Saturday, June 30, 2007

Liszt



Eu sou um estudante de piano frustrado. Gosto de piano, tenho ouvido Liszt e ele é sangue bom. Há um vídeo de um interprete húngaro Georges Cziffra, um pouco polêmico, pelo pouco que sei.

sem título

o que quero dizer, quer dizer,
o que quero insistir em dizer,
é que, para além dos altos custos de energia elétrica,
e para frente dos dias sem graça e chuvosos,
há, e isto é minimamente possível,
dias chuvosos totais, abundância de lirismo
e poesia - não nominável - em todas as partículas
dos seres...
basta, para sentirmos, fazer a escolha dolorida
de viver desejando isso.

Saturday, June 23, 2007

O mito da igualdade

É quase senso comum que o discurso em favor da liberdade (pensemos no sentido econômico, por enquanto) é próprio dos economistas do "mainstream", enquanto que pensar em igualdade é algo mais heterodoxo, de esquerda. Vejam que lia um livro do Pierre Rosanvallon, e achei uma reflexão interessante.
Bem, de fato, a desigualdade tem um papel importante no mercado. As pessoas trocam uma coisa por outra no mercado porque não são iguais, se todo mundo tivesse as mesmas coisas não haveria porque trocar. Mas como o livre-mercado seria algo que funcionaria sozinho, com mecanismos de auto-ajuste, é preciso que os agentes ajam de uma maneira autônoma, pensando em si mesmos, não nos outros.

Ou seja, a sociedade do livre mercado é uma sociedade sem os simbolismos dos contratos sociais, políticos. É um efeito mecânico, como o da física clássica, ninguém precisa concordar com nada por convencimento. As pessoas só concordariam com qualquer mudança, se nenhuma delas, ao final, fossem prejudicadas. Mas vejamos o exemplo em que alguns tem muito, muitos tem pouco. É uma situação complicada do ponto de vista social, embora eficiente no sentido econômico, pois nada pode ser melhorado sem que piore a situação de outro (a mudança nunca poderia ser consensual).
O momento em que uma pessoa passa a agir diferentemente, orientada relativamente ao que o outro pensa ou tem, o outro, há uma distorção no mecanismo de mercado, distorção da racionalidade. Ele perde sua natureza mecânico, natural e torna-se social, político. Os economistas chamam de "inveja".

Surge então o problema da equidade, ou da justiça distributiva. A única forma de fazer com que o mercado funcione, é garantindo que as pessoas tomarão decisões autonomamente, e isso se faz minimizando a possibilidade de "inveja". Logo, igualdade é uma condição necessária para a manutenção dos mecanismos "naturais" de mercado, ela mantêm os problemas de natureza política desnecessários.

A desigualdade abre caminho para a interação, e o reconhecimento do outro (alteridade?), da influência do outro na nossa existência, na nossa consciência. Dizia Marx que o homem se vê parte do gênero humano não olhando para si mesmo, mas olhando seus pares.

Por isso (voltamos ao senso comum), os ideais de igualdade têm uma natureza ambígua. De um lado todos concordamos que devemos ser iguais, mas ao mesmo tempo, que devemos ser diferentes.

É engraçado como mudando a linguagem apenas, estamos sempre nas mesmas questões.

Saturday, June 16, 2007

Registros

Quem inventou esta história de ser gente?
Ser gente de verdade é estúpido. Gente.
O doce mesmo para o mundo é fingir ser (não ser sendo) qualquer outra coisa.
Coisa, espalhe-se esse som, doce,
Que fique registrado, e ouça-se o barulho enquanto datilografo.

É bom fingir que não se é, não ser,
[Não um fingir de fingidor
Aquele que o faz por amar o real, por ser gente]
É algo que vai além, além da cotidiana mesquinharia,
Além até do criticável,

A mesquinheza de todos nós, isto sim vale,
Isto sim nos torna gente,
Mais que toda compaixão e todos os donativos para a campanha contra o câncer,
Mais que todas as entidades filantrópicas juntas e todos os organismos internacionais juntos

Ser puro, asceta, esterilizado, estéril? Vamos ao Tibet fazer proselitismo.
Só fazê-lo, em nome de nada.
Registre-se, céus, carrinhos de bebê parados neste parque
Importa aqui é ser um nada flutuando, um nada funcional, a nadar funcionalmente e sem rumo

E para quê vou eu adorar um deus que foi também humano?
Humano, meu deus, humano.
Vou rezar...com quais funcionalidades?
Ufa. De certo que ninguém são, aqui, rezaria a um humano.
- O meu quarto não tem espíritos (!) -
- As formas da sombra da minha cadeira não são sobrenaturais (!) -
- Então não vou agradecer a um humano pendurado na parede -
Que expressa sofrimento

Para quê? Ora, para quê.
Cesse esta covardia anti-humana
E registremos juntos, calçadas esburacadas, sentem-se cá comigo,
Que se há algum motivo para rezar
Ou para agradecer
Ele se deve a não-existência do sobrenatural
Pura e simples, se deve sim a – nossa - existência!
À nossa humanidade
Nossa mesquinheza.
O terço aos indesculpáveis
O rosário aos sovinas.
Todos os dias rezo um pai nosso à minha oleosidade
À minha permissividade, à minha fraqueza
Ao meu correr chorando por atenção
Rezo pensando nisso junto à minha cama

Escutem as mudas recém envenenadas pelos vizinhos,
Escutem-nas, formigas agora sem formigueiro,
Decaptaram aqueles mais gente, que foram gente no passado,
Esquartejaram todos os deuses,
Mantiveram o que era inofensivo aos olhos deles,
Deles os quais não sei quem são,

E o que botaram no lugar?
Uma moral esdrúxula, e princípios mais esdrúxulos ainda,
Botaram uma moral sem beijos melados o bastante,
Sem narizes escorrendo, sem suor e sem carnes em excesso
Colocaram no lugar de deus, o mundo construído sem deus
Sem deuses rechonchudos
E no lugar da alegria, botaram alegria
No lugar de todo o resto, ficcionaram todo o resto
Assim podemos julgar viver bem
A única diferença do mundo que eu vivo,
E do mundo que eu gostaria de viver
É que naquele falta palpitar, o palpitar usual
É que naquele falta a ruptura do nascimento inercial de um bebê

[Em vez de pularmos das janelas
Pensemos na realização de um esporte radical]

Voltem-se para mim, janelas quebradas
Registremos o andar espaçado do homem meio contente
À caminho do supermercado cuja fila no caixa é quilométrica
Guardem na memória este, pior de todos, que vos escreve
(E que por coincidência é o mesmo a andar, meio contente, a caminho do supermercado)
Que dentro de uma hora será ultrapassado,
Pela demora nas filas dos caixas
Pela lógica inexorável dos acontecimentos
Pelo atraso cada vez mais inesperado dos meios de transporte públicos
Por sua vida cada vez mais dolorosa e cada vez menos sagrada.
Que é do tamanho de um cartão bancário, cuja senha se esqueceu
Cuja alma tem se sentido presa, numa camisa de força, tão espetacularmente presa
Que quase não se reconhece como alma, mas como gosma
E vê nos tantos outros passantes, uma natureza menos repugnante que a sua
E sente, ao sentir, um orgulho inegavelmente imperdoável

Wednesday, June 13, 2007

Soneto

Corre, séria, com o cabelo preso
E não guarda esse sorriso para mim
Que as flores secas do meu jardim
Te entristecem e causam desprezo

O amor convenceria, cor de rosa
Não fosse feio, rude meu coração
Amargo em acender qualquer paixão
Com ti vislumbro sombra tenebrosa:

Já num pisco, de repente num momento
Verei que não tens amor infinito
E além que não foste apaixonada

Então afasta-me o brilho que fito
Que faz minha vida solucionada
Que dá aos meus dias tamanho alento



(algumas alterações a serem feitas.)

Sunday, June 10, 2007

Comentários.

Em São Paulo, hoje foi o dia da parada gay, ou dia do orgulho GLBT, como chamam. Foi também o dia em que a Cidade deve ter coletado mais ISS do que em qualquer época da história. Sob a ótica de um governo, o dia do orgulho gay termina normalmente com um saldo muito positivo, tanto no sentido da coleta de impostos, como também porque é um evento de grandes proporções, e que se comparado ao GP do Brasil, por exemplo, não incentiva um número muito grande de atividades ilegais.

Digamos que o Grande Prêmio de interlagos é o exemplo ao contrário. Tráfico de cocaína e prostituição (na verdade a exploração de prostitutas, já que a prostituição não é considerada pela lei brasileira ilegal, somente o agenciamento) sobem demais. Mas mesmo este evento traz alguns benefícios a cidade. Em geral, São Paulo ao sediar esses eventos se reafirma como uma cidade especial.

****
(Gostaria de escrever uma outra coisa que não lembro. Vou parar de escrever sobre mim no blog, sempre me policio para isto, mas as vezes acabo fazendo. É uma falta de vergonha.
Talvez escreva menos por esse tempo devido ao início dos exames finais.)

Monday, June 04, 2007

Servidão

Não sei se servimos para alguma coisa
Acho, pessoalmente, que não devemos servir para nada
A não ser para dizer coisas sem sentido
E irritar os outros. E talvez andar na rua e cantar.

Uma parte de mim serve. Por isso, às vezes me sinto mal.
Uma parte de mim me faz sentir mal quando irrito as pessoas
Por conclusão estou quase sempre mal.
Tirando as horas em que canto sozinho andando na rua.

****************

Tenho ficado um pouco sozinho. Sozinho integralmente. Como quem precisa fazer uma excursão.

Friday, June 01, 2007

Decretos do Serra

É lógico que eles restringem a possibilidade da universidade gastar, ou aumentar gastos, pelo menos os aumentos terão maior controle. Tem gente que tem isso como uma descoberta brilhante. Mas não entendo como usam como um argumento para a greve, e não serve como argumento a menos que se introjetem alguns juízos de valor:

a) é bom para a sociedade que a universidade amplie os gastos
b) o governo ao desejar controlar os gastos da universidade está fazendo mal a ela.
c) a greve é a melhor estratégia política de pressão para obter a revisão dos decretos
d) as greves períodicas não afetam a qualidade do ensino, enquanto que os decretos sim.

Por mais que nos sintamos tentados a concordar com estes juízos de valor, estes são plenamente discutíveis e é por isso que venho chamando atenção para o fato:

a) ampliar os gastos significa diminui-los em outras áreas, se se quer (e se deve por imposição legal) respeitar a lei de responsabilidade fiscal.
b) A universidade é financiada por impostos regressivos e possui uma clara desigualdade no acesso, de modo que não cumpre totalmente seu papel social, e também não forma elites dirigentes. Universidade pública não é senha secreta para abir qualquer cofre, ingênuo é quem o pensa.
c) a universidade não é um serviço público vital, portanto sua paralização demora meses para chamar a atenção e ter eficácia, ao passo que a universidade tem outros meios políticos de fazer pressão, muito mais eficazes, aliás, estes que vão dar solução ao impasse.
d)As duas ações tem relação direta e negativa com a qualidade do ensino, e com a formação acadêmica dos alunos.

Isto nos dá alguns instrumentos para levantar algumas dúvidas (cartesianas) benéficas e corrigir o rumo deste movimento. A assembléia é hoje.