Fugiu-me a linha de raciocínio em que estava...
Mas deixe eu lembrar: Acho que estava em
“Você, que em pouco tempo ganhou meus pensamentos inquestionavelmente; provocou em mim a vontade de andar na calçada contente, cantando qualquer música que e estivesse gravada na cabeça; que deixou-me preocupado com o que você achasse de mim...”
“Você é a pessoa que eu fiquei imaginando encontrar hoje.”
E só agora eu entendo porque perdi e tenho perdido completamente minha linha de raciocínio.
Thursday, April 26, 2007
Monday, April 09, 2007
Pensamento Positivo.
A maior prova de que pensamento positivo não funciona, é que eu estou há anos mentalizando o bloqueio mental de todos os autores de livros de auto-ajuda, e isso não vem acontecendo, infelizmente. É uma pena, mas cada vez há mais surpresas, inovações, na produção internacional de um besteirol tão agradável.
Eu não tenho nada contra as pessoas procurarem métodos que as façam viver melhor, só digo que é sempre bom desconfiar de alguém que diz que você vai conseguir todo o sucesso que você quiser, e ainda ganha dinheiro dizendo isso. Não é pessimismo, eu até acho que não conseguir tudo o que você quiser faz parte da vida e é essencialmente bom para o caráter.
Um problema básico é esse: Não há BMWs suficientes para todo o mundo. Aí dizem assim: "mas nem todas as pessoas querem uma BMW, por isso é possível que todos tenham o que quiser, alguns ficam felizes, por exemplo, em ter apenas uma bicicleta". Ok... Mas toda essa teoria de que todo mundo, se tiver um estilo de vida tal vai ter sucesso, ignora o fato de que a razão pela qual as pessoas querem uma BMW reside fundamentalmente no fato de que nem todos que querem a terão de fato. Pronto, acabou. Há um vício lógico claro nessas explicações. O ser humano vive de suas limitações, é isso que o delimita e o dá uma certa identidade.
Outro exemplo, digamos que nós estejamos por esperar uma ligação sobre uma proposta de emprego, um emprego bom, desses com vale-refeição e futebol de fim de semana pago pela firma. Você está pensando nisso e recebe a ligação. Fruto do pensamento positivo, obviamente. Agora imagine a mesma situação, só que você recebe por telefone uma mensagem, como essas que recebo tão frequentemente, dizendo "caro cliente, você não está com a conta telefônica em dia, por favor efetue o pagamento ou sua linha será desligada amanhã". Será que isso teria a ver com o fato de que o seu pensamento positivo focado no emprego, não o aliena da obrigação de pagar a conta de telefone (ou talvez de mentalizar a solução), e portanto, seu sucesso estará diretamente ligado ao pagamento dela, que só poderá ser feito, por exemplo, por meio do seu salário que você nunca teria senão conseguindo aquele emprego?
Sei que não parece muito inteligível. Mas se é possível tomar como verdade que o pensamento positivo influencia positivamente no sucesso individual, eu pelo menos acho que como muitos, seria tentado a me policiar 24 horas por dia para tentar arrancar do meu cérebro o máximo de pensamentos positivos, de forma que eles dessem conta de todas as interdependências, e interrelaçõesda minha vida. Minha vida cotidiana, antes tão pacata, terá se transformado numa experiência infernal. Deixem-me quieto, oras.
Por isso não acredito em pensamento positivo. Acho que cada um deve pensar o que quiser, e como diriam alguns filosófos, a nossa consciência é a unica coisa que nós podemos escolher ter controle total. Então, se eu ando por aí pensando que posso ser atropelado, ou que posso ser demitido, assaltado, eu o faço com muito bom gosto, como exercício da minha liberdade. E se eu quiser pôr a culpa nos meus pensamentos, eu ponho, senão, digo que foi o governo, a sociedade, a conjuntura econômica internacional, ou a minha estrutura familiar na infância.
Entre muitas outras habilidades dos humanos, uma das mais valiosas talvez seja a capacidade de poder inventar quem é o responsável pelos acontecimentos, haja visto a crise aérea brasileira. Não é justo nós dizermos que sempre somos nós mesmos, seria uma maldade só, ainda que fôssemos nós mesmos ao final.
Eu não tenho nada contra as pessoas procurarem métodos que as façam viver melhor, só digo que é sempre bom desconfiar de alguém que diz que você vai conseguir todo o sucesso que você quiser, e ainda ganha dinheiro dizendo isso. Não é pessimismo, eu até acho que não conseguir tudo o que você quiser faz parte da vida e é essencialmente bom para o caráter.
Um problema básico é esse: Não há BMWs suficientes para todo o mundo. Aí dizem assim: "mas nem todas as pessoas querem uma BMW, por isso é possível que todos tenham o que quiser, alguns ficam felizes, por exemplo, em ter apenas uma bicicleta". Ok... Mas toda essa teoria de que todo mundo, se tiver um estilo de vida tal vai ter sucesso, ignora o fato de que a razão pela qual as pessoas querem uma BMW reside fundamentalmente no fato de que nem todos que querem a terão de fato. Pronto, acabou. Há um vício lógico claro nessas explicações. O ser humano vive de suas limitações, é isso que o delimita e o dá uma certa identidade.
Outro exemplo, digamos que nós estejamos por esperar uma ligação sobre uma proposta de emprego, um emprego bom, desses com vale-refeição e futebol de fim de semana pago pela firma. Você está pensando nisso e recebe a ligação. Fruto do pensamento positivo, obviamente. Agora imagine a mesma situação, só que você recebe por telefone uma mensagem, como essas que recebo tão frequentemente, dizendo "caro cliente, você não está com a conta telefônica em dia, por favor efetue o pagamento ou sua linha será desligada amanhã". Será que isso teria a ver com o fato de que o seu pensamento positivo focado no emprego, não o aliena da obrigação de pagar a conta de telefone (ou talvez de mentalizar a solução), e portanto, seu sucesso estará diretamente ligado ao pagamento dela, que só poderá ser feito, por exemplo, por meio do seu salário que você nunca teria senão conseguindo aquele emprego?
Sei que não parece muito inteligível. Mas se é possível tomar como verdade que o pensamento positivo influencia positivamente no sucesso individual, eu pelo menos acho que como muitos, seria tentado a me policiar 24 horas por dia para tentar arrancar do meu cérebro o máximo de pensamentos positivos, de forma que eles dessem conta de todas as interdependências, e interrelaçõesda minha vida. Minha vida cotidiana, antes tão pacata, terá se transformado numa experiência infernal. Deixem-me quieto, oras.
Por isso não acredito em pensamento positivo. Acho que cada um deve pensar o que quiser, e como diriam alguns filosófos, a nossa consciência é a unica coisa que nós podemos escolher ter controle total. Então, se eu ando por aí pensando que posso ser atropelado, ou que posso ser demitido, assaltado, eu o faço com muito bom gosto, como exercício da minha liberdade. E se eu quiser pôr a culpa nos meus pensamentos, eu ponho, senão, digo que foi o governo, a sociedade, a conjuntura econômica internacional, ou a minha estrutura familiar na infância.
Entre muitas outras habilidades dos humanos, uma das mais valiosas talvez seja a capacidade de poder inventar quem é o responsável pelos acontecimentos, haja visto a crise aérea brasileira. Não é justo nós dizermos que sempre somos nós mesmos, seria uma maldade só, ainda que fôssemos nós mesmos ao final.
Thursday, April 05, 2007
#100
Hoje, relata-se aqui na tela em que eu gerencio meu blog, que este seria o meu centésimo post. Para um diário sem nenhuma importância, é de fato uma marca histórica. Eu queria hoje poder colocar o meu melhor texto. Algo assim, pra fazer as pessoas baterem a cabeça na sarjeta, de tão sublime que fosse ele.
No entanto, não estamos no melhor dos mundos, muito menos no melhor dos blogs. Embora eu escute elogios ao que eu escrevo, com o que escrevo ainda não sou capaz de fazer as coisas que eu queria fazer escrevendo. E isso apesar de eu estar parcialmente satisfeito, apesar de achar o que faço esteticamente bom.
Então, trago na minha centésima síntese do ócio e do tédio que cercam minha vida, más notícias. Daqui, hoje, não sairá nada genial, e se puderem, vão checar o que acontecerá nos próximos capítulos de qualquer novela porque será mais útil. Aliás, se minha vida tivesse sido até agora um acompanhamento de novelas, eu teria mais assuntos normais que contar nas conversas. Se minha vida tivesse sido um constante virar de páginas das revistas, dos jornais, e dos portais virtuais, teria mais material para minha vida.
Acontece, que como não faço nada disso, tenho que inventar tudo. Não que eu faça poucas atividades na minha vida, faço muitas, mas se eu não as enfeitasse do jeito que melhor me parece, seria uma lástima sem igual aos que me ouvem, e a mim próprio, que vivo dos meus delírios de grandeza, ou de nobreza, de beleza.
E essa vontade, vontade que eu diria ser uma vontade de não fazer feio na vida, que me fez ao tentar maquiar uma realidade sem graça e mesquinha, com alguns poemas de amor, alguns diálogos que nunca existiram, algumas esperanças mal-construídas, alguns
quixotismos e dulcinealizações (peguei pesado com a língua), rapidamente desmascarados, terminar por começar este blog e concluir hoje o seu centésimo post.
Fico contente, pois o objetivo era nunca abandoná-lo, e de certo modo o consegui até agora, talvez mais por necessidade do que por esforço.
No entanto, não estamos no melhor dos mundos, muito menos no melhor dos blogs. Embora eu escute elogios ao que eu escrevo, com o que escrevo ainda não sou capaz de fazer as coisas que eu queria fazer escrevendo. E isso apesar de eu estar parcialmente satisfeito, apesar de achar o que faço esteticamente bom.
Então, trago na minha centésima síntese do ócio e do tédio que cercam minha vida, más notícias. Daqui, hoje, não sairá nada genial, e se puderem, vão checar o que acontecerá nos próximos capítulos de qualquer novela porque será mais útil. Aliás, se minha vida tivesse sido até agora um acompanhamento de novelas, eu teria mais assuntos normais que contar nas conversas. Se minha vida tivesse sido um constante virar de páginas das revistas, dos jornais, e dos portais virtuais, teria mais material para minha vida.
Acontece, que como não faço nada disso, tenho que inventar tudo. Não que eu faça poucas atividades na minha vida, faço muitas, mas se eu não as enfeitasse do jeito que melhor me parece, seria uma lástima sem igual aos que me ouvem, e a mim próprio, que vivo dos meus delírios de grandeza, ou de nobreza, de beleza.
E essa vontade, vontade que eu diria ser uma vontade de não fazer feio na vida, que me fez ao tentar maquiar uma realidade sem graça e mesquinha, com alguns poemas de amor, alguns diálogos que nunca existiram, algumas esperanças mal-construídas, alguns
quixotismos e dulcinealizações (peguei pesado com a língua), rapidamente desmascarados, terminar por começar este blog e concluir hoje o seu centésimo post.
Fico contente, pois o objetivo era nunca abandoná-lo, e de certo modo o consegui até agora, talvez mais por necessidade do que por esforço.
Saturday, March 31, 2007
Ao meu lado
Quando sentas ao meu lado
Olho-te sentada sorrindo ao meu lado
Singularmente inexplicável, tu
Que onda me inunda, desnuda
Levanta, amansa e expulsa
Que fogo arde, consome
Mas que é onda, e de novo fogo, e tanto
Tu ausência, Tu cuidado
Tu mãos dadas, Tu agrado
Tu sozinha, Tu rosinha
Tu mansinha, ao meu lado
E eu me derreto como o diabo
Eu, inviolavelmente apaixonado
Amo como quem precisa de miopia
Vasto, triste, de antes abandonado
Quero-te junto com mais nada
A dormir linda ao meu lado
A sentar comigo na ceia
A olhar-me olhos de fada
A acender-me branca candeia
Mas permaneço em todo aflito
O futuro talvez não atente
Pra que fiques ao meu lado
Parvoíce minha dos descrentes
Realismo duro dos soldados
Mil fogos de artifício acionados!
Esperança eterna toma a frente!
Os tolos se viram humilhados
E a minha alma descontente
No final tornei-me insistente
Força que há muito não tinha
Que o amor faz o corpo mais quente
E a mente da sorte rainha
Se tu ainda tens duvidado
Do que tua boca provoca na minha
Vem e continua ao meu lado
Pois nenhum sol, nenhum malgrado
Entrará nessa nossa casinha
Olho-te sentada sorrindo ao meu lado
Singularmente inexplicável, tu
Que onda me inunda, desnuda
Levanta, amansa e expulsa
Que fogo arde, consome
Mas que é onda, e de novo fogo, e tanto
Tu ausência, Tu cuidado
Tu mãos dadas, Tu agrado
Tu sozinha, Tu rosinha
Tu mansinha, ao meu lado
E eu me derreto como o diabo
Eu, inviolavelmente apaixonado
Amo como quem precisa de miopia
Vasto, triste, de antes abandonado
Quero-te junto com mais nada
A dormir linda ao meu lado
A sentar comigo na ceia
A olhar-me olhos de fada
A acender-me branca candeia
Mas permaneço em todo aflito
O futuro talvez não atente
Pra que fiques ao meu lado
Parvoíce minha dos descrentes
Realismo duro dos soldados
Mil fogos de artifício acionados!
Esperança eterna toma a frente!
Os tolos se viram humilhados
E a minha alma descontente
No final tornei-me insistente
Força que há muito não tinha
Que o amor faz o corpo mais quente
E a mente da sorte rainha
Se tu ainda tens duvidado
Do que tua boca provoca na minha
Vem e continua ao meu lado
Pois nenhum sol, nenhum malgrado
Entrará nessa nossa casinha
Saturday, March 24, 2007
Alterações
Por sua causa, hoje ouço rádio diferentemente,
Presto atenção em cada palavra,
Pois antes achava dispensável prestar atenção nelas,
Já que cansava-me menos.
Mas hoje dou outro sentido,
E descubri que oito em cada dez canções
São de amor
São de um amor rasgado, chorado na calçada,
O que justifica o mau gosto musical
Por sua causa, estou mais suscetível aos acidentes de trânsito,
E quase sofri alguns, por sorte quase,
Enquanto ficava matutando você,
Pois nada demanda mais que lembrar de ti
E lembrar, de certo modo é viver de novo,
Só que com medo e dor,
Sem esquecer, porém, que é viver, ainda,
Por sua causa, tornei-me por vezes eufórico,
Sem qualquer motivo ou explicação
Por sua causa, passei a praguejar o tempo,
Pois ele tem demorado a passar, tedioso.
E não falo do tempo que fico parado no trânsito,
Ou do tempo que demoram os programas de rádio.
Praguejo outro tipo de tempo,
E eu espero, quase sem forças,
Aquilo que não sei se devo esperar,
Aliás, que sei que não deveria esperar,
E por isso odeio os relógios e os calendários,
Mas não tem conserto, eu não tenho mais jeito,
Eu antes preferia era não sentir nada, apenas flutuar no espaço,
E apenas fazer o que a vida me designasse.
Perdi, no entantom também essa vontade, e lentamente fui tolhido,
Por sua causa, essas gotas de chuva
formam um espelho em que me vejo
Ouço barulhos de meu inconsciente
Que gritam, maus olhados, desejos
Mas digo que apesar de tudo,
Meus dias, em si,
Têm continuado sempre iguais
(o poema não está pronto nem acho que esteja bom o suficiente, então não é nada definitivo, mas coloco aqui já)
Presto atenção em cada palavra,
Pois antes achava dispensável prestar atenção nelas,
Já que cansava-me menos.
Mas hoje dou outro sentido,
E descubri que oito em cada dez canções
São de amor
São de um amor rasgado, chorado na calçada,
O que justifica o mau gosto musical
Por sua causa, estou mais suscetível aos acidentes de trânsito,
E quase sofri alguns, por sorte quase,
Enquanto ficava matutando você,
Pois nada demanda mais que lembrar de ti
E lembrar, de certo modo é viver de novo,
Só que com medo e dor,
Sem esquecer, porém, que é viver, ainda,
Por sua causa, tornei-me por vezes eufórico,
Sem qualquer motivo ou explicação
Por sua causa, passei a praguejar o tempo,
Pois ele tem demorado a passar, tedioso.
E não falo do tempo que fico parado no trânsito,
Ou do tempo que demoram os programas de rádio.
Praguejo outro tipo de tempo,
E eu espero, quase sem forças,
Aquilo que não sei se devo esperar,
Aliás, que sei que não deveria esperar,
E por isso odeio os relógios e os calendários,
Mas não tem conserto, eu não tenho mais jeito,
Eu antes preferia era não sentir nada, apenas flutuar no espaço,
E apenas fazer o que a vida me designasse.
Perdi, no entantom também essa vontade, e lentamente fui tolhido,
Por sua causa, essas gotas de chuva
formam um espelho em que me vejo
Ouço barulhos de meu inconsciente
Que gritam, maus olhados, desejos
Mas digo que apesar de tudo,
Meus dias, em si,
Têm continuado sempre iguais
(o poema não está pronto nem acho que esteja bom o suficiente, então não é nada definitivo, mas coloco aqui já)
Wednesday, March 21, 2007
Sabedoria dos Outros
Estando eu algum tempo sem dormir, creio que minhas virtudes cerebrais vão se esvaindo.
Logo darei espaço a quem sabe mais. Duas coisas. O primeiro trecho é o poema famosíssimo de Augusto dos Anjos, "versos íntimos", que embora retratem aquele momento realmente ínitmo em que nós descremos do homem por completo, (camões até tem versos sobre isso, chama-se "ao desconcerto do mundo" deve haver alguma permanência desse sentimento ao longo da história. O outro trecho de Norberto Bobbio, capta muito bem a figura de Kant, quando se põe a falar da evolução moral do homem, creio que na metafísica dos costumes. Seria uma possível resposta kantiana a essa nossa postura descrente frente ao, parafraseando Camões, desconcerto do mundo e dos homens?
Cabe colocar os dois trechos um após o outro para dar um efeito. Como se pode ver, os versos de augusto dos anjos reportam para uma dimensão individual, (por isso particular), mas por vezes essas noções migram para o plano da atuação política, e ao sentido que damos à história, que é mais o objeto do trecho de Bobbio escolhido por mim. Um dia vou brincar com esse poema do augusto dos anjos. Ando concordando demais com ele, mas apenas no plano particular, felizmente:
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
E Bobbio, Kant:
"Comecei com Kant. Concluo com Kant. O progresso, para ele, não era necessário. Era apenas possível. Ele criticava os "políticos" por não terem confiança na virtude e na força da motivação moral, bem como por viverem repetindo que "o mundo foi sempre assim como vemos hoje". Kant comentava que, com essa atitude, tais "políticos" faziam com que o objeto de sua previsão - ou seja, a imobilidade e a monótona repetitividade da história - se realizasse efetivamente. Desse modo, retardavam propositalmente os meios que poderiam assegurar o progresso para melhor.
Com relação às grandes aspirações dos homens de boa vontade, já estamos demasiadamente atrasados. busquemos não aumentar esse atraso com nossa incredulidade, com nossa indolência, com nosso ceticismo. Não temos muito tempo a perder"
Logo darei espaço a quem sabe mais. Duas coisas. O primeiro trecho é o poema famosíssimo de Augusto dos Anjos, "versos íntimos", que embora retratem aquele momento realmente ínitmo em que nós descremos do homem por completo, (camões até tem versos sobre isso, chama-se "ao desconcerto do mundo" deve haver alguma permanência desse sentimento ao longo da história. O outro trecho de Norberto Bobbio, capta muito bem a figura de Kant, quando se põe a falar da evolução moral do homem, creio que na metafísica dos costumes. Seria uma possível resposta kantiana a essa nossa postura descrente frente ao, parafraseando Camões, desconcerto do mundo e dos homens?
Cabe colocar os dois trechos um após o outro para dar um efeito. Como se pode ver, os versos de augusto dos anjos reportam para uma dimensão individual, (por isso particular), mas por vezes essas noções migram para o plano da atuação política, e ao sentido que damos à história, que é mais o objeto do trecho de Bobbio escolhido por mim. Um dia vou brincar com esse poema do augusto dos anjos. Ando concordando demais com ele, mas apenas no plano particular, felizmente:
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
E Bobbio, Kant:
"Comecei com Kant. Concluo com Kant. O progresso, para ele, não era necessário. Era apenas possível. Ele criticava os "políticos" por não terem confiança na virtude e na força da motivação moral, bem como por viverem repetindo que "o mundo foi sempre assim como vemos hoje". Kant comentava que, com essa atitude, tais "políticos" faziam com que o objeto de sua previsão - ou seja, a imobilidade e a monótona repetitividade da história - se realizasse efetivamente. Desse modo, retardavam propositalmente os meios que poderiam assegurar o progresso para melhor.
Com relação às grandes aspirações dos homens de boa vontade, já estamos demasiadamente atrasados. busquemos não aumentar esse atraso com nossa incredulidade, com nossa indolência, com nosso ceticismo. Não temos muito tempo a perder"
Friday, March 16, 2007
Sobre mim
A minha vida é feita ao estilo de uma comédia, mas teimam em querer transformá-la num suplício. Eu nunca, nem nos dias mais dramáticos da minha existência, perdi um pingo da salutar risada, de como quem vê o mundo com uma incompreensão cômica, e ao mesmo tempo já viu de tudo, sem ter visto, na verdade.
Eu fico triste, obviamente que fico, é só darmos uma olhada aí nos meus últimos posts, nas últimas coisas que escrevi, aliás, eu deveria parar com este hábito de usar esse blog como um diário. Mas embora triste, continuei a me flagrar rindo sozinho às vezes, continuei a usar um óculos ridículo para dirigir, na esperança de que alguém me veja e possa achar engraçado.
-------
Se sou ingênuo, isso se deve a minha educação católica. Se me mantenho fiel a principios de qualquer ordem, também. Entretanto, eu tenho uma visão muito prática sobre eles. Respeitar princípios éticos rígidos é muito prático. Evita-se dor de consciência e ainda tem-se milênios da humanidade e uma porrada de filósofos backing me up, para usar um anglicismo. Se sou assim, não é porque ainda não fui contaminado pela malícia do mundo e um dia hei de aprender, mas porque vejo que o mundo é muito ineficiente desse ponto de vista, de ter que inventar a roda todos os dias.
O amor, coloco-o como algo central na minha vida. Desta vez não por praticidade, mas por pragmatismo. Posso idealizá-los nas palavras, nos poemas, mas sabendo eu que ninguém é feliz sozinho (wave), e que sem amor não somos nada (Coríntios 13), sempre que tenho de escolher entre o amor e qualquer outra coisa, escolho o amor, lógico, eu não sou bobo nem nada.
Os anti-romanticos que me desculpem, mas ninguém dessacraliza mais o amor do que eu. O amor é que nem pastel de feira, é trivial minha gente, é estar parado no trânsito e ter esses insights sobre como você ama os outros.
Eu fico triste, obviamente que fico, é só darmos uma olhada aí nos meus últimos posts, nas últimas coisas que escrevi, aliás, eu deveria parar com este hábito de usar esse blog como um diário. Mas embora triste, continuei a me flagrar rindo sozinho às vezes, continuei a usar um óculos ridículo para dirigir, na esperança de que alguém me veja e possa achar engraçado.
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Se sou ingênuo, isso se deve a minha educação católica. Se me mantenho fiel a principios de qualquer ordem, também. Entretanto, eu tenho uma visão muito prática sobre eles. Respeitar princípios éticos rígidos é muito prático. Evita-se dor de consciência e ainda tem-se milênios da humanidade e uma porrada de filósofos backing me up, para usar um anglicismo. Se sou assim, não é porque ainda não fui contaminado pela malícia do mundo e um dia hei de aprender, mas porque vejo que o mundo é muito ineficiente desse ponto de vista, de ter que inventar a roda todos os dias.
O amor, coloco-o como algo central na minha vida. Desta vez não por praticidade, mas por pragmatismo. Posso idealizá-los nas palavras, nos poemas, mas sabendo eu que ninguém é feliz sozinho (wave), e que sem amor não somos nada (Coríntios 13), sempre que tenho de escolher entre o amor e qualquer outra coisa, escolho o amor, lógico, eu não sou bobo nem nada.
Os anti-romanticos que me desculpem, mas ninguém dessacraliza mais o amor do que eu. O amor é que nem pastel de feira, é trivial minha gente, é estar parado no trânsito e ter esses insights sobre como você ama os outros.
Tuesday, March 13, 2007
sem título
Toda angústia cabe em mim
Minha alma é um ferro velho
Uma planta feia em meu jardim
Tem morrido todos os dias
A mesma planta, sempre mesquinha
Já que só tenho uma maldita planta em meu jardim
Feia, erva-daninha
Mas assim que as marteladas
Dos homens da construção civil
Acordam-me raivoso, furioso de viver
Vou a janela ver esmorecer minha planta
Fico triste.
Pois significa a tua ausência
Mas quando saio a caminhar na rua
E o mesmo barulho, talvez mais alto
Faz-me musical, contente com os outros
Vejo-a de longe rejuvenescida, embora feia
Mas que acontece, que aquele ser renasce
Sempre, insistente, sem eu ver?
É a tua volta
Que como o dia,
A vida e a morte sentencia
Em tudo que é meu
(encheram o saco tantos posts sobre amor, hehe, mas são os que tenho no momento, os de outros assuntos merecem muitos ajustes)
Minha alma é um ferro velho
Uma planta feia em meu jardim
Tem morrido todos os dias
A mesma planta, sempre mesquinha
Já que só tenho uma maldita planta em meu jardim
Feia, erva-daninha
Mas assim que as marteladas
Dos homens da construção civil
Acordam-me raivoso, furioso de viver
Vou a janela ver esmorecer minha planta
Fico triste.
Pois significa a tua ausência
Mas quando saio a caminhar na rua
E o mesmo barulho, talvez mais alto
Faz-me musical, contente com os outros
Vejo-a de longe rejuvenescida, embora feia
Mas que acontece, que aquele ser renasce
Sempre, insistente, sem eu ver?
É a tua volta
Que como o dia,
A vida e a morte sentencia
Em tudo que é meu
(encheram o saco tantos posts sobre amor, hehe, mas são os que tenho no momento, os de outros assuntos merecem muitos ajustes)
Sunday, March 11, 2007
Orestes Barbosa
Arranha-Céu
Cansei de esperar por ela
Toda noite na janela
Vendo a
cidade a luzir
Nestes delírios nervosos
Dos
anúncios luminosos
Que são a vida a luzir
E cada
vez que subia
O elevador não trazia
Essa mulher,
maldição
E quando lembro
Gemia o elevador e
descia
Fundia o meu coração
Cansei de olhar as
reclames
E disse ao peito não ame
Que o teu amor não te
quer
Descansa, feche a vidraça
Esquece aquela
desgraça
Esquece aquela mulher
Deitei então sobre o
peito
Vieste em sonho ao meu leito
E eu acordei que
aflição
Pensando que te abraçava
Alucinado
apertava
Eu mesmo meu coração
Cansei de esperar por ela
Toda noite na janela
Vendo a
cidade a luzir
Nestes delírios nervosos
Dos
anúncios luminosos
Que são a vida a luzir
E cada
vez que subia
O elevador não trazia
Essa mulher,
maldição
E quando lembro
Gemia o elevador e
descia
Fundia o meu coração
Cansei de olhar as
reclames
E disse ao peito não ame
Que o teu amor não te
quer
Descansa, feche a vidraça
Esquece aquela
desgraça
Esquece aquela mulher
Deitei então sobre o
peito
Vieste em sonho ao meu leito
E eu acordei que
aflição
Pensando que te abraçava
Alucinado
apertava
Eu mesmo meu coração
Saturday, March 10, 2007
A redução da TR.
Às vezes é bom falar de pequenos detalhes que mostram qual o direcionamento da nossa política econômica.
O governo decidiu mais uma vez em favor dos bancos. O aumento do redutor na taxa referencial (TR) quer dizer que todo mundo que tem poupança passará a ganhar menos em rendimentos. Vale lembrar que também todos os trabalhadores serão prejudicados, já que o FGTS (fundo de garantia por tempo de serviço) também é corrigido pela TR.
Havia um medo de que com a diminuição dos juros a poupança passase a competir com outras oportunidades de investimento, mais lucrativas para eles.
Significa dizer que os bancos tinham um problema de mercado decorrido da redução dos juros, e que o governo não tinha nada a ver com isso. Os bancos teriam que melhorar suas taxas de administração, que são bastantes altas. Por que será que o governo tomou as dores das instituições bancárias?
Agora com a poupança sendo menos rentável, as outras alternativas de investimento mais lucrativas aos bancos continuam sendo preferidas, e não há pressão para a diminuição das taxas de administração. O preço é pago por quem investe na poupança e por quem trabalha.
Ora, é salutar como alguns orgãos de imprensa e o governo tomaram a questão. A único benefício social desta redução é que quem faz financiamento para a casa própria (as prestações são corrigidas pela TR), pagará menos. Alguém poderia dizer que é um bom sinal, que o governo está ajudando as pessoas, como disse Lula. Mas duas observações devem ser feitas:
O universo prejudicado é muito maior do que a soma daqueles que dependem de um financiamento da casa própria. E além do mais, se o FGTS, que também é usado para financiar políticas públicas habitacionais, terá menor rendimento, então na soma social o saldo é negativo também para a habitação.
É lamentável que um governo apresente tamanho servilismo diante de certas questões. O Interfere então em questões de mercado para salvar o único setor que talvez não apresente problema nenhum de sustentabilidade.
O governo decidiu mais uma vez em favor dos bancos. O aumento do redutor na taxa referencial (TR) quer dizer que todo mundo que tem poupança passará a ganhar menos em rendimentos. Vale lembrar que também todos os trabalhadores serão prejudicados, já que o FGTS (fundo de garantia por tempo de serviço) também é corrigido pela TR.
Havia um medo de que com a diminuição dos juros a poupança passase a competir com outras oportunidades de investimento, mais lucrativas para eles.
Significa dizer que os bancos tinham um problema de mercado decorrido da redução dos juros, e que o governo não tinha nada a ver com isso. Os bancos teriam que melhorar suas taxas de administração, que são bastantes altas. Por que será que o governo tomou as dores das instituições bancárias?
Agora com a poupança sendo menos rentável, as outras alternativas de investimento mais lucrativas aos bancos continuam sendo preferidas, e não há pressão para a diminuição das taxas de administração. O preço é pago por quem investe na poupança e por quem trabalha.
Ora, é salutar como alguns orgãos de imprensa e o governo tomaram a questão. A único benefício social desta redução é que quem faz financiamento para a casa própria (as prestações são corrigidas pela TR), pagará menos. Alguém poderia dizer que é um bom sinal, que o governo está ajudando as pessoas, como disse Lula. Mas duas observações devem ser feitas:
O universo prejudicado é muito maior do que a soma daqueles que dependem de um financiamento da casa própria. E além do mais, se o FGTS, que também é usado para financiar políticas públicas habitacionais, terá menor rendimento, então na soma social o saldo é negativo também para a habitação.
É lamentável que um governo apresente tamanho servilismo diante de certas questões. O Interfere então em questões de mercado para salvar o único setor que talvez não apresente problema nenhum de sustentabilidade.
Saturday, March 03, 2007
Infelicidade
Sempre tive a idéia de que a infelicidade seria um estado absoluto. Se se está infeliz, a alma está de tal forma envolvida na mágoa, que não se pode fazer mais nada. Não é assim. Enganei-me. A infelicidade convive conosco. É como uma deficiência. É como eu, que tenho que conviver com minhas incapacidades. É um demônio feio que nos assombra.
Por isso antes fosse nossa infelicidade absoluta, antes eu fosse um pianista frustrado e apenas isso. Valeria-me mais tragicidade.
Acontece que, além desse mundo estúpido, que nos diz não, há de ter algo que nos exija nobreza (no cume calmo do meu olho que vê assenta a sombra sonora de um disco voador). Quantas batalhas, quantos amores ainda terei que perder? Eu, que não sei quanta dor sou capaz de suportar.
Somos infelizes enquanto somos felizes, nada é pior do que ser infeliz e feliz ao mesmo tempo.
De que vale a poesia e o caráter, num mundo estúpido, feito por pessoas estúpidas? Farei-me esta pergunta a vida inteira.
Por isso antes fosse nossa infelicidade absoluta, antes eu fosse um pianista frustrado e apenas isso. Valeria-me mais tragicidade.
Acontece que, além desse mundo estúpido, que nos diz não, há de ter algo que nos exija nobreza (no cume calmo do meu olho que vê assenta a sombra sonora de um disco voador). Quantas batalhas, quantos amores ainda terei que perder? Eu, que não sei quanta dor sou capaz de suportar.
Somos infelizes enquanto somos felizes, nada é pior do que ser infeliz e feliz ao mesmo tempo.
De que vale a poesia e o caráter, num mundo estúpido, feito por pessoas estúpidas? Farei-me esta pergunta a vida inteira.
Friday, March 02, 2007
O tempo do Brasil
Um amigo diz que só agora, finalmente, o resto do mundo chegou na fase das mulatas rebolando, algo que temos há mais de dois séculos. O que se vê nos canais de música, nas paradas de rádio?
O exemplo das mulatas é muito emblemático. O mundo ocidental entrou num intenso processo de catching up tendo como referência infalível o Brasil.
Os exemplos pululam a nossa frente. Mas, embora sirvam para efeitos retóricos, não são de todo conclusivos:
Nos últimos anos, o mundo enfrentou um aumento das desigualdades e das tensões econômico-sociais. (Estivemos sempre na frente). Também a Europa, que abriu seus portões aos imigrantes das mais variadas nacionalidades, prova pela primeira vez o sabor de um racismo explícito e velado, encardido, meio nojento, meio abominavelmente tolerável. Aplica, em suas políticas públicas, os mais sujos princípios de segregação espacial e cultural.
Devemos nos inflar de entusiasmo patriótico, pois, também o mundo infestou-se de consultores a dizer que “se algumas reformas forem feitas”, determinado país encontrará seu rumo. Povoou-se, então, de sujeitos categoricamente insuportáveis, que trabalham em organizações internacionais e graduaram na “Escola Superior da Falácia e da Diletância” de José Carlos Fernandes. E ainda se lê no jornal que as filas e o trânsito chegaram, enfim, a ter proporções paulistanas.
Seria um exagero dizer que o mundo está-se “subdesenvolvendo”, seria exagero dizer o contrário. A história não parece ser nada além de uma luta bastante incerta entre essas duas forças e, modéstia à parte, nenhum país expressa melhor esse conflito do que aquele cuja brisa beija e balança o auriverde pendão da minha terra.
Não é nenhum orgulho inspirar. Mas, nós, que conhecemos tantos nossos problemas a ponto de sermos capazes de ignorá-los, bem que poderíamos dar-lhes alguma luz. Ainda que sejamos acostumados a falar mal do Brasil, a característica de um patriotismo legítimo, temos de reconhecer que ao menos tentamos constantemente decifrar esse país ininteligível, e até tivemos certo sucesso. Orgulhemo-nos.
Orgulhemo-nos de nunca termos sidos catequizados, nas palavras de Oswald de Andrade, e ainda assim, não termos mergulhado na barbárie. Civilização sem catequização, eis o que temos a ensinar ao mundo.
Entretanto, e abandonemos a atmosfera rósea, o ano de 2007 é marcado, entre outras coisas, pelo segundo mandato de Lula. Estamos a esperar os resultados “pacote de crescimento” anunciado pelo governo. Vale perguntar se pacote de crescimento é capaz de melhorar substancialmente a economia de um país. O ano de 2007 é marcado pela continuidade de um caos nos aeroportos que esteve passando, dia a dia no noticiário, e, provavelmente, 90% da população não usa nenhum meio de transporte aéreo. As novelas continuam a misturar merchandising infame e fora de contexto com cenas de prática de tai chi chuan; a revista Veja continua a publicar alguns absurdos, como no dia em que aproximou a democracia direta ao regime nazista.
Em outras palavras, não só o mundo está virando Brasil, mas o Brasil , que já era Brasil, está como esteve sempre: na corda bamba.
A espera de que o nosso país sofra alguma melhora (e não uso o verbo sofrer à toa) é como uma promessa de ano novo coletiva, renovada anualmente. Como as senhoras que, entre uma garfada e outra na maionese, prometem começar uma dieta assim que o ano virar. “É só ter força de vontade”, dizem empanturradas. Por essa razão, se uma coisa nos distingue dos que nos copiam é o caráter de nosso otimismo. É substancialmente diferente. Otimismo costuma ser uma expectativa. Para nós, é uma promessa aflita, quase engasgada, uma resposta trágica a nossa impotência, pois sabemos nosso destino, em verdade. É a marca de uma nobreza heróica, que o mundo não enxerga.
Se todos caminhamos para o mesmo abismo de incerteza e selva, não é culpa nossa. E não chegaremos nunca a ensinar o mundo. Mas, bastará apenas que nos confiram certa poesia. Esse é mesmo o tempo do Brasil.
O exemplo das mulatas é muito emblemático. O mundo ocidental entrou num intenso processo de catching up tendo como referência infalível o Brasil.
Os exemplos pululam a nossa frente. Mas, embora sirvam para efeitos retóricos, não são de todo conclusivos:
Nos últimos anos, o mundo enfrentou um aumento das desigualdades e das tensões econômico-sociais. (Estivemos sempre na frente). Também a Europa, que abriu seus portões aos imigrantes das mais variadas nacionalidades, prova pela primeira vez o sabor de um racismo explícito e velado, encardido, meio nojento, meio abominavelmente tolerável. Aplica, em suas políticas públicas, os mais sujos princípios de segregação espacial e cultural.
Devemos nos inflar de entusiasmo patriótico, pois, também o mundo infestou-se de consultores a dizer que “se algumas reformas forem feitas”, determinado país encontrará seu rumo. Povoou-se, então, de sujeitos categoricamente insuportáveis, que trabalham em organizações internacionais e graduaram na “Escola Superior da Falácia e da Diletância” de José Carlos Fernandes. E ainda se lê no jornal que as filas e o trânsito chegaram, enfim, a ter proporções paulistanas.
Seria um exagero dizer que o mundo está-se “subdesenvolvendo”, seria exagero dizer o contrário. A história não parece ser nada além de uma luta bastante incerta entre essas duas forças e, modéstia à parte, nenhum país expressa melhor esse conflito do que aquele cuja brisa beija e balança o auriverde pendão da minha terra.
Não é nenhum orgulho inspirar. Mas, nós, que conhecemos tantos nossos problemas a ponto de sermos capazes de ignorá-los, bem que poderíamos dar-lhes alguma luz. Ainda que sejamos acostumados a falar mal do Brasil, a característica de um patriotismo legítimo, temos de reconhecer que ao menos tentamos constantemente decifrar esse país ininteligível, e até tivemos certo sucesso. Orgulhemo-nos.
Orgulhemo-nos de nunca termos sidos catequizados, nas palavras de Oswald de Andrade, e ainda assim, não termos mergulhado na barbárie. Civilização sem catequização, eis o que temos a ensinar ao mundo.
Entretanto, e abandonemos a atmosfera rósea, o ano de 2007 é marcado, entre outras coisas, pelo segundo mandato de Lula. Estamos a esperar os resultados “pacote de crescimento” anunciado pelo governo. Vale perguntar se pacote de crescimento é capaz de melhorar substancialmente a economia de um país. O ano de 2007 é marcado pela continuidade de um caos nos aeroportos que esteve passando, dia a dia no noticiário, e, provavelmente, 90% da população não usa nenhum meio de transporte aéreo. As novelas continuam a misturar merchandising infame e fora de contexto com cenas de prática de tai chi chuan; a revista Veja continua a publicar alguns absurdos, como no dia em que aproximou a democracia direta ao regime nazista.
Em outras palavras, não só o mundo está virando Brasil, mas o Brasil , que já era Brasil, está como esteve sempre: na corda bamba.
A espera de que o nosso país sofra alguma melhora (e não uso o verbo sofrer à toa) é como uma promessa de ano novo coletiva, renovada anualmente. Como as senhoras que, entre uma garfada e outra na maionese, prometem começar uma dieta assim que o ano virar. “É só ter força de vontade”, dizem empanturradas. Por essa razão, se uma coisa nos distingue dos que nos copiam é o caráter de nosso otimismo. É substancialmente diferente. Otimismo costuma ser uma expectativa. Para nós, é uma promessa aflita, quase engasgada, uma resposta trágica a nossa impotência, pois sabemos nosso destino, em verdade. É a marca de uma nobreza heróica, que o mundo não enxerga.
Se todos caminhamos para o mesmo abismo de incerteza e selva, não é culpa nossa. E não chegaremos nunca a ensinar o mundo. Mas, bastará apenas que nos confiram certa poesia. Esse é mesmo o tempo do Brasil.
Tuesday, February 27, 2007
O que devemos superar.
Devemos superar as palavras. Devemos superar os conceitos, os constructos.
A palavra é algo grande, algo nobre, mas é um instrumento. Deve ser vista como um instrumento, portanto, a palavra é surda. Ela é suprasensível.
Os conceitos são igualmente representações da nossa realidade.
Interessa, pois, que vivamos além deles.
Não quero que eles deixem de existir. Mas que as pessoas reconheçam esta separação.
A palavra é algo grande, algo nobre, mas é um instrumento. Deve ser vista como um instrumento, portanto, a palavra é surda. Ela é suprasensível.
Os conceitos são igualmente representações da nossa realidade.
Interessa, pois, que vivamos além deles.
Não quero que eles deixem de existir. Mas que as pessoas reconheçam esta separação.
Monday, February 19, 2007
O MONOPÓLIO DE TV A CABO NOS EUA E O “CHOICE ACT”
Reproduzo, um "artigo" que expus na aula de microeconomia, primeiro semestre de 2006. O artigo não tem nada de especial, era um pequeno trabalho. Mas analiso uma lei proposta por um senador que provavelmente, aposto quando quiserem, será o próximo presidente dos EUA.
1 – Introdução
Este artigo busca esclarecer o comportamento monopolista das empresas de TV a cabo nos EUA à luz de um debate recente no congresso americano relativo ao “The Consumers Having Options in Cable Entertainment Act” ou apenas “Choice Act” (2006). Essa lei, proposta pelo Senador John McCain, do Arizona, visa oferecer aos consumidores a possibilidade de escolha “à la carte”, ou por pequenos pacotes de canais, na programação de TV a cabo, resultando além de uma queda nos preços de assinatura, numa defesa dos direitos dos consumidores de, afinal, poderem pagar apenas pelos canais que desejam realmente assistir.
Este breve estudo é produto de um trabalho proposto aos alunos do curso de Microeconomia II para a partir de um artigo de jornal desenvolver-se uma análise teórica baseada nos ensinamentos do curso. A escolha da notícia foi baseada nos seguintes critérios: em primeiro lugar, ela teria de possuir alguma descrição empírica de um fato econômico, exigência já existente na proposição do trabalho. O segundo era o de ela tratar de alguma proposta de aperfeiçoamento de um sistema. Com isso, não só é possível colocarmos à prova os modelos estudados para os validarmos quanto a sua consistência lógica e aplicabilidade no mundo real, como também reconhecermos como um dever o do economista de utilizar esses modelos para levar a sociedade a um estado de eficiência, sem que se percam, no entanto, os princípios éticos e humanos sem os quais a organização social, que nos permite o livre uso da razão, jamais existiria.
A leitura da notícia provoca à primeira vista algumas dúvidas, e é a elas que vamos nos ater para desenvolvermos as linhas de raciocínio presentes no trabalho. Nos primeiros parágrafos da notícia afirma-se que os consumidores norte-americanos não podem escolher a programação de TV a cabo na forma de pacotes, ou “à la carte”, canal por canal. A razão atribuída pelo autor é a falta de concorrência decorrente da estrutura de monopólio no serviço de TV a cabo, e o excesso de regulamentação governamental. Um leitor atento irá se perguntar: Sendo a disponibilização de pacotes de canais diferentes para venda a grupos específicos (ex: famílias com crianças pequenas, aposentados, estudantes de uma república) com diferentes preços uma forma de discriminação de preços de terceiro grau, uma estratégia típica do comportamento monopolista, como podem os monopólios de TV a cabo não desejarem disponibilizar esse serviços, já que isso representaria uma melhora no que tange à maximização dos lucros da firma, e que seja necessária uma lei de incentivo para condicioná-los a esse comportamento?
Depois, como essa lei pode ignorar um aspecto da teoria econômica ao querer além de incentivar a venda por pacotes ou “a la carte”, que ocorra a entrada de mais firmas nos mercados (dando obviamente mais opções de escolha ao consumidor e menores preços), se segundo a maior parte dos manuais de microeconomia, inclusive o adotado em nossa faculdade, o serviço de TV a cabo envolve custos fixos muito grandes, constituindo-se, pois, em um monopólio natural?
Bem, inicialmente, cabe explicar melhor no que consiste o Choice Act e quais seus fundamentos principais (a). Seguimos para a questão do monopólio natural (b), e ao fim tentaremos dar explicação à aparente contradição da primeira pergunta (c).
(a) “CHOICE ACT”
Na declaração do Senador McCain ao congresso há uma explicação bastante simples de quais os pilares dessa lei e a quem ela visa atingir. Podemos dizer que essa lei é particularmente uma lei de incentivo, que não obriga nenhuma firma a disponibilizar os pacotes, mas que fornece vantagens para quem quiser fazê-lo. Os incentivos são de ordem econômica: em resumo, a prestadora de serviços de TV a cabo que desenvolver pacotes, ou a escolha à la carte, terá a redução nas taxas pela utilização de instalações em terreno público (municipalidades), e poderão atuar na forma de “National Franchise”, ampliando consideravelmente o mercado de atuação, inclusive para transmissão via satélite e Internet, podendo eventualmente beneficiarem-se da regra de não-duplicação de conteúdo que dá exclusividade à transmissão de alguns canais.
(b) O Monopólio Natural
Empresas com grandes custos fixos e custos variáveis pequenos, normalmente fornecem sozinhas, em uma determinada localidade, um bem ou serviço porque não seria possível igualar o preço ao custo marginal devido aos grandes investimentos necessários para se criar uma estrutura de transmissão, integrada. É o caso das empresas distribuidoras de gás, empresas telefônicas, por exemplo. São reguladas pelo governo ou são estatais. È bem lógico aproximarmos os serviços de TV a cabo a uma situação de monopólio natural, pois as características são parecidas. Entretanto, não é em todo lugar que esses monopólios são observados. Em outros países, embora o mercado seja concentrado, é comum vermos duas ou três firmas atuando num mesmo mercado de TV a cabo. No Brasil, por exemplo, observa-se uma espécie de duopólio. Logo, cabe darmos uma explicação a esse fenômeno: há uns 20, 30 anos, era impossível que mais de um empresa estivesse disponibilizando serviços de TV a cabo numa cidade, pois não havia tecnologia de informação e transmissão que não necessitasse de custos fixos astronômicos. Com o avanço da fronteira tecnológica (escala mínima de eficiência) e com o crescimento da demanda, a estrutura do mercado pôde ficar menos concentrada que antes.
É claramente observável a diminuição relativa dos custos fixos (por exemplo, gastos com pessoal). Toda a estrutura de manutenção hoje é feita eletronicamente e a necessidade de instalações físicas também diminuiu devido à tecnologia. Acompanha isso a própria necessidade das empresas de se tornarem flexíveis, criando redes de cooperação com as produtoras de conteúdo. Tecnologia e maior eficiência organizacional possibilita a uma empresa de TV a cabo competir com outras sem que isso resulte em grandes prejuízos. Entretanto, se a competição é boa, para empresa o monopólio é muito melhor, ainda mais quando a regulação do governo favorece essa estrutura. Por isso que eles ainda existem embora haja tendência para desconcentração.
O aumento na demanda é também observável, em vista da importância da cultura do entretenimento na segunda metade do século XX. Cada vez mais os homens se transformam em consumidores de imagens, e o número de assinantes de TV cabo (e suas variantes) aumenta a cada ano. Também houve diminuição de custos, o que possibilitou a entrada de novos consumidores no mercado.
A lei, portanto, não ignora a teoria econômica, ela está em consonância com as mudanças na estrutura produtiva e de serviços.
(c) Discriminação de Preços: Venda de Pacotes X Venda Casada
Os consumidores americanos, se compram o serviço de TV a cabo recebem com eles os canais que gostam e os que não gostam. Um aposentado tem a MTV, e uma família com quatro crianças tem uma programação imprópria para crianças. Esse é o comportamento monopolista vigente no caso estudado e é conhecido como Vinculação de Produtos, ou Venda Casada. Por que eles optam por essa estratégia, e não por aquela que seria mais adequada do ponto de vista do consumidor, e, por que não, da sociedade (já que é uma lei que tenta incentivar esse comportamento)? A explicação poderia ser: Porque o lucro deles geralmente é maior usando essa estratégia. Um serviço de TV a cabo pode custar U$80,00, enquanto que se fosse separado em pacotes, o consumidor pagaria quase um terço desse valor. No entanto, é um equívoco atribuirmos essa explicação, pois a discriminação de preços tende a aumentar o lucro do monopolista, é uma melhora de Pareto, e não poderíamos, com os dados que temos a disposição, inferir se realmente haveria menor lucro.
A explicação mais consistente está no discurso do Senador McCain ao Congresso, e que passa invisível pela notícia. Ele diz: “Os consumidores continuam a subsidiar os custos de produção de canais que não assistem”. E conta uma conversa que teve com na diretoria de uma dessas empresas de TV a cabo, em que diziam que quando foi tentado tirar uns canais de vídeo clipes da grade de programação para colocar outro mais barato e preferível ao perfil dos consumidores, houve represália por parte do canal, que ameaçou fortes repercussões se seu canal fosse retirado.
Há então pressão por parte das produtoras de conteúdo para que não se discrimine preço pois isso traria perdas consideráveis ao seu negócio. Sem esses consumidores, que pagam sem querer por aquele canal, provavelmente ele não iria operar no mercado. Como a indústria do entretenimento é organizada na maior parte das vezes numa cadeia entre produção e distribuição, romper este contrato poderia prejudicar demais a empresa de TV a cabo, que não teria incentivos suficientes para comportar-se desta forma.
Conclusão
A grande virtude do Choice Act é a criação de uma estrutura de incentivos que possa levar as empresas de TV a cabo a acharem mais vantajoso a venda de pacotes, (mesmo que isso possa resultar em divergência com o interesse dos canais) do que a venda casada, na forma como ela é praticada. Se os incentivos forem corretos, e parece que são, é provável que a situação dos consumidores em geral melhore, abrindo caminho para o melhor aproveitamento das inovações na área de telecomunicações, como a TV digital e outros assuntos em pauta hoje em dia.
1 – Introdução
Este artigo busca esclarecer o comportamento monopolista das empresas de TV a cabo nos EUA à luz de um debate recente no congresso americano relativo ao “The Consumers Having Options in Cable Entertainment Act” ou apenas “Choice Act” (2006). Essa lei, proposta pelo Senador John McCain, do Arizona, visa oferecer aos consumidores a possibilidade de escolha “à la carte”, ou por pequenos pacotes de canais, na programação de TV a cabo, resultando além de uma queda nos preços de assinatura, numa defesa dos direitos dos consumidores de, afinal, poderem pagar apenas pelos canais que desejam realmente assistir.
Este breve estudo é produto de um trabalho proposto aos alunos do curso de Microeconomia II para a partir de um artigo de jornal desenvolver-se uma análise teórica baseada nos ensinamentos do curso. A escolha da notícia foi baseada nos seguintes critérios: em primeiro lugar, ela teria de possuir alguma descrição empírica de um fato econômico, exigência já existente na proposição do trabalho. O segundo era o de ela tratar de alguma proposta de aperfeiçoamento de um sistema. Com isso, não só é possível colocarmos à prova os modelos estudados para os validarmos quanto a sua consistência lógica e aplicabilidade no mundo real, como também reconhecermos como um dever o do economista de utilizar esses modelos para levar a sociedade a um estado de eficiência, sem que se percam, no entanto, os princípios éticos e humanos sem os quais a organização social, que nos permite o livre uso da razão, jamais existiria.
A leitura da notícia provoca à primeira vista algumas dúvidas, e é a elas que vamos nos ater para desenvolvermos as linhas de raciocínio presentes no trabalho. Nos primeiros parágrafos da notícia afirma-se que os consumidores norte-americanos não podem escolher a programação de TV a cabo na forma de pacotes, ou “à la carte”, canal por canal. A razão atribuída pelo autor é a falta de concorrência decorrente da estrutura de monopólio no serviço de TV a cabo, e o excesso de regulamentação governamental. Um leitor atento irá se perguntar: Sendo a disponibilização de pacotes de canais diferentes para venda a grupos específicos (ex: famílias com crianças pequenas, aposentados, estudantes de uma república) com diferentes preços uma forma de discriminação de preços de terceiro grau, uma estratégia típica do comportamento monopolista, como podem os monopólios de TV a cabo não desejarem disponibilizar esse serviços, já que isso representaria uma melhora no que tange à maximização dos lucros da firma, e que seja necessária uma lei de incentivo para condicioná-los a esse comportamento?
Depois, como essa lei pode ignorar um aspecto da teoria econômica ao querer além de incentivar a venda por pacotes ou “a la carte”, que ocorra a entrada de mais firmas nos mercados (dando obviamente mais opções de escolha ao consumidor e menores preços), se segundo a maior parte dos manuais de microeconomia, inclusive o adotado em nossa faculdade, o serviço de TV a cabo envolve custos fixos muito grandes, constituindo-se, pois, em um monopólio natural?
Bem, inicialmente, cabe explicar melhor no que consiste o Choice Act e quais seus fundamentos principais (a). Seguimos para a questão do monopólio natural (b), e ao fim tentaremos dar explicação à aparente contradição da primeira pergunta (c).
(a) “CHOICE ACT”
Na declaração do Senador McCain ao congresso há uma explicação bastante simples de quais os pilares dessa lei e a quem ela visa atingir. Podemos dizer que essa lei é particularmente uma lei de incentivo, que não obriga nenhuma firma a disponibilizar os pacotes, mas que fornece vantagens para quem quiser fazê-lo. Os incentivos são de ordem econômica: em resumo, a prestadora de serviços de TV a cabo que desenvolver pacotes, ou a escolha à la carte, terá a redução nas taxas pela utilização de instalações em terreno público (municipalidades), e poderão atuar na forma de “National Franchise”, ampliando consideravelmente o mercado de atuação, inclusive para transmissão via satélite e Internet, podendo eventualmente beneficiarem-se da regra de não-duplicação de conteúdo que dá exclusividade à transmissão de alguns canais.
(b) O Monopólio Natural
Empresas com grandes custos fixos e custos variáveis pequenos, normalmente fornecem sozinhas, em uma determinada localidade, um bem ou serviço porque não seria possível igualar o preço ao custo marginal devido aos grandes investimentos necessários para se criar uma estrutura de transmissão, integrada. É o caso das empresas distribuidoras de gás, empresas telefônicas, por exemplo. São reguladas pelo governo ou são estatais. È bem lógico aproximarmos os serviços de TV a cabo a uma situação de monopólio natural, pois as características são parecidas. Entretanto, não é em todo lugar que esses monopólios são observados. Em outros países, embora o mercado seja concentrado, é comum vermos duas ou três firmas atuando num mesmo mercado de TV a cabo. No Brasil, por exemplo, observa-se uma espécie de duopólio. Logo, cabe darmos uma explicação a esse fenômeno: há uns 20, 30 anos, era impossível que mais de um empresa estivesse disponibilizando serviços de TV a cabo numa cidade, pois não havia tecnologia de informação e transmissão que não necessitasse de custos fixos astronômicos. Com o avanço da fronteira tecnológica (escala mínima de eficiência) e com o crescimento da demanda, a estrutura do mercado pôde ficar menos concentrada que antes.
É claramente observável a diminuição relativa dos custos fixos (por exemplo, gastos com pessoal). Toda a estrutura de manutenção hoje é feita eletronicamente e a necessidade de instalações físicas também diminuiu devido à tecnologia. Acompanha isso a própria necessidade das empresas de se tornarem flexíveis, criando redes de cooperação com as produtoras de conteúdo. Tecnologia e maior eficiência organizacional possibilita a uma empresa de TV a cabo competir com outras sem que isso resulte em grandes prejuízos. Entretanto, se a competição é boa, para empresa o monopólio é muito melhor, ainda mais quando a regulação do governo favorece essa estrutura. Por isso que eles ainda existem embora haja tendência para desconcentração.
O aumento na demanda é também observável, em vista da importância da cultura do entretenimento na segunda metade do século XX. Cada vez mais os homens se transformam em consumidores de imagens, e o número de assinantes de TV cabo (e suas variantes) aumenta a cada ano. Também houve diminuição de custos, o que possibilitou a entrada de novos consumidores no mercado.
A lei, portanto, não ignora a teoria econômica, ela está em consonância com as mudanças na estrutura produtiva e de serviços.
(c) Discriminação de Preços: Venda de Pacotes X Venda Casada
Os consumidores americanos, se compram o serviço de TV a cabo recebem com eles os canais que gostam e os que não gostam. Um aposentado tem a MTV, e uma família com quatro crianças tem uma programação imprópria para crianças. Esse é o comportamento monopolista vigente no caso estudado e é conhecido como Vinculação de Produtos, ou Venda Casada. Por que eles optam por essa estratégia, e não por aquela que seria mais adequada do ponto de vista do consumidor, e, por que não, da sociedade (já que é uma lei que tenta incentivar esse comportamento)? A explicação poderia ser: Porque o lucro deles geralmente é maior usando essa estratégia. Um serviço de TV a cabo pode custar U$80,00, enquanto que se fosse separado em pacotes, o consumidor pagaria quase um terço desse valor. No entanto, é um equívoco atribuirmos essa explicação, pois a discriminação de preços tende a aumentar o lucro do monopolista, é uma melhora de Pareto, e não poderíamos, com os dados que temos a disposição, inferir se realmente haveria menor lucro.
A explicação mais consistente está no discurso do Senador McCain ao Congresso, e que passa invisível pela notícia. Ele diz: “Os consumidores continuam a subsidiar os custos de produção de canais que não assistem”. E conta uma conversa que teve com na diretoria de uma dessas empresas de TV a cabo, em que diziam que quando foi tentado tirar uns canais de vídeo clipes da grade de programação para colocar outro mais barato e preferível ao perfil dos consumidores, houve represália por parte do canal, que ameaçou fortes repercussões se seu canal fosse retirado.
Há então pressão por parte das produtoras de conteúdo para que não se discrimine preço pois isso traria perdas consideráveis ao seu negócio. Sem esses consumidores, que pagam sem querer por aquele canal, provavelmente ele não iria operar no mercado. Como a indústria do entretenimento é organizada na maior parte das vezes numa cadeia entre produção e distribuição, romper este contrato poderia prejudicar demais a empresa de TV a cabo, que não teria incentivos suficientes para comportar-se desta forma.
Conclusão
A grande virtude do Choice Act é a criação de uma estrutura de incentivos que possa levar as empresas de TV a cabo a acharem mais vantajoso a venda de pacotes, (mesmo que isso possa resultar em divergência com o interesse dos canais) do que a venda casada, na forma como ela é praticada. Se os incentivos forem corretos, e parece que são, é provável que a situação dos consumidores em geral melhore, abrindo caminho para o melhor aproveitamento das inovações na área de telecomunicações, como a TV digital e outros assuntos em pauta hoje em dia.
Friday, February 16, 2007
Video mais Esperado
Finalmente disponibilizaram esse video, absoultamente genial, em que Leonel Brizola prova mais uma vez porque foi e sempre será o maior político deste país.
Wednesday, February 14, 2007
Tuesday, February 13, 2007
Thursday, February 08, 2007
Elogio à Ciência (ou ascetismo Neo Panglossiano)
Na revista científica “Klaxon Scientific”
saiu um artigo em que Carl Jameson anuncia
a descoberta reveladora de todo um milênio,
de que o amor é visível, que fica
guardado numa parte do coração
e de que é uma bolinha quase transparente
que flutua dentro das pessoas, como bolhas de sabão
Eu sempre acreditei na hipótese das bolinhas transparentes
O mundo será bem melhor quando as pessoas
Puderem injetar bolinhas pré-manufaturadas
Ou extraí-las de pessoas já mortas, e
Colocar nas pessoas que precisam ter mais amor,
Nas que precisam se apaixonar mais.
Não há porque se proibir algo assim,
A ciência é o sol direto do meio dia
Tudo estará resolvido. Todo mundo viverá melhor.
Um caminhão atropelou hoje às 18 horas,
Hora do rush, o cientista Carl Jameson
E um satélite inativo soviético
Caiu em cima de seu laboratório, destruindo 20 anos de pesquisa,
Esmagando todos os seus estagiários inúteis
A sua mulher numa entrevista a rede de tv disse que ele deveria ter
Visto as bolhas de sabão que seu filho fazia,
enquanto tropeçava na areia densa do parque
enquanto marcava seus pés pequenos nela
e que os caminhões e os satélites
não deveriam ter sido nunca inventados
A morte de Carl Jameson não foi em vão
Aquela fatalidade improvável estava prevista nos estudos de física moderna
Haverá o dia em que poderemos controlar tudo
Até mesmo os motoristas sonolentos,
Até mesmo a trajetória dos satélites inativos
saiu um artigo em que Carl Jameson anuncia
a descoberta reveladora de todo um milênio,
de que o amor é visível, que fica
guardado numa parte do coração
e de que é uma bolinha quase transparente
que flutua dentro das pessoas, como bolhas de sabão
Eu sempre acreditei na hipótese das bolinhas transparentes
O mundo será bem melhor quando as pessoas
Puderem injetar bolinhas pré-manufaturadas
Ou extraí-las de pessoas já mortas, e
Colocar nas pessoas que precisam ter mais amor,
Nas que precisam se apaixonar mais.
Não há porque se proibir algo assim,
A ciência é o sol direto do meio dia
Tudo estará resolvido. Todo mundo viverá melhor.
Um caminhão atropelou hoje às 18 horas,
Hora do rush, o cientista Carl Jameson
E um satélite inativo soviético
Caiu em cima de seu laboratório, destruindo 20 anos de pesquisa,
Esmagando todos os seus estagiários inúteis
A sua mulher numa entrevista a rede de tv disse que ele deveria ter
Visto as bolhas de sabão que seu filho fazia,
enquanto tropeçava na areia densa do parque
enquanto marcava seus pés pequenos nela
e que os caminhões e os satélites
não deveriam ter sido nunca inventados
A morte de Carl Jameson não foi em vão
Aquela fatalidade improvável estava prevista nos estudos de física moderna
Haverá o dia em que poderemos controlar tudo
Até mesmo os motoristas sonolentos,
Até mesmo a trajetória dos satélites inativos
Tuesday, February 06, 2007
O mundo sem mim
No dia em que eu tiver vontade de me matar
Fecharei os olhos e apertarei bem a mão uma na outra
direi a mim mesmo “como foste idiota, ridículo”
“tua vida não merece nem terminar tão tragicamente”
e então esperarei a vontade passar
sem mim, o sol ainda brilha
por isso nunca vou me matar
Fecharei os olhos e apertarei bem a mão uma na outra
direi a mim mesmo “como foste idiota, ridículo”
“tua vida não merece nem terminar tão tragicamente”
e então esperarei a vontade passar
sem mim, o sol ainda brilha
por isso nunca vou me matar
Sunday, February 04, 2007
expectativa, desejo e promessa;
Tenho uma teoria que diz que para o brasileiro, expectativa, desejo e promessa se confundem. São uma coisa só.
Quer dizer que sempre quando emitimos uma opinião sobre como será o futuro, estamos dizendo ao mesmo tempo: eu espero que seja assim, eu desejo que seja assim, eu prometo que assim será.
É ilustrativo de nossa personalidade megalomaníaca. Quando algo não sai como esperado, nos sentimos tristes como se fossemos responsáveis pelo futuro. Mas não responsáveis individualmente, porque não faz o menor sentido pensar dessa maneira (e os americanos assim o fazem), responsáveis como um povo. Ao dizermos "eu prometo", somos porta-vozes.
Somos uma população de 188 milhões de tarólogos em serviço. O tarólogo fala pelo seu chefe, pelo seu cachorro, pela sua ex-namorada.
Ainda não perdemos o costume que outros povos já perderam de falar em nome de todos. Dizem-nos: "mas você não mora na favela, como sabe o que os moradores da favela pensam?", "você não está na política, como sabe o que os políticos pensam?", "você não é fã de calypso...", "você não assiste TV a tarde..." e por aí vai.
Talvez seja a hora de pararmos com as leviandades sobre o futuro, sobre nós, é bastante desonesto.
E eu ironicamente venho propor isso apoiado numa teoria absolutamente generalizante sobre o povo brasileiro.
Quer dizer que sempre quando emitimos uma opinião sobre como será o futuro, estamos dizendo ao mesmo tempo: eu espero que seja assim, eu desejo que seja assim, eu prometo que assim será.
É ilustrativo de nossa personalidade megalomaníaca. Quando algo não sai como esperado, nos sentimos tristes como se fossemos responsáveis pelo futuro. Mas não responsáveis individualmente, porque não faz o menor sentido pensar dessa maneira (e os americanos assim o fazem), responsáveis como um povo. Ao dizermos "eu prometo", somos porta-vozes.
Somos uma população de 188 milhões de tarólogos em serviço. O tarólogo fala pelo seu chefe, pelo seu cachorro, pela sua ex-namorada.
Ainda não perdemos o costume que outros povos já perderam de falar em nome de todos. Dizem-nos: "mas você não mora na favela, como sabe o que os moradores da favela pensam?", "você não está na política, como sabe o que os políticos pensam?", "você não é fã de calypso...", "você não assiste TV a tarde..." e por aí vai.
Talvez seja a hora de pararmos com as leviandades sobre o futuro, sobre nós, é bastante desonesto.
E eu ironicamente venho propor isso apoiado numa teoria absolutamente generalizante sobre o povo brasileiro.
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