa. No Brasil temos esta obsessão pelo desenvolvimento, talvez em razão da grande promessa que éramos, e ainda somos, mas que não decolou, haja visto a crise da dívida externa nos anos 80 dos países subdesenvolvidos e o desequilíbrio e estagnação total de nosso sistema econômico.
Um dia tomaremos um café solúvel decente. Fim da reflexão.
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Meu pai fazia esses comerciais no tempo da minha infância. Ele aparece nesse, em que diz a frase final, vestido de piloto de avião. Olhando a atuação impecável, dá para entender de onde tirei todo este apelo imagético.
Thursday, August 30, 2007
Cidadezinha Qualquer
"Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Êta vida besta, meu Deus." C.Drummond de Andrade
Brasas entre edifícios
Mulheres sem nem um pingo de mulheres
Ninguém a no amor pensar
Um cachorro vai vestido,
Um homem despossuído,
Um burro na TV a cantar.
Olhar... as janelas não têm tempo!
Êta vida besta
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.
Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.
Êta vida besta, meu Deus." C.Drummond de Andrade
Brasas entre edifícios
Mulheres sem nem um pingo de mulheres
Ninguém a no amor pensar
Um cachorro vai vestido,
Um homem despossuído,
Um burro na TV a cantar.
Olhar... as janelas não têm tempo!
Êta vida besta
Friday, August 24, 2007
quando nasci
impossível alguém se auto-enganar por tanto tempo.
eu, que sou mais imbecil que a média, tenho também meus momentos em que abro os olhos.
o que não dá, não dá, e está feito.
o que nunca vai ser, nunca vai ser.
resta a resignação.
e ainda que eu não seja lá muito afeito às resignações, tenho-a sempre comigo em meu bolso.
e pensar que eu aceitei participar deste mundo, quando nasci, de gente que nem sente direito as coisas, que não sente intensamente, e que não enfia nunca a cabeça nas coisas, para quebrá-la...
às vezes surge uma vontade de rir disso, mas ela logo passa.
eu, que sou mais imbecil que a média, tenho também meus momentos em que abro os olhos.
o que não dá, não dá, e está feito.
o que nunca vai ser, nunca vai ser.
resta a resignação.
e ainda que eu não seja lá muito afeito às resignações, tenho-a sempre comigo em meu bolso.
e pensar que eu aceitei participar deste mundo, quando nasci, de gente que nem sente direito as coisas, que não sente intensamente, e que não enfia nunca a cabeça nas coisas, para quebrá-la...
às vezes surge uma vontade de rir disso, mas ela logo passa.
Thursday, August 23, 2007
mensagens do lixo.
Voava um folheto pelo chão que dizia que todo o tipo de sofrimento era de alguma forma padronizado. E que se podiam observar as mesmas características nos vários seres humanos. Pisei nele.
É, de fato, um golpe duro na nossa pretensão de que somos tão únicos que o peso do mundo só pesa em nossas costas, como em ninguém mais.
Sendo o sofrimento algo padronizado, como são os produtos que vemos nas gôndolas dos supermercados, é possível que nós escolhamos nos consumir nele ou não. Há uma margem. Nesta margem está a danação da (minha) vida, pobre diabo que sou.
É, de fato, um golpe duro na nossa pretensão de que somos tão únicos que o peso do mundo só pesa em nossas costas, como em ninguém mais.
Sendo o sofrimento algo padronizado, como são os produtos que vemos nas gôndolas dos supermercados, é possível que nós escolhamos nos consumir nele ou não. Há uma margem. Nesta margem está a danação da (minha) vida, pobre diabo que sou.
Quando eu vi...
Tuesday, August 21, 2007
O Segredo
Passei a ter, depois de assistir uns programas de TV que me informavam sobre "o segredo", uma dúvida cruel: Será que, se eu mentalizar tudo de ruim, mas mentalizar que a tal da "lei de atração" não vai acontecer, posso me safar dos pensamentos negativos?
Sim, porque é uma decorrência lógica do raciocínio deles. Se eu imaginar que "o segredo" não funciona, se eles estiverem certos, ele terá de não funcionar necessariamente. Assim anulo meu pessimismo, meu derrotismo, e eles ficam com cara de bobos.
Nenhum livro de auto-ajuda sobrevive a um teste lógico feito sob medida.
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Como é boa a vida quando assistimos o canal E!, e vemos também aquelas pessoas curtindo a vida loucamente. Dá até vontade de ser assim também. Mas como só de ver já fico satisfeito, e embreagado de tanta diversão, e de iates, volto imediatamente aos afazeres da vida chata, que ainda é mais legal que assistir E!.
Sim, porque é uma decorrência lógica do raciocínio deles. Se eu imaginar que "o segredo" não funciona, se eles estiverem certos, ele terá de não funcionar necessariamente. Assim anulo meu pessimismo, meu derrotismo, e eles ficam com cara de bobos.
Nenhum livro de auto-ajuda sobrevive a um teste lógico feito sob medida.
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Como é boa a vida quando assistimos o canal E!, e vemos também aquelas pessoas curtindo a vida loucamente. Dá até vontade de ser assim também. Mas como só de ver já fico satisfeito, e embreagado de tanta diversão, e de iates, volto imediatamente aos afazeres da vida chata, que ainda é mais legal que assistir E!.
Saturday, August 11, 2007
O sabor da vida
O sabor da vida fica nas pequenas coisas. Mentira. Embora o sabor resida na triviialidade da vida, nos seu aspectos comuns a todos os seres humanos, o trivial precisa do grande.
A vida se mede em quilômetros, em décadas, em oceanos percorridos, em monstros mortos com uma espada enfiada no pescoço. Nós é que por vezes nos iludimos dizendo que não ifaz mal não realizarmos nada de importante, não povoarmos américas, não desafiar o papa, não enfrentar filas enormes de supermercado.
Mas como fazer tudo isso vivendo numa ambigüidade e numa alternância terrível entre a mesquinharia e a impotência? Se não nos julgamos capazes de fazer tudo isso de livre vontade?
Com alguma sorte seremos condenados ao degredo em alguma ilha selvagem, e sendo obrigados a sozinhos fundar um Estado, aprendamos talvez alguma coisa. Aí sim, se é grande sem querer, grande como se deve ser, e se tem uma vida propriamente dta.
Se o sabor da vida ficasse nas pequenas coisas, elas por si me satisfariam, me cansariam, tomariam conta de toda minha existência. Ao contrário, elas me fazem escasso, saudoso. Portanto só posso concluir que só é completo o que é grande, e só é grande o que é de todos, comum, é verdade, mas além de ser permitido a todos falta ainda uma martelada na cabeça, um sacrifício, uma luta. Algo que engrandece o mais vulgar dos objetivos a qualquer homem.
A vida se mede em quilômetros, em décadas, em oceanos percorridos, em monstros mortos com uma espada enfiada no pescoço. Nós é que por vezes nos iludimos dizendo que não ifaz mal não realizarmos nada de importante, não povoarmos américas, não desafiar o papa, não enfrentar filas enormes de supermercado.
Mas como fazer tudo isso vivendo numa ambigüidade e numa alternância terrível entre a mesquinharia e a impotência? Se não nos julgamos capazes de fazer tudo isso de livre vontade?
Com alguma sorte seremos condenados ao degredo em alguma ilha selvagem, e sendo obrigados a sozinhos fundar um Estado, aprendamos talvez alguma coisa. Aí sim, se é grande sem querer, grande como se deve ser, e se tem uma vida propriamente dta.
Se o sabor da vida ficasse nas pequenas coisas, elas por si me satisfariam, me cansariam, tomariam conta de toda minha existência. Ao contrário, elas me fazem escasso, saudoso. Portanto só posso concluir que só é completo o que é grande, e só é grande o que é de todos, comum, é verdade, mas além de ser permitido a todos falta ainda uma martelada na cabeça, um sacrifício, uma luta. Algo que engrandece o mais vulgar dos objetivos a qualquer homem.
Tuesday, August 07, 2007
Esses Mistérios
Parto da pressuposição, uma pressuposição com bons motivos, de que há mistérios no mundo, de que há mistério no que e como as coisas acontecem na vida. Não que não seja uma ilusão acreditar nisso. Mas uma vida desmistificada, sem mistérios, é algo mais ilusório do que acreditar neles. Partindo daí, sempre começo a pensar n'algo de maior inutilidade para todos os outros, ou vocês que lêem isso, mas de extrema importância para mim. Penso qual é o maior dos mistérios, ou o mais significativo.
Diversos são os tipos: porque nossa vida aparentemente deve ter um sentido ou algum significado; depois por que passamos a acreditar nesse sentido ou a buscá-lo, ou imaginá-lo, dando a ele existência; e todas as outras coisas, como por que chegamos até onde estamos, como que somos o que somos, etc. Cada um tem escrita a sua lista de não explicáveis. É interessante ver que apenas o reconhecimento destas dúvidas já cria a dúvida em si, sem que ela seja necessária do ponto de vista lógico.
O maior deles, em minha opinião, é por que, sendo possível enxergar, ou deduzir o que acontecerá de ruim no futuro, um futuro não-desejável, nós continuamos em algumas vezes, a seguir este caminho, não por teimosia, por burrice, mas porque isto "deve ser feito". Aceitar o destino, em outras palavras. É certo que muitas das vezes, aliás, na maioria delas, nós lutamos contra ele, definitivamente, uma luta mortal, trágica. Em outros casos, esses os mais interessantes, reconhecemos nos destino terrível algo tão hipnotizante e misterioso, que vamos de encontro a ele.
Creio que seja além do principal, o mais belo mistério de todos, pois se percebe que o ser humano é ao mesmo tempo como os galhos de uma árvore, que não se sabe para onde vão crescer, e divino, pois nele há uma certeza pressuposta (num outro mundo) e, talvez voluntária, de para onde vão crescer. Essas duas coisas que fazem a vida seguir, tem feito seguir, e diante disso só resta a nossa perplexidade.
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Diversos são os tipos: porque nossa vida aparentemente deve ter um sentido ou algum significado; depois por que passamos a acreditar nesse sentido ou a buscá-lo, ou imaginá-lo, dando a ele existência; e todas as outras coisas, como por que chegamos até onde estamos, como que somos o que somos, etc. Cada um tem escrita a sua lista de não explicáveis. É interessante ver que apenas o reconhecimento destas dúvidas já cria a dúvida em si, sem que ela seja necessária do ponto de vista lógico.
O maior deles, em minha opinião, é por que, sendo possível enxergar, ou deduzir o que acontecerá de ruim no futuro, um futuro não-desejável, nós continuamos em algumas vezes, a seguir este caminho, não por teimosia, por burrice, mas porque isto "deve ser feito". Aceitar o destino, em outras palavras. É certo que muitas das vezes, aliás, na maioria delas, nós lutamos contra ele, definitivamente, uma luta mortal, trágica. Em outros casos, esses os mais interessantes, reconhecemos nos destino terrível algo tão hipnotizante e misterioso, que vamos de encontro a ele.
Creio que seja além do principal, o mais belo mistério de todos, pois se percebe que o ser humano é ao mesmo tempo como os galhos de uma árvore, que não se sabe para onde vão crescer, e divino, pois nele há uma certeza pressuposta (num outro mundo) e, talvez voluntária, de para onde vão crescer. Essas duas coisas que fazem a vida seguir, tem feito seguir, e diante disso só resta a nossa perplexidade.
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Friday, August 03, 2007
Os meus pesadelos. (escritos autobiográficos)
Busco ainda interpretação psicanalítica para meus pesadelos. Só pude interpretar perfeitamente um sonho, numa noite que sucedeu o dia em que tinha terminado de ler "mal estar na civilização". Foi perfeito: estava lá meu pai, minha mãe, mulheres nuas, vestidos vermelhos, salas vazias, livros velhos, crianças endiabradas, criados uniformizados... uma festa. Creio que sofri do que chamei de idealização do inconsciente (algo análogo à idealização do ego), isto é, meu inconsciente, vendo que os conceitos de Freud eram muito mais interessantes que o mais confuso e sujo dos meus segredos, simplesmente recriou aqueles símbolos, ordenadamente. É um pouco decepcionante, pois ninguém espera isso do inconsciente, esta subordinação e admiração total.
Na maioria das vezes não sonho, tenho só pesadelos (diria porque sonho já demasiadamente durante o dia, e meus pesadelos não são terríveis, quer dizer, mão são violentos, cruéis. Normalmente, não riam, eles acontecem em agências bancárias, mas não presencio assaltos, não testemunho o drama de reféns caídos no chão. Meu drama é quase sempre o mesmo, tendo algumas variações de um dia para o outro.
Estou diante de um caixa eletrônico (um ATM), insiro meu cartão, e ao me pedirem a senha, eu digito normalmente só que ela é inválida (esta é a melhor síntese biográfica da minha vida e da de qualquer outra pessoa, estou convencido), e então para confirmar meus dados o computador me pergunta qual meu prato preferido, o nome do meu cachorro, minha cor preferida. Respondo todas essas perguntas uma atrás da outra até ficar extremamente angustiado com a situação. A cena se prolonga infinitamente, até eu acordar, como se as perguntas não acabassem.
Ontem, de novo, estava diante do caixa eletrônico, mas, (que surpresa!), digito a senha e ela funciona, para retirar vinte reais. Fico esperando o dinheiro vir, e como sempre faço na vida real, desejo que a máquina erre a contagem e me dê um bolo de dinheiro. Um dia poderia acontecer, acho.
o dinheiro saí e são quatro notas de cinqüenta reais. Meu desejo se realizou. Esta felicidade dura alguns instantes, mas logo vejo num extrato que surge na minha mão, que aquele dinheiro foi debitado na minha conta, e que estou negativo no banco.
Olho o ATM e há um relógio digital que marca os juros em dinheiro, a cada segundo, que devo por ter aquela dívida. E o número vai crescendo rapidamente até eu ficar bastante angustiado. Tento usar o telefone, e nada.
Acho que há alguma relação com a minha vida em geral, bastante na verdade. Mas não posso negar também que posso ver o pesadelo como uma não metáfora, já que tenho mesmo pavor viceral de caixas eletrônicos, e todos os outros procedimentos bancários possíveis.
Na maioria das vezes não sonho, tenho só pesadelos (diria porque sonho já demasiadamente durante o dia, e meus pesadelos não são terríveis, quer dizer, mão são violentos, cruéis. Normalmente, não riam, eles acontecem em agências bancárias, mas não presencio assaltos, não testemunho o drama de reféns caídos no chão. Meu drama é quase sempre o mesmo, tendo algumas variações de um dia para o outro.
Estou diante de um caixa eletrônico (um ATM), insiro meu cartão, e ao me pedirem a senha, eu digito normalmente só que ela é inválida (esta é a melhor síntese biográfica da minha vida e da de qualquer outra pessoa, estou convencido), e então para confirmar meus dados o computador me pergunta qual meu prato preferido, o nome do meu cachorro, minha cor preferida. Respondo todas essas perguntas uma atrás da outra até ficar extremamente angustiado com a situação. A cena se prolonga infinitamente, até eu acordar, como se as perguntas não acabassem.
Ontem, de novo, estava diante do caixa eletrônico, mas, (que surpresa!), digito a senha e ela funciona, para retirar vinte reais. Fico esperando o dinheiro vir, e como sempre faço na vida real, desejo que a máquina erre a contagem e me dê um bolo de dinheiro. Um dia poderia acontecer, acho.
o dinheiro saí e são quatro notas de cinqüenta reais. Meu desejo se realizou. Esta felicidade dura alguns instantes, mas logo vejo num extrato que surge na minha mão, que aquele dinheiro foi debitado na minha conta, e que estou negativo no banco.
Olho o ATM e há um relógio digital que marca os juros em dinheiro, a cada segundo, que devo por ter aquela dívida. E o número vai crescendo rapidamente até eu ficar bastante angustiado. Tento usar o telefone, e nada.
Acho que há alguma relação com a minha vida em geral, bastante na verdade. Mas não posso negar também que posso ver o pesadelo como uma não metáfora, já que tenho mesmo pavor viceral de caixas eletrônicos, e todos os outros procedimentos bancários possíveis.
Sunday, July 29, 2007
Odeio
Odeio todos os calendários
Os que compro, os que ganho de presente
Os que acho em casa, nos armários
Os que vem pelo correio de repente
Odeio todos os oceanos
A distância que dão aos continentes
Os quilômetros, deus, são tantos
Que não há um só que agüente
Porém, embora nefastos
E ambos tão pouco amansados
Os calendários são pra serem gastos
E os oceanos atravessados
Não os odeio tanto.
Os que compro, os que ganho de presente
Os que acho em casa, nos armários
Os que vem pelo correio de repente
Odeio todos os oceanos
A distância que dão aos continentes
Os quilômetros, deus, são tantos
Que não há um só que agüente
Porém, embora nefastos
E ambos tão pouco amansados
Os calendários são pra serem gastos
E os oceanos atravessados
Não os odeio tanto.
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