Sunday, January 28, 2007

O teste. (rascunho)

Ela olhando-o com os olhos semicerrados afirmou uma pergunta que para ela parecia decisiva.
Disse:
- Talvez num outro contexto nada disso teria acontecido entre agente.

Ele ouviu fazendo força para não concordar. Nada jamais poderia acontecer num outro contexto. Os outros contextos não existem, e não existindo, tampouco pode existir qualquer coisa inserida nele. É lógico. Não é que nada teria acontecido num outro contexto, a verdade é que nem o nada poderia acontecer ali. Deixemos os outros contextos nos outros mundos, nas outras dimensões.

Mas prosseguira com seu raciocínio, pensava porque as pessoas se preocupavam com o que não existia, com os malditos contextos, com as escolhas que não escolheram, com os lábios que vizinhos não se encontravam, com o seco adeus na porta da festa, em vez de se preocuparem com aquele próprio contexto em que estavam, seja por força do destino ou do acaso. E já que estavam lá, de frentes um pro outro, meio bêbados, meio frágeis, qual era o propósito daquela pergunta fácil? Continuava querendo concordar com ela.

E se concordasse e falasse que o seu sentimento por ela era algo condicionado pelas circunstâncias, e absoluto, puro é que não era? e se pedisse licença para ir ao banheiro, lavar o rosto? Ganharia tempo. Foi que nun instante percebera que estava sob um teste. A sua presunção de que naquele momento, nada que eles dissessem um ao outro faria algum sentido racional,lhe dera a dica de que olhando para ela, era a hora de dizer irracionalidades. E falou-a das mais sinceras e belas irracionalidades deste mundo:

- Não posso concordar com você, Clara. Não posso parar de pensar que se te visse passeando na rua como estranha, e que nunca tivesse a menor chance de conhecer-te, eu mesmo assim ainda iria te parar, ou que um acidente de carro não aconteceria bem na nossa frente, fazendo-nos socorrer juntos as vítimas do desastre. e se tu fosses uma pobre, e eu um rico, ou o contrário, ou se tu fosses uma chinesa, eu um mercador europeu, e se tu fosses uma flor e eu uma criança, eu teria a decência de me apaixonar por ti, e não digo que é destino, nem acaso, pois não se trata disso. Olhar-te e apaixonar-me por ti é cumprir um dever que tenho com a vida, e com o amor, e qualquer situação em que eu não fizesse isso, estaria sendo menos eu, e o mundo derramaria uma lágrima triste, desesperado mais uma vez por alguém não ter sido si mesmo.

Ela abriu os olhos e se aproximou, beijando-o delicadamente.

Friday, January 26, 2007

Observação idiota

Observação Idiota

Dentro do ônibus que desce a augusta,
Passamos ao lado de uma loja de Ferraris

“tão perto e ao mesmo tempo tão longe”
um idiota comentou,

A senhora gorda ao seu lado
riu apenas o suficiente

Tuesday, January 23, 2007

Retorno

Aos poucos volto ao que podemos chamar de uma vida normal.

Deixo-os com "What I believe", de Ballard

I believe in the power of the imagination to remake the world, to release the truth within us, to hold back the night, to transcend death, to charm motorways, to ingratiate ourselves with birds, to enlist the confidences of madmen.

I believe in my own obsessions, in the beauty of the car crash, in the peace of the submerged forest, in the excitements of the deserted holiday beach, in the elegance of automobile graveyards, in the mystery of multi-storey car parks, in the poetry of abandoned hotels.

Wednesday, December 13, 2006

Pausa Estratégica.

Paro de escrever por um tempo, quer dizer, parar nao paro porque ando sempre com meu caderno, mas viajarei na quinta-feira e as conexoes com a world wide web nao serão tao frequentes.

Pontuo algo um pouco engraçado: Ha um amigo meu que tem um blog tambem. [dizem por ai que blog esta na moda... os jornalistas sao inacreditáveis, pois tranformam um não-assunto em algo de extrema importancia]. Mas proseguindo, um amigo meu tem um blog ai que uma moça sempre comenta [o meu também tem, é a Anna Luisa]. Mas o dele, para encurtar a historia, parece que tem várias coisas escritas diretamente para essa moça, então os comentários sao uma espécie de dialogo dele com ela. Os comentários no blog, sao como posts no blog, ja que fazem parte da historia e sao longos, bem escritos, etc.

Acabou ficando legal. Eu sei que essa nem é a intençao. Porque eu tenho uma teoria que ninguem faz nada legal pensando em ser legal. Mas essa especie de dialogo franco contem elementos de alteridade.

Juntando com outro assunto, o John Lennon expressa na sua musica "God" a síntese do conflito do homem com a civilizaçao, ou da relação amorosa com a civilizaçao. Ele, desiludido por ter tentado "mudar" o mundo, confiado em certas ilusoes religiosas e civicas, ve que verdade e fe só podem existir nele e no seu grande amor. Ele diz: "Nao acredito em mágica (em hitler, em kennedy, em budha, so acredito em mim e em Yoko", entre outras coisas.

O casal passou grande parte de sua vida lutando para o fim da guerra do Vietna, e de certa forma passou ao mundo a imagem de uma relação de cumplicidade ideal, que inspira todas as relaçoes amorosas.

Eu creio que toda a questao gire em torno de se achar alguem para compartilhar de um mesmo projeto. John Lennon e Yoko bolaram milhares de estratagemas para aparecerem na midia com mensagens anti-guerra: ja ficaram presos numa cama por dias e etc. Eram manifestaçoes artisticas. Quando falo "projeto", falo de coisas feitas que exijam criaçao e sensibilidade, coisas tipicamente humanas, mas construidas a dois.

O caminho quase natural do homem, que envelhece e se frustra com o mundo que não muda, sofre, nessa aceitação de um projeto em dupla, uma interrupção. A frustraçao restringe-se ao mundo, mas nao ao individuo nem a parceira, que se mantem incolumes e felizes. A fuga é saudável por uma simples e clara razao: se isso nao acontece, o homem passa a mudar a si mesmo para se encaixar no mundo que criticou ou morre.

Creio que essa seja a saida para que os loucos continuem sendo loucos. Quando Lennon diz que hoje so acredita nele e em Yoko, acho que é isso que ele quer dizer.

Eu, humildemente, vou viajar. Se possível, passarei em Pasargada para ver como andam os negocios. Volto mais tranquilo, e com mais amores. A pausa pode servir para encontrar Yoko e ver como é que é.

Afinal,
"tudo é como é e assim é que é, E eu aceito, e nem agradeço"

Saturday, December 09, 2006

O Aumento das tarifas de transporte publico em SP

Para aqueles que acompanham esse debate gostaria de fazer uma reflexao; (No teclado de meu computador os acentos parecem nao funcionar corretamente, peço perdao desde já)

Aparentemente, o aumento (acima da inflaçao registrada desde o ultimo aumento) das tarifas de onibus e metro se justificaria por uma pressao nos custos das concessionárias de onibus e da empresa publica que administra o Metro, ou seja, as margens necessitariam ser recompostas para manter a sustentabilidade do sistema de transportes nas duas areas (realização de investimentos no futuro).
Alem dos tradicionais fatores que pressionam os custos para cima (eu diria a mais pura ineficiencia no caso das concessionárias de onibus, mas colocariamos ai tambem salarios, compra de novos onibus, aumento dos gastos com manutençao),* uma causa que tem sido bastante mencionada nos meios de comunicação e a implementação do bilhete unico.

Bem, como todos sabem, o bilhete unico permite que com o pagamento de uma unica passagem de onibus se possa fazer 3 viagens no prazo de uma hora e meia. Ainda permite, se pagar um pouco mais, fazer a integraçao com o metro.

A alegaçao é de que, e olhe que tirei isso do editorial do Estado de S. Paulo, o bilhete unico esta comprometendo os gastos da prefeitura, pois tem aumentado o valor de subsidios que ela da as empresas de transporte publico para que a tarifa mais baixa fosse mantida (a relaçao estabelecida e clara com as "viagens grátis" e gratuidades com deficientes e idosos que o bilhete garante aos cidadãos). Alem do mais, o bilhete unico havia aumentado o numero de usuarios do metro e do onibus, sobrecarregando o sistema. Assim, o grande avanço que foi o bilhete unico seria uma especie de "Herança Maldita" que agora a prefeitura tem que suportar.
Ora, sao duas informaçoes conflitantes: O aumento no numero de usuários não teria ajudado as concecionárias a aumentar a sua receita, e ainda que os subsidios continuassem ser necesarios eles teriam de ser menores?**(já que o sobrecarregamento do sistema indica que nenhum novo substancial investimento esteve sendo feito). O segundo ponto e que o metro em especial, se fosse receber subsidios o receberia do governo do Estado, e ainda assim o Metro nao recebe nenhum subsidio, segundo informação da propria empresa, num trabalho que minha classe de administraçao publica fez. Por ultimo, a maldição que caiu sobre a prefeitura parece ter caido sobre todas as prefeituras das grandes cidades medianamente civilizadas do mundo. Muito estranho.

Pode-se discutir se o aumento foi necessario, ou se poderia ter sido maior ou menor. Mas culpar um avanço na forma como se disponibiliza o transporte publico na cidade e uma estupidez.

Um outro ponto foi a sugestao de que a tarifa de metro, em vez de se igualar com a de onibus, aumentasse mais. O editorial arriscou dizer que o bilhete unico trouxera a superlotaçao dos onibus ao metro, que era o unico meio de transporte confortavel que tinha o paulistano. o aumento maior na tarifa do metro manteria a superlotação restrita aos onibus. Eu conclui que o editorial disse isso porque quem o escreveu pegava metro, e não onibus. Ora, "o onibus e a eficiencia do transporte publico como um todo que se dane, eu quero e o meu lugar para sentar no metro".

Os paulistanos tem uma terrivel mania de se orgulhar do metro e achar ele um transporte mais nobre que o onibus. "O metro de Sao Paulo e o mais moderno". É uma ova. Nao há ar condiocionado no verão nem bancos acolchoados como em qualquer metro de qualquer grande cidade latino-americana. A interpretaçao exagerada que tive foi que o editorialista queria mesmo era dar uma selecionada no publico do metro.

O metro é um transporte de massas. Tem que ser cheio mesmo, para poder levar todo mundo ao trabalho, nao ao parque. E só sera confortavel quando todos os investimentos nas linhas forem feitos, pois nossa cidade tem 11 milhoes de habitantes e o que existe é insuficiente. Impedir que o numero de usuários aumente é resolver o problema artificialmente e com mais exclusao, pois a demanda continua a existir. Se o onibus tem uma desvantagem competitiva e perde usuarios para o metro, que entao inove nas suas tecnicas de gestao para aumentar a qualidade do serviço, em vez de pedir proteçao (um aumento maior no metro protegeria as empresas de onibus).

Na minha opniao, a decisao do governador Lembo foi acertada, de manter o aumento para R$2,30 a despeito das reclamaçoes dos tecnicos e dos jornais, de que isso nao cubriria os custos. Tarifa de transporte publico e uma decisao meio politica e meio tecnica, para mim foi acertada porque foi ética, isto é, ele levou em consideraçao os pontos que eu coloquei.

Claudio Lembo me agrada.


* Vale dizer que contratos de concessao devem estabelecer uma margem de lucro para empresa recuperar os investimentos e que os reajustes sao previstos no contrato administrativo.
** A unica hipotese em que um aumento do numero de usuarios resultaria num aumento dos subsidios necessarios é quando os subsidios forem per capita. Pergunto: Porque as empresas precisam de um subsidio per capita? Os subsidios nao sao para ajudar na amortização dos investimentos? Por exemplo: Um onibus que transporta 5 pessoas na meia noite precisaria ter seus custos subsidiados (porque o custo da viagem e a amortização da compra do onibus e maior que a receita pode empatar), mas se em razao do sobrecarregamento ele passa a transportar 20, o subsidio nao deveria ser multiplicado por quatro, justamente por que a receita passa a cobrir os custos variaveis e fixos! O subsidio tem que ser diminuido!

Monday, December 04, 2006

Auto- Retrato + Declarações prontas para qualquer momento.

Sobre minha vida não tenho controle tampouco ausência de controle
Minha vida é separadamente do que sou e do que pode ser mudado
Ao mesmo tempo sou o que quero ser, e sou o limite do meu sonho
Já minha vida não, minha vida é um sangue adicional que se movimenta
Não me venham então com os limites da minha vida, porque isso é problema dela
E posto que ela está dentro de mim e não eu nela, sou eterno, arrogantemente eterno.

Fui muito repreendido por ser romântico, por ver a vida romanticamente
Gostaria de ser romanticamente repreendido por romantizar a repreensão

Declaração prática de amor

Veja, o amor de nós dois custa pouco. Está aí a justificativa econômica. Agora façamos como fazem hoje em dia depois de ouvirem a justificativa econômica: não perguntemos mais nada.

Declaração de amor para quem merece amor verdadeiro

Só uma merece amor verdadeiro. Foi aquela que ao beijá-la disse: “pronto, agora já quebramos o gelo”. Foi por isso que me apaixonei por ela.

Por isso que quando olho você penso em coisas maravilhosas, sensacionais. Quando não consegui distinguir meu sentimento meu do seu, soube que nunca mais seria o mesmo.

E o Amor ronda-nos aflito a esperar
O toque do sino de nosso reencontro
Para Ele poder festejar, triunfal
O que pensou que: pronto, não veria mais
Antes de morrer, de cair morto no chão:

A Aurora,

-E então-

Ele trará seu inato riso incontrolável
Aos Outros, ingratos, sentimentos menores
Que sempre o invejavam e diziam:
“Criança velha, caduca, imprestável!”

Mas por enquanto
Seu beijo se foi, junto com você
Eu fiquei com saudades

(Já disse para o Amor cuidar disso
Que é um problema, não?
Afinal é também interesse Dele
Restaurar seu respeito com os Outros)

E apenas espero junto com Ele em meu peito

*Se não convenci dizendo que isso é para o bem do Amor em geral e para bem geral do mundo (imagine um mundo sem amor), nem na justificativa econômica (esta foi só pela piada), que tal dizer apenas que eu quero você. - E nada além?

Wednesday, November 29, 2006

Desculpas Esfarrapadas

Uma vez esse ano nós atrasamos na entrega de um trabalho. Comigo isto é coisa incomum. Em vez de choramingar com o professor, não falei nada. Mantive a classe, porque indivíduo classudo é assim mesmo, e lhe entreguei uma carta explicando tudo. Funcionou. Os nomes foram omitidos por tratar-se de uma história fresca e real.

Justificativa/ Situação presente do Trabalho.

Caro Professor,

A não entrega das primeiras análises do trabalho pelo nosso grupo se deve a razões um tanto típicas e razões extraordinárias. A primeira dessas razões típicas é que nosso grupo iniciou seus movimentos tardiamente, o que prejudicou o tempo hábil necessário para convencer a organização a ceder o espaço para entrevista, sem que fosse necessário uma corrida atrás do tempo ou algum tipo de demonstração de desespero para com a empresa contatada.
O (***) ficou encarregado de fazer o contato, enquanto os outros tratariam de preparar a entrevista assim que ele fosse confirmado. Acontece que o tempo foi passando inexoravelmente e quando vimos, faltava uma semana para entregarmos a primeira parte. Podemos concluir daí uma outra razão típica: a não preocupação da maior parte dos integrantes do grupo com o andamento do trabalho acarretou numa despreocupação do grupo como um todo, embora em algumas ações individuais essa preocupação tivesse existido. O senhor, como professor de psicologia II deve entender isso melhor do que nós.
Mas logicamente, além dos problemas de ordem temporal na realização do contato e o salutar desinteresse dos integrantes, houve alguns imprevistos exógenos. Explicaremos a seguir:
Ao termos definido a empresa pública, ligamos ao nosso contato e já encontramos disponíveis as quatro pessoas de um mesmo departamento para fazer a entrevista. Todavia o que nós não podíamos adivinhar era que essas pessoas estariam envolvidas na campanha política de um mesmo candidato e nas duas últimas semanas não poderiam parar um só segundo. Nós, otimistas, olhamos isso como um bom sinal, já que poderíamos na entrevista detectar algo do trabalho de campanha misturado ao trabalho do cotidiano. Mas infelizmente foi isso que nos impossibilitou de chegar de fato a entrevistar essas pessoas, pela sua imensa falta de tempo disponível frente ao frenesi eleitoral.
Passado o infortúnio, precisávamos decidir se iríamos manter a idéia de entrevistar essas pessoas após o prazo-limite, ou se tentaríamos uma outra empresa. O (***) tinha umas sugestões, mas era muito próximo aos donos dessas empresas, foi aí que o (***) apareceu com a idéia de contatar uma empresa a qual ele soube que a Empresa Junior já tinha relações, e sabia ele que era uma empresa bastante aberta a esse tipo de iniciativa.
O único problema era que não era uma empresa de grande porte, na verdade, é uma farmácia, com um único dono, e que realmente se animou bastante com o fato do trabalho poder ser feito com seus funcionários. Optamos por ficar com o que é mais certo, além de uma empresa pequena oferecer diferentes percepções por parte dos funcionários em relação ao seu trabalho, e poder ser um local fértil para análises criativas baseadas no conteúdo estudado. Hoje já nos reunimos com o dono da farmácia, e parece que está correndo como o esperado. Pretendemos marcar para logo as entrevistas, e assim que terminarmos iremos entregar tudo bem analisado, bem estruturado e escrito, a fim de que acabemos com essa má impressão inicial, que é falsa, pois garantimos que o nosso trabalho será um dos melhores.
Esperamos dessa vez aprender com os erros e nos ajustar novamente aos estágios corretos de desenvolvimento do trabalho. Queira desculpar-nos.

Obrigado

Wednesday, November 22, 2006

I'm bitter.

You know, maybe in the 60's the use of drugs might have meant something. Today is the same as being consumist or sitting in the caught watching sunday TV shows. It is nothing. It simply doesn't impress me, it doesn't offend me or old people anymore, doens't challenge power or opression. So, for me there's no point. You support a criminal activity, you give money to corruption around the planet, and all that to transform you in the same average man that you have always been and always will be. So It is better to sit in the caught and watch sunday TV shows. It is equally alienating and fun.

Friday, November 17, 2006

Canção do emigrante brasileiro

Por mais terras que eu percorra
pois permita deus que eu morra
sem que eu volte para lá
para que eu tenha o meu visa
que eu consiga ter divisas
e boa vida em Utah
minha vitória final
o mais longe do covil
da pobreza animal
e o sorriso azul anil
um brinde ao meu ideal
e à glória do meu Brasil

Wednesday, November 15, 2006

Economia

Eu não deveria passar meu tempo livre falando de economia, porque eu já vejo isso a semana inteira na faculdade. Mas há uma entrevista muito interessante que todos, inclusive não iniciados em economia, deveriam ler.

O entrevistado é Milton Friedman, um grande economista que meio que inaugurou o monetarismo. Monetarismo é uma corrente da macroeconomia que entre outras coisas, é famosa pela tese de que a inflação é um fenômeno predominantemente monetário. Ela se confronta em vários aspectos com a teoria keynesiana. A razão do confronto é muito simples: para os monetaristas, para que a economia de um país se mantenha estável basta o controle da oferta de moeda. O governo tem seu papel reduzido. Sem dúvida este é um pensamento predominante hoje.

Para situar um pouco, o monetarismo tem a ver com todas as teorias que acreditam no mercado como um mecanismo eficiente de alocar recursos, e surgiu no mesmo período das novas teorias de desregulamentação do mercado. Então Milton Friedman pode ser colocado ao lado de F. Von Hayek e os outros teóricos do neoliberalismo.

Bem o neoliberalismo é bem conhecido como uma teoria que prega a rendição incondicional a uma determinada cartilha de políticas muitas vezes que não fazem sentido, pois não se pode aplicar as mesmas políticas em qualquer país.

Mas algumas partes da teoria são aproveitáveis para se fazer uma reflexão a respeito da sociedade, e quê modelo uma sociedade é capaz de escolher para si. Será que abrir mão da liberdade econômica é desejável para se construir uma sociedade igualitária? Ou qualquer coisa que implique na perda de alguma liberdade já é por si só pior do que a liberdade, com todas as suas más consequências?

Para conhecer a fundo essas teorias deve-se quebrar alguns preconceitos. Como na faculdade de economia nós temos poucas chances de conhecermos outras correntes do pensamento, eles ganham um espaço especial. Mas são pensadores consistentes, não são oportunistas, enganadores, demônios, como pensam, e até é preciso conhecê-los para se poder fazer alguma crítica.

www.digitalnpq.org/archive/2006_winter/friedman.html

aqui está a entrevista. Aproveitem.

Próximo texto escreverei sobre um artigo interessante que li, sobre o comportamento dos políticos em época de elições.

Sunday, November 12, 2006

Defeitos Futuristas

Certo dia me avisaram
“Vai ter explosão lá no Novo México”
Gostava daquilo, de como soava:
uma bravura, uma barbada

Fiz questão de ficar bem perto
Veio o barulho, um calor de se tirar a camisa
Como era linda
Como brilhava
Aquela grande explosão

Voltei para casa sorridente
Olhei no espelho, que surpresa!
Parecia uma obra de arte
valor: 1 milhão de do-lares
a minha disposição

e ainda geometrizado
cores austeras
nariz no cabelo
boca na perna
olho no braço
sem perspectiva -nenhuma- de viver
que posso mais querer?

Cubista, Cubista, Cubista
pra todos que querem ver
Ninguém precisava ir ao museu
eu estava na praça do liceu

era um Picasso,ou um Braque
ou um Cezánne.
autêntico, original,
a bomba atômica
havia me transformado
em algo absolutamente genial

Sunday, November 05, 2006

cena romântica






Gay, mas muito bonita cena.

Saturday, November 04, 2006

Poemas de amor

Ao fim da tarde desse dia
Deu-me uma vontade tremenda
De escrever poemas de amor

Quando isso acontece eu ligo a TV

Na TV passam mortes demais
(E a vontade não passa)
Golpes, esquemas, máfias
O mundo é uma decepção só
Uma decepção que é uma espera do tamanho
De uma senha inválida no caixa eletrônico 24 horas

É a frustração eterna e intermitente
de nossos dias
(minha vontade aumenta)
vou ao bar, peço sei lá o que,
um salgado
com sorte estará envenenado
e o veneno explodirá minhas veias
me deixara sem ar, perdi-me, morri

no fim da vida
minha maior frustração
foi não ter escrito
poemas de amor nesse dia

Wednesday, November 01, 2006

Eterna reminiscência

Quem está longe provoca melancolia na gente.

- Tenta escrever! solta! não dá.
É sentimento na mente, vindo do peito,
E pára... de parar de pensar!
E pensa,
Viva a melancolia(!), saudade ingrata,
Injusta falta de alguém, maldade,
Raro auge de tudo o que é e tem.
Consequência inexplicável do acontecimento das coisas,
Da tristeza palpável dos homens palpáveis,

E lembra.

Agora deita na tua cama e dorme,
Mas não dormes, sonha,
Sonha estúpido!
Que a vida não trará a sua luz,
De graça? nem poderá nunca trazer.
Esqueça, ou melhor,
Não sonhas,
Vai até ela, ou melhor, vai logo,
Que a angústia preparou um banquete,
E sorridente inda te come vivo.

Monday, October 23, 2006

lembrança barata

Lembra, meu GI joe, que sentávamos no tapete da sala de casa, e que juntáva todos os outros bonecos heróis que tinha com você; fazia vocês se reunírem em assembléia para discutir como iríamos combater o mal?

Um dia soube de você simbolicamente na minha cabeça que mesmo quando eu ia na escola, vocês ainda ficavam lá no tapete, acertando os últimos detalhes, num burburinho que só; Hoje deixo-os quietos numa caixa de sapato no fundo de um armário.

Esplêndida realidade.

Sunday, October 15, 2006

Conto.

mandei esse conto para um concurso do Estado de São Paulo, que deveria ser sobre futebol. Definitivamente não ficou bom, mas acho que tem algo aproveitável no texto que eu gostaria de retrabalhar. De qualquer forma, coloco-o aqui.

O pai do Amauri não podia assistir à nossa final, disse o treinador. Não era uma questão de maldade, era crucial que ele não fosse. Lembro bem do professor avisar que não queria tumulto porque o jogo da final ia ser num colégio de padres. Os padres não gostavam de briga nem que a torcida xingasse o juiz, do contrário não seríamos mais chamados para competir nos outros quadrangulares. Por isso foi vetada a presença do Sr. Teófilo. Ele não se controlava, poderia nos prejudicar.

Antes ele era quem nos levava aos jogos do São Paulo. Não podia alguém ficar de pé na frente dele mais de um minuto que já vinha xingamento brabo. Os palavrões que sei devo ao pai do Amauri. Tantas eram as reclamações das mães, dos moleques voltarem dos jogos com a boca suja, que o Sr. Teófilo não pôde mais nos levar. Sem fazer nada aos domingos, ele devia se sentir sozinho. E pior é que era indesejado também no nosso time modesto da 6a série.

O Amauri arranjou um jeito de que sua mãe assinasse a convocação para o jogo, numa hora em que seu pai estava no trabalho. Deu uma dor no peito. O pai o Amauri era o único pai que ia nos jogos mesmo, em todos, levava a sério. Talvez para nos dar um certo apoio. O jogo seria no sábado de manhã, íamos com a perua do colégio. O motorista sintonizava a rádio numa estação de pagode e nos sentíamos na Várzea. Vinha a completude nostálgica da Várzea, uma gritaria total embora o professor já naquela idade falasse em concentração.

Chegando à quadra, corremos diretamente para o vestiário. O professor deu as camisas. Eu era o número catorze, banco, maldito banco, um atestado de incompetência, mas também de humildade, nobreza, resignação. Maldito banco. Vestimos nossas caneleiras, meiões, chuteiras, levantamos, e o professor pediu para rezarmos um pai nosso. Só quem já jogou futebol entende o misticismo que é momento da preleção. Enfim, finalizada a reza e as instruções finais do professor, já fomos para a quadra. Eu carreguei as garrafas de água e já me acomodei no banco. Os titulares já iam para a quadra chutar no gol.

Meus olhos procuravam minha mãe na torcida. Minha mãe, que nunca assistiu nenhum dos meus jogos, trabalhava de sábado. Mas quem sabe estaria acenando para mim, teria uma surpresa. E tive. Na primeira fileira da arquibancada estava lá o pai do Amauri, de braços cruzados, olhando os moleques chutarem bola. Ia avisar o professor mas não fui, deixei-o. Senti um aperto no coração.

Teve um lance em que o Amauri tomou uma falta feia, e o juiz não marcou. Olhei para o Sr. Teófilo e ele ficou quieto, se segurando, com uma bruta raiva do juiz, do treinador. Mas não disse nada. O placar marcava zero a zero até que o nosso fixo chutou uma bola para escanteio. Jogada ensaiada e uma bomba que nosso goleiro nem viu. Um a zero, fomos vice-campeões. Eu nem me importava mais com o jogo. No fim dele o Sr. Teófilo foi até o Amauri e lhe deu um abraço forte que me lembro até hoje.

Sunday, October 08, 2006

O Debate de hoje e o Caos da Humanidade

Prestemos bastante atenção no debate de hoje, para o nosso próprio bem e sanidade. Não porque isso vá nos ajudar a escolher o melhor. Será mais fácil a constatação nossa de que não há diferença substancial entre nenhum dos candidatos à presidência. E eu disse substancial.

Podemos achar uma característica aqui ou ali que nos faça votar num ou noutro. Não menosprezem as nuances e as sutilezas de cada um, inexplicavelmente elas são essenciais, principalmente para o julgamento das pessoas. Agora, o importante é não acreditar na ilusão de que se um for eleito estaremos caindo nas trevas mortais da ignorância ou do neoliberalismo.

É muito comum, em diversos períodos da história, o homem aparecer com o discurso de que se "isso" acontecer vamos caminhar para a degeneração humana e da civilização. É irritante quando é mentira.

Este é um desses casos. Há muitíssima semelhança de propostas vagas, e as melhorias prometidas são sempre de natureza incremental. Eu me vejo assistindo uma luta de boxe que começa com a apresentação de Lula e Alckmin:

"De um lado, ele, Lula, antiga esperança do povo, pesando o suficiente para adquirir o futuro epíteto de bonachão e um lugar entre o segundo escalão dos estadistas brasileiros (e olhem que o primeiro não é lá essas coisas), que enfrentou diversos problemas com corrupção em seu governo e tem sido questionado junto com seu partido sobre sua integridade ética."

"Do outro Alckmin, "o genro que toda sogra queria ter", tem laços com a Opus Dei, o que faz todo mundo lembrar da sofrível leitura de Código Da Vince entre outras coisas, amparado pelo ideário e o discurso de rendição incondicional do neoliberalismo, e que chegou a ter o disparate de dizer no debate passado que "o novo conceito de ética na política era eficiência."

E eu da platéia, sem dinheiro e preocupado com o futuro, resolvo nem apostar em ninguém. Abaixo minha cabeça com os cotovelos apoiados nos joelhos e tento fechar os olhos para ver se sonho por cima do pesadelo, seguindo um pouco a idéia de Álvaro de Campos:

"Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da humanidade. "

Saturday, September 23, 2006

Saiu-se bem.

Ouvi uma história assim essa semana que eu enfeitei.

O sujeito estava duro, sem dinheiro. Às vezes surgia um bico aqui ou ali, mas de forma geral, sempre estava preocupado se ia ou não virar mendigo de vez. É um medo que aflige muitos no mundo contemporâneo, mais do que o medo de falir, de perder os entes queridos: o medo de ser mendigo na Sé. No bar que ia para afogar suas frustrações devia dez cervejas, e toda vez que passava por lá, mesmo que tentasse se esconder, o dono do bar o via e dizia:

- "Olha lá, tem dez cervejas aqui depois". - Ele abaixava a cabeça, envergonhado, e continuava andando.

Um dia, puto com a vida, estava perto e foi dar uma volta no shopping pra distrair um pouco. Não ia comprar nada, só olhar mesmo. - "Estava até querendo comprar o celular, mas achei aqueles modelos muito chinfrins", disse ele pro amigo que trabalhava na sorveteria do shopping.

Na volta passou pelo mesmo bar e o dono o viu:

- "Olha lá, tem dez cervejas aqui depois ein malandro". Abaixou a cabeça. Tinha que arranjar um jeito de pagar aquelas cervejas.

No fim da tarde foi num pagode para ver se esquecia sua vida miserável. O amigo pagou a entrada, pois ficou sabendo que ele havia esquecido a carteira.

No pagode conheceu uma moça simpática que queria impressionar. Sem emprego, sem dinheiro, pelo menos mulher ele tinha que ter, e na ausência dos outros dois é cada vez mais difícil. Falou-lhe umas mentiras ao ouvido, que é perfeitamente lícito na situação em que ele se encontrava. Saíram mais cedo e foram passear, assim ele aproveitava e a deixava em casa. Por coincidência ela morava pertinho dele. Estavam se dando bem, coitados.

Quando o camarada percebeu que teria que passar na frente do bar em que devia dinheiro, se desesperou, iria provocar uma má impressão e daí só lhe restaria virar mendigo, pensou. Não muito tempo depois, o dono do bar o viu e disse:

- "Olha lá, tem dez cervejas aqui depois ein!"

Quem está na merda tem que pensar rápido. Ele retrucou:

-"Põe pra gelar então que amanha eu passo pra pegar!". E seguiu reto de cabeça erguida. Seu orgulho o salvara.

Friday, September 15, 2006

Futebol e Filosofia.

Lembrei dessa cena genial do monty python. Sempre dou risada.

Thursday, September 14, 2006

espero que seja uma profecia não auto-realizável.

Anotem aí. A psicopatologia do seculo XXI é a Normopatia. Essa doença de ser tão normal, normal, que se é levado a um estado de letargia, em que se perde a faculdade de julgar e pensar.


Podem anotar.