Thursday, September 27, 2007

Choque de Culturas

Creio que por ser Brasileiro, e. portanto. selvagem, eu não sou capaz de entender alguns dos raciocínios do mundo civilizado. Examinando um desses documentos do Banco Bundial, sobre o "Civil Service" no mundo, li uma passagem que demorei trinta minutos para achar alguma lógica. A passagem falava de como prevenir que cargos públicos de indicação política (cargos em comissão, para nós aqui no Brasil) se tornassem um instrumento de patronato, de um Estado Patrimonial, em vez de serem para o bem do estado Burocrático. Eis a passagem:

"Little is known about how individual politicians are constrained to ensure that pure political appointments serve overall government objectives. One interesting example is Sweden where political appointees are guaranteed salaries for 2 years after dismissal. Norwegian political appointees are treated similarly, although the guaranteed allowance continues only for 2 or 3 months. the effect of these arrangements is to prevent any ministerial appointemnt from being interpreted as a purely personage patronage position"

(???) Bom, a única lógica que encontrei, foi que o indivíduo indicado não teria rabo preso, por ter os salários garantidos por tanto tempo. Mas imaginem no Brasil a farra que não seria?

Definitivamente o Banco Mundial não conhece o que é um Estado Patrimonial. Nós, selvagens, sim.

Friday, September 21, 2007

O homem sem eco (inc)

O homem sem eco
pelos becos, sozinho
com dor no peito
gritava, gritava alto

nem ele escutava seu próprio grito
os vizinhos não reclamavam
os policiais não ouviam

o homem sem eco
morreu de quê?
morreu de opaco
ele não vê
não ouve. Não houve.

não causou desgosto
não deixou herança, mulheres, filhos
não tinha seu próprio endocrinologista
ou gerente de sua conta bancária

este homem, único homem absoluto da história, passou
e o mundo autista não viu

Thursday, September 20, 2007

CPMF e EU.

A CPMF não tem nada a ver comigo. Nunca usarei camisetas contra impostos, disto tenho certeza. Aliás, ouso dizer que nunca usarei uma camiseta para levantar qualquer bandeira. Para isto existem as bandeiras.
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Bem, desculpem ir logo começando a falar de assuntos pesados, mas precisava desabafar. Já já mudo de assunto.

Uso as madrugadas para ler o que tenho que ler. Não as coisas da faculdade, porque isso eu faço de manhã, quando acordo, já que estudo a tarde e à noite (faço uma jornada de 10 horas). De madrugada eu leio aquilo que eu defini que teria que ler algum dia. Muito das coisas que faço são assim, tenho percebido. Simplesmente defini que teriam que ser feitas. É uma espécie de teimosia mais rara.

Então leio esses livros, uns mais leves, como esses clássicos da literatura, e uns mais pesados, como esses clássicos da filosofia etc. É meu momento só, não que seja o único, pois estou sempre andando por aí, só. Mas quando ando por aí estou só, mas com gente à minha volta. Gosto de ficar sozinho porque a mim sei que agüento, e que às vezes sou do meu agrado.

O problema de ler de madrugada, é que não se dorme bem depois, as palavras ficam passeando pelo cérebro durante o sono. E os raciocínios maquinando. Quando acordo, parece que fiquei o dia inteiro em conflito de idéias, num debate caloroso. Então fico deitado, acordado na cama, um tempo tentando descansar, olhando para o teto. Tento pensar em mulheres simpáticas, cumprimentando-me, sorrindo. Mulheres que conheço, e as que desejo rever um dia. Lembro das que magoei, das que me desculpei, das que não me perdoaram, das que, por ser jovem demais naquela época, acho que esqueci de beijar. Mas a vida continua, por isso elas sorriem. Aos poucos as idéias vão tomando outra forma. Quando levanto da cama, estou em equilíbrio, um tanto reflexivo, um tanto emocional.

Tentei já parar de ler de madrugada, pois isto me tirava algumas horas de sono, e me deixava agitado. Mas aí vi que não teria outra hora para ler o que teria que ler. Eu passo um tempo aprendendo coisas, como uma fuga, e eu também aprendo coisas para garantir que eu seja ouvido, que eu não fique só.

Nada dessas coisas funcionam.
Hoje tento, em vez de ler, escrever, e sei que também não irá funcionar. Amanhã é outro dia, e a vida continua. Acordarei do mesmo jeito, como quem emerge de um debate ideal.

Sunday, September 16, 2007

Sobre estar na contramão

"Mas todas suas iras são de Amor;
Todos os seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria."


É sempre bom relembrar o velho Camões. Os sonetos são a forma poética mais lógica e racional, portanto, um bom soneto de amor é sempre estranho (no bom sentido de estranheza) para quem lê. É Estranho, mas ainda assim muito melhor que os poemas do romantismo, que são sofríveis. Difícil achar um bom. Mesmo gostando de Álvares de Azevedo, por várias vezes durmi no meio de seus poemas falando de virgens dormindo de seio nu.

Hoje, nos livramos do romantismo, mas esquecemos que o amor sem ser romântico ainda pode ser amor. E que o romantismo, quando tiramos as virgens dormindo de seio nu, não é nada importante, mas um acessório que torna a vida mais bonita.

Aceitar o amor e a paixão pelo outro como uma parte da vida, e algo a se buscar, e até a se priorizar, não trocar por nada, e um elemento indispensável para a obtenção do belo, é como estar na contramão do que se diz por aí. Os jovens, quando muito, aceitam às pressas, mas logo abandonam essa idéia, quando sofrem por isso e etc, depois dizem-se maduros. Ao contrário, creio que a maturidade é atingida apenas quando os indivíduos percebem essa escolha de forma lúcida, duradoura e serena, apesar dos contratempos.

Saturday, September 15, 2007

Educação - Inclusp

Muitos acham maravilhoso o programa de inclusão social da USP, o INCLUSP. O aluno de escola pública tem preferência na contagem de pontos (3% a mais) em relação aos alunos de escolas privadas, no vestibular da FUVEST. O argumento todo gira em torno do fato de que, bem, os alunos de escola pública são pertencentes a camadas menos favorecidas da população. É uma política pública de discriminação positiva. Eu, particularmente, sou a favor dessas políticas, tanto de cotas universitárias para negros, se quisermos combater o problema do racismo (situação de fato), como de cotas para alunos de baixa renda, se quisermos combater a desigualdade social.

Entretanto, o Inclusp fica no meio do caminho. Nem toda escola privada é o Santa Cruz, Bandeirantes e Rio Branco. Nem toda escola pública é uma escola estadual em Parelheiros. Há escolas privadas em que a mensalidade é de R$50,00, e que recebem alunos tão menos favorecidos quanto as escolas públicas ruins. Há escolas públicas, como a escola técnica Federal do Maranhão, que o filho do governador estuda, e o filho do juiz, etc.

Regime de propriedade de escolas não é critério algum. O que a USP pode estar fazendo, consciente ou não, é selecionando os melhores alunos das escolas públicas que se equiparam em qualidade à boas escolas privadas, e deixando o aluno pobre, com menos oportunidades, de escola pública, e o pobre de escola privada, sem qualquer benefício. Isto não é política de inclusão social, por mais que digam que é.

Renan Calheiros

Não sei dizer se o governo fez o cálculo político correto. Ao que parece, ele fez. Ao apoiar Renan Calheiros, pode ter conseguido uma fidelidade importante do PMDB, e do presidente do senado, que não é pouca coisa. No entanto há a questão da oposição e a prorrogação da CPMF, que poderia se acalmar caso o governo consiga com que Calheiros peça afastamento temporário.

No entanto, no jogo político democrático, a grande burrice é desprezar o componente eleitoral de tudo isso. Se a população julgar este ato ilegítimo, provavelmente alguns senadores podem começar a temer por sua reeleição em 2010. A prova de que o Brasil está mudando não estaria na condenação política de Calheiros, como muitos pensam. Ao contrário, esta mudança só será de fato mudança quando vier da própria população, mais concretamente pelo voto ou algo parecido, de forma que o político reflita previamente sobre este risco no seu cálculo político (de permanência no sistema).

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Wednesday, September 12, 2007

Tim Maia - Do Leme ao Pontal



"quem não dança segura a criança"...

A simpatia

A grande maioria das pessoas é difícil de simpatizar. E eu nem quero ser misantropo, sempre sou simpático, dou risadas. Mas há dessas vezes em que olhamos para o que uma pessoa está falando e achamos idiota. Não sei. Algumas coisas irritam mesmo. Irritam-me essas coisas que as pessoas sempre falam, como se elas estivessem falando no piloto automático, o small talk medíocre. Irrita-me porque aquele indivíduo fala alguma coisa e e me faz pensar que qualquer outro indivíduo que estivesse no seu lugar falando a mesma coisa não mudaria em nada aquela situação.

Eu não pressuponho que os seres humanos sejam únicos, ou que eles não sejam normais. Nem gostaria que cada um falasse de um jeito. Gostaria apenas que as situações fossem específicas, próprias a cada contexto, e aí não acharia que estou perdendo tanto tempo em viver.

O sentimento de que não há contexto para os acontecimentos me irrita profundamente. E conversar com qualquer pessoa hoje, conhecê-las, é pairar sobre o vago, o não-específico, sobre o qualquer. Logo passo a odiá-las secretamente, embora mantenha sempre guardado este ódio viral.

Friday, September 07, 2007

desequilíbrios (incompleto)

Ainda sinto minha pausa na natação
sinto que meus braços estão atrofiando
e junto com eles minha disposição
e um descompasso, posto que muito ando
entre a força das minhas pernas e de meus braços

Eu sei que deve-se fazer exercícios
Vejo isto nos programas de televisão,
que me exortam também a outros vícios
que me exortam a reciclar e a ouvir minha família
Um dia, que eu estiver em paz comigo
Farei tudo como mandam
Enquanto isso, mantenho-me (de pé, masnão muito firme) sem abrigo

Tuesday, September 04, 2007

Comerciais



A partir dos comerciais, é possível fazer análises sociológicas interessantes. É comum a alusão, nos comerciais brasileiros, a produtos que são "de primeiro mundo", ou seja, que têm a qualidade dos produtos das grandes nações industriais. Celso Furtado diz, entre outras coisas, que os consumidores brasileiros de alta renda procuram imitar o que se consome no primeiro mundo, e por isso forçam a criação de uma indústria de capital intensivo com dificuldades de competição externa. No Brasil temos esta obsessão pelo desenvolvimento, talvez em razão da grande promessa que éramos, e ainda somos, mas que não decolou, haja visto a crise da dívida externa nos anos 80 dos países subdesenvolvidos e o desequilíbrio e estagnação total de nosso sistema econômico.

Um dia tomaremos um café solúvel decente. Fim da reflexão.
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Meu pai fazia esses comerciais no tempo da minha infância. Ele aparece nesse, em que diz a frase final, vestido de piloto de avião. Olhando a atuação impecável, dá para entender de onde tirei todo este apelo imagético.