Sunday, October 15, 2006

Conto.

mandei esse conto para um concurso do Estado de São Paulo, que deveria ser sobre futebol. Definitivamente não ficou bom, mas acho que tem algo aproveitável no texto que eu gostaria de retrabalhar. De qualquer forma, coloco-o aqui.

O pai do Amauri não podia assistir à nossa final, disse o treinador. Não era uma questão de maldade, era crucial que ele não fosse. Lembro bem do professor avisar que não queria tumulto porque o jogo da final ia ser num colégio de padres. Os padres não gostavam de briga nem que a torcida xingasse o juiz, do contrário não seríamos mais chamados para competir nos outros quadrangulares. Por isso foi vetada a presença do Sr. Teófilo. Ele não se controlava, poderia nos prejudicar.

Antes ele era quem nos levava aos jogos do São Paulo. Não podia alguém ficar de pé na frente dele mais de um minuto que já vinha xingamento brabo. Os palavrões que sei devo ao pai do Amauri. Tantas eram as reclamações das mães, dos moleques voltarem dos jogos com a boca suja, que o Sr. Teófilo não pôde mais nos levar. Sem fazer nada aos domingos, ele devia se sentir sozinho. E pior é que era indesejado também no nosso time modesto da 6a série.

O Amauri arranjou um jeito de que sua mãe assinasse a convocação para o jogo, numa hora em que seu pai estava no trabalho. Deu uma dor no peito. O pai o Amauri era o único pai que ia nos jogos mesmo, em todos, levava a sério. Talvez para nos dar um certo apoio. O jogo seria no sábado de manhã, íamos com a perua do colégio. O motorista sintonizava a rádio numa estação de pagode e nos sentíamos na Várzea. Vinha a completude nostálgica da Várzea, uma gritaria total embora o professor já naquela idade falasse em concentração.

Chegando à quadra, corremos diretamente para o vestiário. O professor deu as camisas. Eu era o número catorze, banco, maldito banco, um atestado de incompetência, mas também de humildade, nobreza, resignação. Maldito banco. Vestimos nossas caneleiras, meiões, chuteiras, levantamos, e o professor pediu para rezarmos um pai nosso. Só quem já jogou futebol entende o misticismo que é momento da preleção. Enfim, finalizada a reza e as instruções finais do professor, já fomos para a quadra. Eu carreguei as garrafas de água e já me acomodei no banco. Os titulares já iam para a quadra chutar no gol.

Meus olhos procuravam minha mãe na torcida. Minha mãe, que nunca assistiu nenhum dos meus jogos, trabalhava de sábado. Mas quem sabe estaria acenando para mim, teria uma surpresa. E tive. Na primeira fileira da arquibancada estava lá o pai do Amauri, de braços cruzados, olhando os moleques chutarem bola. Ia avisar o professor mas não fui, deixei-o. Senti um aperto no coração.

Teve um lance em que o Amauri tomou uma falta feia, e o juiz não marcou. Olhei para o Sr. Teófilo e ele ficou quieto, se segurando, com uma bruta raiva do juiz, do treinador. Mas não disse nada. O placar marcava zero a zero até que o nosso fixo chutou uma bola para escanteio. Jogada ensaiada e uma bomba que nosso goleiro nem viu. Um a zero, fomos vice-campeões. Eu nem me importava mais com o jogo. No fim dele o Sr. Teófilo foi até o Amauri e lhe deu um abraço forte que me lembro até hoje.

2 comments:

A Esquesita said...

= )
O final é bonitinhu!

Anonymous said...

Um final mal bolado e uma limitação absurda (por parte do regulamento) fez com que meu texto ficasse ruim, também.