Wednesday, November 29, 2006
Desculpas Esfarrapadas
Justificativa/ Situação presente do Trabalho.
Caro Professor,
A não entrega das primeiras análises do trabalho pelo nosso grupo se deve a razões um tanto típicas e razões extraordinárias. A primeira dessas razões típicas é que nosso grupo iniciou seus movimentos tardiamente, o que prejudicou o tempo hábil necessário para convencer a organização a ceder o espaço para entrevista, sem que fosse necessário uma corrida atrás do tempo ou algum tipo de demonstração de desespero para com a empresa contatada.
O (***) ficou encarregado de fazer o contato, enquanto os outros tratariam de preparar a entrevista assim que ele fosse confirmado. Acontece que o tempo foi passando inexoravelmente e quando vimos, faltava uma semana para entregarmos a primeira parte. Podemos concluir daí uma outra razão típica: a não preocupação da maior parte dos integrantes do grupo com o andamento do trabalho acarretou numa despreocupação do grupo como um todo, embora em algumas ações individuais essa preocupação tivesse existido. O senhor, como professor de psicologia II deve entender isso melhor do que nós.
Mas logicamente, além dos problemas de ordem temporal na realização do contato e o salutar desinteresse dos integrantes, houve alguns imprevistos exógenos. Explicaremos a seguir:
Ao termos definido a empresa pública, ligamos ao nosso contato e já encontramos disponíveis as quatro pessoas de um mesmo departamento para fazer a entrevista. Todavia o que nós não podíamos adivinhar era que essas pessoas estariam envolvidas na campanha política de um mesmo candidato e nas duas últimas semanas não poderiam parar um só segundo. Nós, otimistas, olhamos isso como um bom sinal, já que poderíamos na entrevista detectar algo do trabalho de campanha misturado ao trabalho do cotidiano. Mas infelizmente foi isso que nos impossibilitou de chegar de fato a entrevistar essas pessoas, pela sua imensa falta de tempo disponível frente ao frenesi eleitoral.
Passado o infortúnio, precisávamos decidir se iríamos manter a idéia de entrevistar essas pessoas após o prazo-limite, ou se tentaríamos uma outra empresa. O (***) tinha umas sugestões, mas era muito próximo aos donos dessas empresas, foi aí que o (***) apareceu com a idéia de contatar uma empresa a qual ele soube que a Empresa Junior já tinha relações, e sabia ele que era uma empresa bastante aberta a esse tipo de iniciativa.
O único problema era que não era uma empresa de grande porte, na verdade, é uma farmácia, com um único dono, e que realmente se animou bastante com o fato do trabalho poder ser feito com seus funcionários. Optamos por ficar com o que é mais certo, além de uma empresa pequena oferecer diferentes percepções por parte dos funcionários em relação ao seu trabalho, e poder ser um local fértil para análises criativas baseadas no conteúdo estudado. Hoje já nos reunimos com o dono da farmácia, e parece que está correndo como o esperado. Pretendemos marcar para logo as entrevistas, e assim que terminarmos iremos entregar tudo bem analisado, bem estruturado e escrito, a fim de que acabemos com essa má impressão inicial, que é falsa, pois garantimos que o nosso trabalho será um dos melhores.
Esperamos dessa vez aprender com os erros e nos ajustar novamente aos estágios corretos de desenvolvimento do trabalho. Queira desculpar-nos.
Obrigado
Wednesday, November 22, 2006
I'm bitter.
Friday, November 17, 2006
Canção do emigrante brasileiro
pois permita deus que eu morra
sem que eu volte para lá
para que eu tenha o meu visa
que eu consiga ter divisas
e boa vida em Utah
minha vitória final
o mais longe do covil
da pobreza animal
e o sorriso azul anil
um brinde ao meu ideal
e à glória do meu Brasil
Wednesday, November 15, 2006
Economia
O entrevistado é Milton Friedman, um grande economista que meio que inaugurou o monetarismo. Monetarismo é uma corrente da macroeconomia que entre outras coisas, é famosa pela tese de que a inflação é um fenômeno predominantemente monetário. Ela se confronta em vários aspectos com a teoria keynesiana. A razão do confronto é muito simples: para os monetaristas, para que a economia de um país se mantenha estável basta o controle da oferta de moeda. O governo tem seu papel reduzido. Sem dúvida este é um pensamento predominante hoje.
Para situar um pouco, o monetarismo tem a ver com todas as teorias que acreditam no mercado como um mecanismo eficiente de alocar recursos, e surgiu no mesmo período das novas teorias de desregulamentação do mercado. Então Milton Friedman pode ser colocado ao lado de F. Von Hayek e os outros teóricos do neoliberalismo.
Bem o neoliberalismo é bem conhecido como uma teoria que prega a rendição incondicional a uma determinada cartilha de políticas muitas vezes que não fazem sentido, pois não se pode aplicar as mesmas políticas em qualquer país.
Mas algumas partes da teoria são aproveitáveis para se fazer uma reflexão a respeito da sociedade, e quê modelo uma sociedade é capaz de escolher para si. Será que abrir mão da liberdade econômica é desejável para se construir uma sociedade igualitária? Ou qualquer coisa que implique na perda de alguma liberdade já é por si só pior do que a liberdade, com todas as suas más consequências?
Para conhecer a fundo essas teorias deve-se quebrar alguns preconceitos. Como na faculdade de economia nós temos poucas chances de conhecermos outras correntes do pensamento, eles ganham um espaço especial. Mas são pensadores consistentes, não são oportunistas, enganadores, demônios, como pensam, e até é preciso conhecê-los para se poder fazer alguma crítica.
www.digitalnpq.org/archive/2006_winter/friedman.html
aqui está a entrevista. Aproveitem.
Próximo texto escreverei sobre um artigo interessante que li, sobre o comportamento dos políticos em época de elições.
Sunday, November 12, 2006
Defeitos Futuristas
“Vai ter explosão lá no Novo México”
Gostava daquilo, de como soava:
uma bravura, uma barbada
Fiz questão de ficar bem perto
Veio o barulho, um calor de se tirar a camisa
Como era linda
Como brilhava
Aquela grande explosão
Voltei para casa sorridente
Olhei no espelho, que surpresa!
Parecia uma obra de arte
valor: 1 milhão de do-lares
a minha disposição
e ainda geometrizado
cores austeras
nariz no cabelo
boca na perna
olho no braço
sem perspectiva -nenhuma- de viver
que posso mais querer?
Cubista, Cubista, Cubista
pra todos que querem ver
Ninguém precisava ir ao museu
eu estava na praça do liceu
era um Picasso,ou um Braque
ou um Cezánne.
autêntico, original,
a bomba atômica
havia me transformado
em algo absolutamente genial
Sunday, November 05, 2006
Saturday, November 04, 2006
Poemas de amor
Deu-me uma vontade tremenda
De escrever poemas de amor
Quando isso acontece eu ligo a TV
Na TV passam mortes demais
(E a vontade não passa)
Golpes, esquemas, máfias
O mundo é uma decepção só
Uma decepção que é uma espera do tamanho
De uma senha inválida no caixa eletrônico 24 horas
É a frustração eterna e intermitente
de nossos dias
(minha vontade aumenta)
vou ao bar, peço sei lá o que,
um salgado
com sorte estará envenenado
e o veneno explodirá minhas veias
me deixara sem ar, perdi-me, morri
no fim da vida
minha maior frustração
foi não ter escrito
poemas de amor nesse dia
Wednesday, November 01, 2006
Eterna reminiscência
- Tenta escrever! solta! não dá.
É sentimento na mente, vindo do peito,
E pára... de parar de pensar!
E pensa,
Viva a melancolia(!), saudade ingrata,
Injusta falta de alguém, maldade,
Raro auge de tudo o que é e tem.
Consequência inexplicável do acontecimento das coisas,
Da tristeza palpável dos homens palpáveis,
E lembra.
Agora deita na tua cama e dorme,
Mas não dormes, sonha,
Sonha estúpido!
Que a vida não trará a sua luz,
De graça? nem poderá nunca trazer.
Esqueça, ou melhor,
Não sonhas,
Vai até ela, ou melhor, vai logo,
Que a angústia preparou um banquete,
E sorridente inda te come vivo.
Monday, October 23, 2006
lembrança barata
Um dia soube de você simbolicamente na minha cabeça que mesmo quando eu ia na escola, vocês ainda ficavam lá no tapete, acertando os últimos detalhes, num burburinho que só; Hoje deixo-os quietos numa caixa de sapato no fundo de um armário.
Esplêndida realidade.
Sunday, October 15, 2006
Conto.
O pai do Amauri não podia assistir à nossa final, disse o treinador. Não era uma questão de maldade, era crucial que ele não fosse. Lembro bem do professor avisar que não queria tumulto porque o jogo da final ia ser num colégio de padres. Os padres não gostavam de briga nem que a torcida xingasse o juiz, do contrário não seríamos mais chamados para competir nos outros quadrangulares. Por isso foi vetada a presença do Sr. Teófilo. Ele não se controlava, poderia nos prejudicar.
Antes ele era quem nos levava aos jogos do São Paulo. Não podia alguém ficar de pé na frente dele mais de um minuto que já vinha xingamento brabo. Os palavrões que sei devo ao pai do Amauri. Tantas eram as reclamações das mães, dos moleques voltarem dos jogos com a boca suja, que o Sr. Teófilo não pôde mais nos levar. Sem fazer nada aos domingos, ele devia se sentir sozinho. E pior é que era indesejado também no nosso time modesto da 6a série.
O Amauri arranjou um jeito de que sua mãe assinasse a convocação para o jogo, numa hora em que seu pai estava no trabalho. Deu uma dor no peito. O pai o Amauri era o único pai que ia nos jogos mesmo, em todos, levava a sério. Talvez para nos dar um certo apoio. O jogo seria no sábado de manhã, íamos com a perua do colégio. O motorista sintonizava a rádio numa estação de pagode e nos sentíamos na Várzea. Vinha a completude nostálgica da Várzea, uma gritaria total embora o professor já naquela idade falasse em concentração.
Chegando à quadra, corremos diretamente para o vestiário. O professor deu as camisas. Eu era o número catorze, banco, maldito banco, um atestado de incompetência, mas também de humildade, nobreza, resignação. Maldito banco. Vestimos nossas caneleiras, meiões, chuteiras, levantamos, e o professor pediu para rezarmos um pai nosso. Só quem já jogou futebol entende o misticismo que é momento da preleção. Enfim, finalizada a reza e as instruções finais do professor, já fomos para a quadra. Eu carreguei as garrafas de água e já me acomodei no banco. Os titulares já iam para a quadra chutar no gol.
Meus olhos procuravam minha mãe na torcida. Minha mãe, que nunca assistiu nenhum dos meus jogos, trabalhava de sábado. Mas quem sabe estaria acenando para mim, teria uma surpresa. E tive. Na primeira fileira da arquibancada estava lá o pai do Amauri, de braços cruzados, olhando os moleques chutarem bola. Ia avisar o professor mas não fui, deixei-o. Senti um aperto no coração.
Teve um lance em que o Amauri tomou uma falta feia, e o juiz não marcou. Olhei para o Sr. Teófilo e ele ficou quieto, se segurando, com uma bruta raiva do juiz, do treinador. Mas não disse nada. O placar marcava zero a zero até que o nosso fixo chutou uma bola para escanteio. Jogada ensaiada e uma bomba que nosso goleiro nem viu. Um a zero, fomos vice-campeões. Eu nem me importava mais com o jogo. No fim dele o Sr. Teófilo foi até o Amauri e lhe deu um abraço forte que me lembro até hoje.
Sunday, October 08, 2006
O Debate de hoje e o Caos da Humanidade
Podemos achar uma característica aqui ou ali que nos faça votar num ou noutro. Não menosprezem as nuances e as sutilezas de cada um, inexplicavelmente elas são essenciais, principalmente para o julgamento das pessoas. Agora, o importante é não acreditar na ilusão de que se um for eleito estaremos caindo nas trevas mortais da ignorância ou do neoliberalismo.
É muito comum, em diversos períodos da história, o homem aparecer com o discurso de que se "isso" acontecer vamos caminhar para a degeneração humana e da civilização. É irritante quando é mentira.
Este é um desses casos. Há muitíssima semelhança de propostas vagas, e as melhorias prometidas são sempre de natureza incremental. Eu me vejo assistindo uma luta de boxe que começa com a apresentação de Lula e Alckmin:
"De um lado, ele, Lula, antiga esperança do povo, pesando o suficiente para adquirir o futuro epíteto de bonachão e um lugar entre o segundo escalão dos estadistas brasileiros (e olhem que o primeiro não é lá essas coisas), que enfrentou diversos problemas com corrupção em seu governo e tem sido questionado junto com seu partido sobre sua integridade ética."
"Do outro Alckmin, "o genro que toda sogra queria ter", tem laços com a Opus Dei, o que faz todo mundo lembrar da sofrível leitura de Código Da Vince entre outras coisas, amparado pelo ideário e o discurso de rendição incondicional do neoliberalismo, e que chegou a ter o disparate de dizer no debate passado que "o novo conceito de ética na política era eficiência."
E eu da platéia, sem dinheiro e preocupado com o futuro, resolvo nem apostar em ninguém. Abaixo minha cabeça com os cotovelos apoiados nos joelhos e tento fechar os olhos para ver se sonho por cima do pesadelo, seguindo um pouco a idéia de Álvaro de Campos:
Saturday, September 23, 2006
Saiu-se bem.
O sujeito estava duro, sem dinheiro. Às vezes surgia um bico aqui ou ali, mas de forma geral, sempre estava preocupado se ia ou não virar mendigo de vez. É um medo que aflige muitos no mundo contemporâneo, mais do que o medo de falir, de perder os entes queridos: o medo de ser mendigo na Sé. No bar que ia para afogar suas frustrações devia dez cervejas, e toda vez que passava por lá, mesmo que tentasse se esconder, o dono do bar o via e dizia:
- "Olha lá, tem dez cervejas aqui depois". - Ele abaixava a cabeça, envergonhado, e continuava andando.
Um dia, puto com a vida, estava perto e foi dar uma volta no shopping pra distrair um pouco. Não ia comprar nada, só olhar mesmo. - "Estava até querendo comprar o celular, mas achei aqueles modelos muito chinfrins", disse ele pro amigo que trabalhava na sorveteria do shopping.
Na volta passou pelo mesmo bar e o dono o viu:
- "Olha lá, tem dez cervejas aqui depois ein malandro". Abaixou a cabeça. Tinha que arranjar um jeito de pagar aquelas cervejas.
No fim da tarde foi num pagode para ver se esquecia sua vida miserável. O amigo pagou a entrada, pois ficou sabendo que ele havia esquecido a carteira.
No pagode conheceu uma moça simpática que queria impressionar. Sem emprego, sem dinheiro, pelo menos mulher ele tinha que ter, e na ausência dos outros dois é cada vez mais difícil. Falou-lhe umas mentiras ao ouvido, que é perfeitamente lícito na situação em que ele se encontrava. Saíram mais cedo e foram passear, assim ele aproveitava e a deixava em casa. Por coincidência ela morava pertinho dele. Estavam se dando bem, coitados.
Quando o camarada percebeu que teria que passar na frente do bar em que devia dinheiro, se desesperou, iria provocar uma má impressão e daí só lhe restaria virar mendigo, pensou. Não muito tempo depois, o dono do bar o viu e disse:
- "Olha lá, tem dez cervejas aqui depois ein!"
Quem está na merda tem que pensar rápido. Ele retrucou:
-"Põe pra gelar então que amanha eu passo pra pegar!". E seguiu reto de cabeça erguida. Seu orgulho o salvara.
Friday, September 15, 2006
Thursday, September 14, 2006
espero que seja uma profecia não auto-realizável.
Podem anotar.
Wednesday, September 06, 2006
Cotas raciais e direitos humanos
Aproveito esse post para refletir sobre duas questões: Por que cotas raciais são legítimas (se são necessárias é outra questão que discutirei depois) e Por que cotas raciais em vez de cotas sociais ou para escolas públicas.
Em primeiro lugar. Façamos uma reflexão sobre a história. Voltemos à revolução francesa, à revolução americana e à declaração dos direitos do homem da ONU em 48. Todas elas de alguma forma afirmaram a igualdade formal entre os homens, por serem todos racionais e livres etc. O direito de ser reconhecido como homem por outro homem parece-me a base fundamental dos primeiros direitos humanos, como se fosse um pré-requisito universal no trato de todos os povos, seja ele inimigo ou amigo, rico ou pobre, de qualquer etnia. Direitos humanos, segundo Hanna Arendt não são estanques, eles mudam para melhor ou pior ao longo do tempo. è o que acontece se comprarmos a idéia de direitos humanos em1789 e em 1948.
Eu pergunto: Deveríamos, sabendo que é possível progredir em matéria de direitos humanos, parar por aí? Devemos aceitar a igualdade formal e deixar de buscar uma igualdade de fato?
Na minha humilde opinição creio que não.
Um novo direito humano que surgiu no século XX foi o chamado direito a diferença. Além do direito de sermos iguais, que nos uniformiza, temos, humanos, o direito a nos diferenciarmos dos outros, pois é assim que se forma a identidade. E qualquer situação em que eu, ao afirmar a minha identidade cultural for reprimido, isso é um desrespeito aos direitos humanos.
Alguém parou para pensar nesse culto obsessivo em alisar o cabelo que os brasileiros têm? E a velha questão do capitão do mato, que era negro, mas caçava escravos fugidos a fim de sustentar um a primazia social daquels que lhe oprimiam?
Vejo que o assunto começa a ficar interessante. Visto que não se deve coibir alguém de afirmar sua identidade cultural, ou por ser diferente, temos um novo conceito de igualdade e de discriminação. "Discriminação é quando em situações iguais somos tratados de forma diferente e em situações diferentes somos tratados como iguais." Essa é a difinição presente no documento contra a discriminação da mulher da ONU.
Ora, vão me dizer agora que um negro está em condições iguais a um branco na hora de fazer o vestibular!? O vestibular é então, por definição, um mecanismo de discriminação.
São tantas outras as instituições que tem essa função no Brasil. Na Anérica Espanhola era proibido por lei a um homem nascido na colonia ocupar cargos administrativos. No Brasil oo acesso a terras sempre foi restrito a determinados grupos de pessoas. E por aí vai. Querem que eu coloque o argumento dos 300 anos de escravidão negra? Daqueles que são mais parados em blitz policiais e que mesmo sendo ricos são impedidos de entrar em condominios de luxo?
Calma... Eu acabei de falar que não podemos apenas criar direitos humanos que proibam a discriminação, que prendam o racista, pois assim só temos a igualdade formal. Para se ter a igualdade de fato precisamos de políticas e instituições que PROMOVAM esta igualdade de fato. é aí que entram as políticas de ação afirmativa. Por isso elas são legítimas do ponto de vista conceitual.
2) A miscigenação é a maior farsa da história do Brasil. Sem dúvida que há miscigenação, mas não da forma que ela nos é vendida. O pardo, o mulato no Brasil é visto como uma gradação do negro para o branco, não, infelizmente, uma raça autêntica, como pode advogar algum entusiasta do homem cordial.
Em toda a história dos povos da américa esse argumento da nação parda foi usada para iludir a mente daqueles que viam um problema racial no país. A questão não é se o Brasil é um país racialmente dividido ou não, mas que há desigualdade entre brancos e negros, isso há.
Sabe-se hoje que os negros talvez não sejam nem 7% da população. Entretanto, socialmente, tudo gira em torno do quanto se é negro, daí a necessidade do foco ser o negro. E a expressão "pé na cozinha"? Poderia haver canela na cozinha, joelho, e até a cabeça.
Falar em negros e brancos é uma impropriedade. Não existem raças. Mas se a exclusão social está associada a critérios raciais, porque não podemos usar os mesmos critérios para a inclusão? Será que é isso o que vai destruir nossa sociedade? É possível ou viável adotarmos outro critério?
Não chegou a hora de uma nação como a brasileira vestir a camisa da promoção da igualdade de fato, e dizer bem alto: "Nós, Brasileiros estamos dispostos a acabar com o racismo e com a desigualdade, para viver em uma nação onde as crianças não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter"?
Digo com toda a certeza a vocês que quando desviamos a política para cotas sociais ou de escola pública, todo esse propósito simbólico se perde. Em termos práticos é a mesma coisa, pois os negros são maioria entre os pobres e entre os estudantes de escola pública.
A associação de políticas de inclusão social com a discrminação é absurda. É dizer que dar universidade a alguém que nunca iria ter a oportunidade de estudar é discriminar.
Por acaso vai sair carimbado na testa de alguém que ele é cotista, vai sair no diploma, por acaso? Não são todos os negros que serão cotistas, os que têm nota suficiente entrarão pelo sistema universal, não há sentido nessa proposição. E outra: estando lá na universidade, que é um espaço público, finalmente quem soferer discriminação vai poder ter voz para alguma coisa e discutir a questão da tolerância a outras culturas na universidade. A UnB observou uma diminuição dos casos de racismo depois da implantação do sistema de cotas.
Não vou entrar no mérito de outras questões relacionadas. Mas parece-me óbvio que cotas raciais são melhores para diminuir o racismo(!!!) do que cotas sociais. Sempre dependendo da forma que são implantadas, como mencionei no post anterior.
O que acontecerá com os brancos pobres? Os brancos pobres sofrem discrminação por serem negros? Ora, há algo errado, não?Política é escolha, os brancos pobres não estão na questão do racismo, mas em outra, aliás em muitas outras em que o Brasil é um desastre.
Precisamos definir a hora em que vamos tentar ou não acabar com o racismo
É muito fácil dizermos para esperar o ensino básico melhorar. não somos nós que temos 18 anos e nunca vamos poder sonhar com a universidade mesmo.
* políticas de ação afirmativa são temporárias por definição, como se coloca no documento da ONU.
Monday, August 28, 2006
comentários
É que eu sou favorável às cotas universitárias para negros, e quando normalmente esse debate aparece na TV, nunca colocam o outro lado. Como num jornal nacional em que, numa reportagem especial sobre o assunto, se mostrou um professor universitário contrário e nenhum favorável.
Desta vez eu tratei de escrever um e-mail, mais ou menos objetivo, contestando alguns dos argumentos que eles apresentaram. Minha posição em relação às cotas não é reflexo de nenhum esquerdismo idiota que eu possa eventualmente, sem querer, ter.
Na verdade, após refletir bastante, e como sou interessado pelo tema da educação, ter pesquisado, feito uns trabalhos, e lido um desses estudos publicados pelo núcleo de consciência negra (creio que seja esse o nome) da universidade de são paulo, conclui que não há evidências suficientes para acreditarmos nas consequências negativas das ações afirmativas. Ao contrário, elas podem ser eficazes e importantes para a promoção de uma igualdade de fato, que vai além do simples multiculturalismo, desde que aplicadas com propriedade.
Para acabarmos com o racismo no Brasil, há alguns caminhos possíveis. Ações afirmativas são razoáveis pois podem acelerar esse processo, sem escorregar em nenhum tipo de medida paleativa.
Outro dia exporei meus argumentos que podem provar isso.
Nesse programa, a posição contra o sistema de cotas foi unânime. Mas acredito que pensem assim mais pelo dever que acham que têm de tripudiar em cima dos liberais esquerdistas (corretíssimo o tom da crítica) do que por convicção sincera.
E essa convicção sincera poderia ser apenas a manifestação de um medo danado de perder privilégios. Menos mal.
Friday, August 25, 2006
poemas de amor
Eu não o coloco aqui pq acho q ele não está pronto.
Além do mais. Poemas de amor são mais perigosos para o indivíduo que drogas pesadas e carros sem freios. Faça um poema de amor e perca-se.
Vi amigos que andam fazendo isso inescrupulosamente. Tenho que falar para eles tomarem cuidado.
Uma hora estamos sentados pensando em mergulhar numa subjetividade, a busca de um sentimento verdadeiro, depois estamos nos entregando, e depois nos sacrificando. É tudo uma questão de estágios. Há pessoas habilidosas em parar no primeiro, e esses são os bons poetas apenas. Os que param na segunda fase são bons amantes. Os que vão até a terceira são idiotas ou os Salvadores que nossa sociedade precisa.
Sei que é clichê pensar os sofredores como Salvadores. Mas confessem que existe algo de muito heróico em levar pancadas na cabeça.
Saturday, August 19, 2006
O cansaço.
Pode ser uma rotina tolerável mas errática, dessas em que uma hora se faz uma coisa, se descansa, e duas horas depois se retoma, e retoma, não em um dia, pois isso seria a rotina em si, mas em pequenas frações do dia.
Pode ser a não resolução de algo que já deveria estar resolvido. Isso é desgastante.
Pode ser uma intranquilidade nossa para dormir, para deitar e assistir TV, para comer. A intranquilidade não é advinda do cansaço, como alguém poderia pensar. é a causa, não o efeito. Kant dizia que em muitas das relações causalidade, a causa e o efeito são simultâneas e portanto, não se pode dizer que objetivamente: isso causou aquilo. (é o caso). entretanto, a causa e o efeito, embora simultâneos, são determinávels quanto ao tempo intuitivamente, de modo que o que vem antes é sempre causa, e o que vem depois, efeito. Assim, o cansaço é sempre efeito já que intuitivamente na linha do tempo ele vem sempre depois.
Além disso e em suma, ficar cansado tem sempre a ver com o não encerramento dos fatos, ou das tarefas.
e não, como pensam, com o término de muitíssimas tarefas uma atrás da outra. Penso eu.
Tuesday, August 08, 2006
apresentações
Tenho uma matéria vazia na faculdade. Comunicações. Temos que aprender lá a falar em público e redigir relatórios, ofícios. Nas primeiras aulas temos que nos apresentar para a classe.
estava pensando aqui comigo como eu vou me apresentar, tenho a suspeita de que quando eu for lá na frente eu seja motivo de risada geral, afinal, vou acabar falando que gosto de filosofia, o q eu não é lá hobby muito popular. Vou ter que dizer também que escrevo, que sou vocalista de uma banda de ska. vou ter q explicar isso.
Sei que na hora, como eu sou metido a falar coisas esdrúxulas, vou acabar por cair no ridículaoque me arrependerei depois.
é que parece tão legal imaginado na cuca... falar de assuntos impróprios, paradoxais e confusos, às vezes sem sentido . Não tem jeito, vou acabar dizendo.
Essa disciplina é bem odiável. descobri num teste de português hoje que ainda erro. constatação que, em qualquer situação tirando quando eu desconfio se sou uma máquina, é ruim.
De resto sinto-me um pouco abandonado por todos. de resto não, por inteiro. O abandono é a condição inicial para a realidade e a delimitação de nós mesmos. Aos poucos vou recolocando meus pés no chão e sentindo-o gelado.
escrevi há duas semanas atrás um poema. por um momento pensei em coloca-lo aqui, porém sei que ele ainda não está pronto, então é melhor deixar o tempo.
andando na rua, imaginando...
(tive a idéia de uma história em que um roteirista ávido por desvendar os problemas dos lares e das donas de casa brasileiras idealiza uma versão brasileira de desperate housewifes, num tom de crítica social. Por fim , descobre que american dream não combina no Brasil, quanto mais a falência do american dream, e que um seriado desse nunca daria certo, porque as donas de casa não escondem nada, são aquilo e ninguém estaria disposto a questionar)
ai surgiu a frase: "a beleza americana brasileira nunca existirá. a beleza brasileira americana, sim".
melhor parar.
Saturday, August 05, 2006
Sétimo dia Afro
Todos nós da família nos agrupamos para irmos juntos à missa rezar pela perda nossa, celebrar a morte, que faz parte da vida e existe apesar de todas as bobagens não importantes que nos alegra ou nos entristece também. Fomos em dois carros, estacionamos num antigo parque de diversões que virara um estacionamento bem dos fuleiros. Chegamos à porta da igreja a qual possuia uma torre desproporcionalmente alta, um pouco feia.
A Igreja estava lotada numa sexta à noite, fato incomum. As igrejas vêm esvaziando com o tempo. Tem a ver com a dessacralização do mundo. Mas este dia ela estava surpreendentemente alegre, cheia, viva. Pareceu-me, por um instante, que aquela era uma homenagem singela, descompromissada à minha avó, que de todos os anos que vivera, talvez nenhum deles tenha feito uma reclamação sequer da sua vida, e tenha passado toda sua vida vivendo para os outros.
Notei algo de diferente no figurino das pessoas. Umas túnicas, uns turbantes, de estilo africano. Davam um colorido entusiasmante àquela missa de sétimo dia. Quê que há?. A comentarista da missa foi ao púlpito e proclamou: "Muito axé a todos! Nesse dia lindo da nossa missa afro para a comunidade negra!". Meus pais e avós se entreolhavam, e ela continuava. "Vamos festejar a nossa cultura, nossa identidade!". Cheguei perto de minha mãe e perguntei: "na hora de marcar a missa alguém avisou que a missa iria ser especial para a comunidade negra? E assim com esses batuques alto astral?". Chegavam os padres com a procissão de entrada, todos não só padres, mas verdadeiras autoridades na igreja católica, representantes das lutas pelos direitos negros. Minha mãe respondeu que não, que ninguem havia dito nada. Se não ninguém iria marcar uma missa de sétimo dia numa celebração com cavaquinhos, batuques, coral, músicas em dialetos africanos.
Foi um desencontro, isso com certeza. Um desencontro não só de pessoas (pois minha família estava lá com um propósito totalmente diferente), mas de sentimentos, de pensamentos, de momentos, deus! Todo o desencontro numa só compressa dimensão, espaço e tempo. Alegria e dor.
O padre dançava. Dizia no sermão que acreditava num deus que canta e dança. Assim como Nietzche, pensei. Sinceramente não soube o que sentir. Só sei que vivi aquela hora, hora e meia, e não achei desrespeito. Senti-me numa comédia verdadeira. Não tinha nenhuma probabilidade da missa de sétimo dia da minha vó ser uma missa afro.
Pensei depois em casa e tentei achar algo de providencial que justificasse o engano, mais pela distração que tenho de procurar essas razões. E enquanto pensava, quis que aquilo fosse uma forma de minha avó, que sempre pensou em agradar os outros e não a ela, ceder de novo a sua vez, o seu espaço.
Oxalá.
(é fato verdadeiro.)