Monday, October 23, 2006

lembrança barata

Lembra, meu GI joe, que sentávamos no tapete da sala de casa, e que juntáva todos os outros bonecos heróis que tinha com você; fazia vocês se reunírem em assembléia para discutir como iríamos combater o mal?

Um dia soube de você simbolicamente na minha cabeça que mesmo quando eu ia na escola, vocês ainda ficavam lá no tapete, acertando os últimos detalhes, num burburinho que só; Hoje deixo-os quietos numa caixa de sapato no fundo de um armário.

Esplêndida realidade.

Sunday, October 15, 2006

Conto.

mandei esse conto para um concurso do Estado de São Paulo, que deveria ser sobre futebol. Definitivamente não ficou bom, mas acho que tem algo aproveitável no texto que eu gostaria de retrabalhar. De qualquer forma, coloco-o aqui.

O pai do Amauri não podia assistir à nossa final, disse o treinador. Não era uma questão de maldade, era crucial que ele não fosse. Lembro bem do professor avisar que não queria tumulto porque o jogo da final ia ser num colégio de padres. Os padres não gostavam de briga nem que a torcida xingasse o juiz, do contrário não seríamos mais chamados para competir nos outros quadrangulares. Por isso foi vetada a presença do Sr. Teófilo. Ele não se controlava, poderia nos prejudicar.

Antes ele era quem nos levava aos jogos do São Paulo. Não podia alguém ficar de pé na frente dele mais de um minuto que já vinha xingamento brabo. Os palavrões que sei devo ao pai do Amauri. Tantas eram as reclamações das mães, dos moleques voltarem dos jogos com a boca suja, que o Sr. Teófilo não pôde mais nos levar. Sem fazer nada aos domingos, ele devia se sentir sozinho. E pior é que era indesejado também no nosso time modesto da 6a série.

O Amauri arranjou um jeito de que sua mãe assinasse a convocação para o jogo, numa hora em que seu pai estava no trabalho. Deu uma dor no peito. O pai o Amauri era o único pai que ia nos jogos mesmo, em todos, levava a sério. Talvez para nos dar um certo apoio. O jogo seria no sábado de manhã, íamos com a perua do colégio. O motorista sintonizava a rádio numa estação de pagode e nos sentíamos na Várzea. Vinha a completude nostálgica da Várzea, uma gritaria total embora o professor já naquela idade falasse em concentração.

Chegando à quadra, corremos diretamente para o vestiário. O professor deu as camisas. Eu era o número catorze, banco, maldito banco, um atestado de incompetência, mas também de humildade, nobreza, resignação. Maldito banco. Vestimos nossas caneleiras, meiões, chuteiras, levantamos, e o professor pediu para rezarmos um pai nosso. Só quem já jogou futebol entende o misticismo que é momento da preleção. Enfim, finalizada a reza e as instruções finais do professor, já fomos para a quadra. Eu carreguei as garrafas de água e já me acomodei no banco. Os titulares já iam para a quadra chutar no gol.

Meus olhos procuravam minha mãe na torcida. Minha mãe, que nunca assistiu nenhum dos meus jogos, trabalhava de sábado. Mas quem sabe estaria acenando para mim, teria uma surpresa. E tive. Na primeira fileira da arquibancada estava lá o pai do Amauri, de braços cruzados, olhando os moleques chutarem bola. Ia avisar o professor mas não fui, deixei-o. Senti um aperto no coração.

Teve um lance em que o Amauri tomou uma falta feia, e o juiz não marcou. Olhei para o Sr. Teófilo e ele ficou quieto, se segurando, com uma bruta raiva do juiz, do treinador. Mas não disse nada. O placar marcava zero a zero até que o nosso fixo chutou uma bola para escanteio. Jogada ensaiada e uma bomba que nosso goleiro nem viu. Um a zero, fomos vice-campeões. Eu nem me importava mais com o jogo. No fim dele o Sr. Teófilo foi até o Amauri e lhe deu um abraço forte que me lembro até hoje.

Sunday, October 08, 2006

O Debate de hoje e o Caos da Humanidade

Prestemos bastante atenção no debate de hoje, para o nosso próprio bem e sanidade. Não porque isso vá nos ajudar a escolher o melhor. Será mais fácil a constatação nossa de que não há diferença substancial entre nenhum dos candidatos à presidência. E eu disse substancial.

Podemos achar uma característica aqui ou ali que nos faça votar num ou noutro. Não menosprezem as nuances e as sutilezas de cada um, inexplicavelmente elas são essenciais, principalmente para o julgamento das pessoas. Agora, o importante é não acreditar na ilusão de que se um for eleito estaremos caindo nas trevas mortais da ignorância ou do neoliberalismo.

É muito comum, em diversos períodos da história, o homem aparecer com o discurso de que se "isso" acontecer vamos caminhar para a degeneração humana e da civilização. É irritante quando é mentira.

Este é um desses casos. Há muitíssima semelhança de propostas vagas, e as melhorias prometidas são sempre de natureza incremental. Eu me vejo assistindo uma luta de boxe que começa com a apresentação de Lula e Alckmin:

"De um lado, ele, Lula, antiga esperança do povo, pesando o suficiente para adquirir o futuro epíteto de bonachão e um lugar entre o segundo escalão dos estadistas brasileiros (e olhem que o primeiro não é lá essas coisas), que enfrentou diversos problemas com corrupção em seu governo e tem sido questionado junto com seu partido sobre sua integridade ética."

"Do outro Alckmin, "o genro que toda sogra queria ter", tem laços com a Opus Dei, o que faz todo mundo lembrar da sofrível leitura de Código Da Vince entre outras coisas, amparado pelo ideário e o discurso de rendição incondicional do neoliberalismo, e que chegou a ter o disparate de dizer no debate passado que "o novo conceito de ética na política era eficiência."

E eu da platéia, sem dinheiro e preocupado com o futuro, resolvo nem apostar em ninguém. Abaixo minha cabeça com os cotovelos apoiados nos joelhos e tento fechar os olhos para ver se sonho por cima do pesadelo, seguindo um pouco a idéia de Álvaro de Campos:

"Ah, quem escreverá a história do que poderia ter sido?
Será essa, se alguém a escrever,
A verdadeira história da humanidade. "

Saturday, September 23, 2006

Saiu-se bem.

Ouvi uma história assim essa semana que eu enfeitei.

O sujeito estava duro, sem dinheiro. Às vezes surgia um bico aqui ou ali, mas de forma geral, sempre estava preocupado se ia ou não virar mendigo de vez. É um medo que aflige muitos no mundo contemporâneo, mais do que o medo de falir, de perder os entes queridos: o medo de ser mendigo na Sé. No bar que ia para afogar suas frustrações devia dez cervejas, e toda vez que passava por lá, mesmo que tentasse se esconder, o dono do bar o via e dizia:

- "Olha lá, tem dez cervejas aqui depois". - Ele abaixava a cabeça, envergonhado, e continuava andando.

Um dia, puto com a vida, estava perto e foi dar uma volta no shopping pra distrair um pouco. Não ia comprar nada, só olhar mesmo. - "Estava até querendo comprar o celular, mas achei aqueles modelos muito chinfrins", disse ele pro amigo que trabalhava na sorveteria do shopping.

Na volta passou pelo mesmo bar e o dono o viu:

- "Olha lá, tem dez cervejas aqui depois ein malandro". Abaixou a cabeça. Tinha que arranjar um jeito de pagar aquelas cervejas.

No fim da tarde foi num pagode para ver se esquecia sua vida miserável. O amigo pagou a entrada, pois ficou sabendo que ele havia esquecido a carteira.

No pagode conheceu uma moça simpática que queria impressionar. Sem emprego, sem dinheiro, pelo menos mulher ele tinha que ter, e na ausência dos outros dois é cada vez mais difícil. Falou-lhe umas mentiras ao ouvido, que é perfeitamente lícito na situação em que ele se encontrava. Saíram mais cedo e foram passear, assim ele aproveitava e a deixava em casa. Por coincidência ela morava pertinho dele. Estavam se dando bem, coitados.

Quando o camarada percebeu que teria que passar na frente do bar em que devia dinheiro, se desesperou, iria provocar uma má impressão e daí só lhe restaria virar mendigo, pensou. Não muito tempo depois, o dono do bar o viu e disse:

- "Olha lá, tem dez cervejas aqui depois ein!"

Quem está na merda tem que pensar rápido. Ele retrucou:

-"Põe pra gelar então que amanha eu passo pra pegar!". E seguiu reto de cabeça erguida. Seu orgulho o salvara.

Friday, September 15, 2006

Futebol e Filosofia.

Lembrei dessa cena genial do monty python. Sempre dou risada.

Thursday, September 14, 2006

espero que seja uma profecia não auto-realizável.

Anotem aí. A psicopatologia do seculo XXI é a Normopatia. Essa doença de ser tão normal, normal, que se é levado a um estado de letargia, em que se perde a faculdade de julgar e pensar.


Podem anotar.

Wednesday, September 06, 2006

Cotas raciais e direitos humanos

Houve um comentário sobre quando me declarei favorável às cotas raciais. Houve também quem me cobrasse por esclarecer meus argumentos sobre a questão. Prefiro fazer isso aos poucos para não escrever nenhum tratado sobre o assunto, pois não é o meu objetivo. Quero é que entendam a complexidade que há nessas coisas, e o quanto de falso acabamos assumindo sem refletir.

Aproveito esse post para refletir sobre duas questões: Por que cotas raciais são legítimas (se são necessárias é outra questão que discutirei depois) e Por que cotas raciais em vez de cotas sociais ou para escolas públicas.

Em primeiro lugar. Façamos uma reflexão sobre a história. Voltemos à revolução francesa, à revolução americana e à declaração dos direitos do homem da ONU em 48. Todas elas de alguma forma afirmaram a igualdade formal entre os homens, por serem todos racionais e livres etc. O direito de ser reconhecido como homem por outro homem parece-me a base fundamental dos primeiros direitos humanos, como se fosse um pré-requisito universal no trato de todos os povos, seja ele inimigo ou amigo, rico ou pobre, de qualquer etnia. Direitos humanos, segundo Hanna Arendt não são estanques, eles mudam para melhor ou pior ao longo do tempo. è o que acontece se comprarmos a idéia de direitos humanos em1789 e em 1948.
Eu pergunto: Deveríamos, sabendo que é possível progredir em matéria de direitos humanos, parar por aí? Devemos aceitar a igualdade formal e deixar de buscar uma igualdade de fato?
Na minha humilde opinição creio que não.

Um novo direito humano que surgiu no século XX foi o chamado direito a diferença. Além do direito de sermos iguais, que nos uniformiza, temos, humanos, o direito a nos diferenciarmos dos outros, pois é assim que se forma a identidade. E qualquer situação em que eu, ao afirmar a minha identidade cultural for reprimido, isso é um desrespeito aos direitos humanos.

Alguém parou para pensar nesse culto obsessivo em alisar o cabelo que os brasileiros têm? E a velha questão do capitão do mato, que era negro, mas caçava escravos fugidos a fim de sustentar um a primazia social daquels que lhe oprimiam?

Vejo que o assunto começa a ficar interessante. Visto que não se deve coibir alguém de afirmar sua identidade cultural, ou por ser diferente, temos um novo conceito de igualdade e de discriminação. "Discriminação é quando em situações iguais somos tratados de forma diferente e em situações diferentes somos tratados como iguais." Essa é a difinição presente no documento contra a discriminação da mulher da ONU.

Ora, vão me dizer agora que um negro está em condições iguais a um branco na hora de fazer o vestibular!? O vestibular é então, por definição, um mecanismo de discriminação.
São tantas outras as instituições que tem essa função no Brasil. Na Anérica Espanhola era proibido por lei a um homem nascido na colonia ocupar cargos administrativos. No Brasil oo acesso a terras sempre foi restrito a determinados grupos de pessoas. E por aí vai. Querem que eu coloque o argumento dos 300 anos de escravidão negra? Daqueles que são mais parados em blitz policiais e que mesmo sendo ricos são impedidos de entrar em condominios de luxo?

Calma... Eu acabei de falar que não podemos apenas criar direitos humanos que proibam a discriminação, que prendam o racista, pois assim só temos a igualdade formal. Para se ter a igualdade de fato precisamos de políticas e instituições que PROMOVAM esta igualdade de fato. é aí que entram as políticas de ação afirmativa. Por isso elas são legítimas do ponto de vista conceitual.

2) A miscigenação é a maior farsa da história do Brasil. Sem dúvida que há miscigenação, mas não da forma que ela nos é vendida. O pardo, o mulato no Brasil é visto como uma gradação do negro para o branco, não, infelizmente, uma raça autêntica, como pode advogar algum entusiasta do homem cordial.
Em toda a história dos povos da américa esse argumento da nação parda foi usada para iludir a mente daqueles que viam um problema racial no país. A questão não é se o Brasil é um país racialmente dividido ou não, mas que há desigualdade entre brancos e negros, isso há.
Sabe-se hoje que os negros talvez não sejam nem 7% da população. Entretanto, socialmente, tudo gira em torno do quanto se é negro, daí a necessidade do foco ser o negro. E a expressão "pé na cozinha"? Poderia haver canela na cozinha, joelho, e até a cabeça.
Falar em negros e brancos é uma impropriedade. Não existem raças. Mas se a exclusão social está associada a critérios raciais, porque não podemos usar os mesmos critérios para a inclusão? Será que é isso o que vai destruir nossa sociedade? É possível ou viável adotarmos outro critério?
Não chegou a hora de uma nação como a brasileira vestir a camisa da promoção da igualdade de fato, e dizer bem alto: "Nós, Brasileiros estamos dispostos a acabar com o racismo e com a desigualdade, para viver em uma nação onde as crianças não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter"?

Digo com toda a certeza a vocês que quando desviamos a política para cotas sociais ou de escola pública, todo esse propósito simbólico se perde. Em termos práticos é a mesma coisa, pois os negros são maioria entre os pobres e entre os estudantes de escola pública.

A associação de políticas de inclusão social com a discrminação é absurda. É dizer que dar universidade a alguém que nunca iria ter a oportunidade de estudar é discriminar.
Por acaso vai sair carimbado na testa de alguém que ele é cotista, vai sair no diploma, por acaso? Não são todos os negros que serão cotistas, os que têm nota suficiente entrarão pelo sistema universal, não há sentido nessa proposição. E outra: estando lá na universidade, que é um espaço público, finalmente quem soferer discriminação vai poder ter voz para alguma coisa e discutir a questão da tolerância a outras culturas na universidade. A UnB observou uma diminuição dos casos de racismo depois da implantação do sistema de cotas.

Não vou entrar no mérito de outras questões relacionadas. Mas parece-me óbvio que cotas raciais são melhores para diminuir o racismo(!!!) do que cotas sociais. Sempre dependendo da forma que são implantadas, como mencionei no post anterior.
O que acontecerá com os brancos pobres? Os brancos pobres sofrem discrminação por serem negros? Ora, há algo errado, não?Política é escolha, os brancos pobres não estão na questão do racismo, mas em outra, aliás em muitas outras em que o Brasil é um desastre.
Precisamos definir a hora em que vamos tentar ou não acabar com o racismo

É muito fácil dizermos para esperar o ensino básico melhorar. não somos nós que temos 18 anos e nunca vamos poder sonhar com a universidade mesmo.

* políticas de ação afirmativa são temporárias por definição, como se coloca no documento da ONU.

Monday, August 28, 2006

comentários

Não sei se alguém viu ou vê regularmente o programa Manhattan Connection, no canal GNT. Eu fui citado bem por cima na hora que eles falam dos e-mails dos telespectadores.

É que eu sou favorável às cotas universitárias para negros, e quando normalmente esse debate aparece na TV, nunca colocam o outro lado. Como num jornal nacional em que, numa reportagem especial sobre o assunto, se mostrou um professor universitário contrário e nenhum favorável.

Desta vez eu tratei de escrever um e-mail, mais ou menos objetivo, contestando alguns dos argumentos que eles apresentaram. Minha posição em relação às cotas não é reflexo de nenhum esquerdismo idiota que eu possa eventualmente, sem querer, ter.

Na verdade, após refletir bastante, e como sou interessado pelo tema da educação, ter pesquisado, feito uns trabalhos, e lido um desses estudos publicados pelo núcleo de consciência negra (creio que seja esse o nome) da universidade de são paulo, conclui que não há evidências suficientes para acreditarmos nas consequências negativas das ações afirmativas. Ao contrário, elas podem ser eficazes e importantes para a promoção de uma igualdade de fato, que vai além do simples multiculturalismo, desde que aplicadas com propriedade.

Para acabarmos com o racismo no Brasil, há alguns caminhos possíveis. Ações afirmativas são razoáveis pois podem acelerar esse processo, sem escorregar em nenhum tipo de medida paleativa.

Outro dia exporei meus argumentos que podem provar isso.

Nesse programa, a posição contra o sistema de cotas foi unânime. Mas acredito que pensem assim mais pelo dever que acham que têm de tripudiar em cima dos liberais esquerdistas (corretíssimo o tom da crítica) do que por convicção sincera.

E essa convicção sincera poderia ser apenas a manifestação de um medo danado de perder privilégios. Menos mal.

Friday, August 25, 2006

poemas de amor

Escrevi um poema que falo sobre a vontade de escrever um poema de amor.
Eu não o coloco aqui pq acho q ele não está pronto.

Além do mais. Poemas de amor são mais perigosos para o indivíduo que drogas pesadas e carros sem freios. Faça um poema de amor e perca-se.

Vi amigos que andam fazendo isso inescrupulosamente. Tenho que falar para eles tomarem cuidado.

Uma hora estamos sentados pensando em mergulhar numa subjetividade, a busca de um sentimento verdadeiro, depois estamos nos entregando, e depois nos sacrificando. É tudo uma questão de estágios. Há pessoas habilidosas em parar no primeiro, e esses são os bons poetas apenas. Os que param na segunda fase são bons amantes. Os que vão até a terceira são idiotas ou os Salvadores que nossa sociedade precisa.

Sei que é clichê pensar os sofredores como Salvadores. Mas confessem que existe algo de muito heróico em levar pancadas na cabeça.

Saturday, August 19, 2006

O cansaço.

Cansaço pega agente de jeito. Num minuto parece que estamos revitalizados porque dormimos longas horas, mas no fim não é isso. No fim é alguma coisa que andamos fazendo estruturalmente na nossa vida que não bate com nossa regulagem corporal e mental.

Pode ser uma rotina tolerável mas errática, dessas em que uma hora se faz uma coisa, se descansa, e duas horas depois se retoma, e retoma, não em um dia, pois isso seria a rotina em si, mas em pequenas frações do dia.

Pode ser a não resolução de algo que já deveria estar resolvido. Isso é desgastante.

Pode ser uma intranquilidade nossa para dormir, para deitar e assistir TV, para comer. A intranquilidade não é advinda do cansaço, como alguém poderia pensar. é a causa, não o efeito. Kant dizia que em muitas das relações causalidade, a causa e o efeito são simultâneas e portanto, não se pode dizer que objetivamente: isso causou aquilo. (é o caso). entretanto, a causa e o efeito, embora simultâneos, são determinávels quanto ao tempo intuitivamente, de modo que o que vem antes é sempre causa, e o que vem depois, efeito. Assim, o cansaço é sempre efeito já que intuitivamente na linha do tempo ele vem sempre depois.
Além disso e em suma, ficar cansado tem sempre a ver com o não encerramento dos fatos, ou das tarefas.
e não, como pensam, com o término de muitíssimas tarefas uma atrás da outra. Penso eu.

Tuesday, August 08, 2006

apresentações

Estou esperando dar o tempo do rodízio para eu poder sair de carro. Aproveitarei para escrever.
Tenho uma matéria vazia na faculdade. Comunicações. Temos que aprender lá a falar em público e redigir relatórios, ofícios. Nas primeiras aulas temos que nos apresentar para a classe.

estava pensando aqui comigo como eu vou me apresentar, tenho a suspeita de que quando eu for lá na frente eu seja motivo de risada geral, afinal, vou acabar falando que gosto de filosofia, o q eu não é lá hobby muito popular. Vou ter que dizer também que escrevo, que sou vocalista de uma banda de ska. vou ter q explicar isso.

Sei que na hora, como eu sou metido a falar coisas esdrúxulas, vou acabar por cair no ridículaoque me arrependerei depois.
é que parece tão legal imaginado na cuca... falar de assuntos impróprios, paradoxais e confusos, às vezes sem sentido . Não tem jeito, vou acabar dizendo.

Essa disciplina é bem odiável. descobri num teste de português hoje que ainda erro. constatação que, em qualquer situação tirando quando eu desconfio se sou uma máquina, é ruim.

De resto sinto-me um pouco abandonado por todos. de resto não, por inteiro. O abandono é a condição inicial para a realidade e a delimitação de nós mesmos. Aos poucos vou recolocando meus pés no chão e sentindo-o gelado.


escrevi há duas semanas atrás um poema. por um momento pensei em coloca-lo aqui, porém sei que ele ainda não está pronto, então é melhor deixar o tempo.

andando na rua, imaginando...
(tive a idéia de uma história em que um roteirista ávido por desvendar os problemas dos lares e das donas de casa brasileiras idealiza uma versão brasileira de desperate housewifes, num tom de crítica social. Por fim , descobre que american dream não combina no Brasil, quanto mais a falência do american dream, e que um seriado desse nunca daria certo, porque as donas de casa não escondem nada, são aquilo e ninguém estaria disposto a questionar)

ai surgiu a frase: "a beleza americana brasileira nunca existirá. a beleza brasileira americana, sim".

melhor parar.

Saturday, August 05, 2006

Sétimo dia Afro

Minha avó falecera há uma semana e meu pai, ainda muito abalado pela morte repentina e pela série de resoluções burocráticas que tivera que tomar, como escolher caixão, as flores, optar por um ou outro procedimento de maquiagem do defunto para tirar expressões de dor, me avisou da missa de sétimo dia que havia marcado, na igreja de Bom jesus dos Passos, la na freguesia do Ó pertinho de onde moram meus avós. Era às vinte horas.
Todos nós da família nos agrupamos para irmos juntos à missa rezar pela perda nossa, celebrar a morte, que faz parte da vida e existe apesar de todas as bobagens não importantes que nos alegra ou nos entristece também. Fomos em dois carros, estacionamos num antigo parque de diversões que virara um estacionamento bem dos fuleiros. Chegamos à porta da igreja a qual possuia uma torre desproporcionalmente alta, um pouco feia.
A Igreja estava lotada numa sexta à noite, fato incomum. As igrejas vêm esvaziando com o tempo. Tem a ver com a dessacralização do mundo. Mas este dia ela estava surpreendentemente alegre, cheia, viva. Pareceu-me, por um instante, que aquela era uma homenagem singela, descompromissada à minha avó, que de todos os anos que vivera, talvez nenhum deles tenha feito uma reclamação sequer da sua vida, e tenha passado toda sua vida vivendo para os outros.
Notei algo de diferente no figurino das pessoas. Umas túnicas, uns turbantes, de estilo africano. Davam um colorido entusiasmante àquela missa de sétimo dia. Quê que há?. A comentarista da missa foi ao púlpito e proclamou: "Muito axé a todos! Nesse dia lindo da nossa missa afro para a comunidade negra!". Meus pais e avós se entreolhavam, e ela continuava. "Vamos festejar a nossa cultura, nossa identidade!". Cheguei perto de minha mãe e perguntei: "na hora de marcar a missa alguém avisou que a missa iria ser especial para a comunidade negra? E assim com esses batuques alto astral?". Chegavam os padres com a procissão de entrada, todos não só padres, mas verdadeiras autoridades na igreja católica, representantes das lutas pelos direitos negros. Minha mãe respondeu que não, que ninguem havia dito nada. Se não ninguém iria marcar uma missa de sétimo dia numa celebração com cavaquinhos, batuques, coral, músicas em dialetos africanos.
Foi um desencontro, isso com certeza. Um desencontro não só de pessoas (pois minha família estava lá com um propósito totalmente diferente), mas de sentimentos, de pensamentos, de momentos, deus! Todo o desencontro numa só compressa dimensão, espaço e tempo. Alegria e dor.
O padre dançava. Dizia no sermão que acreditava num deus que canta e dança. Assim como Nietzche, pensei. Sinceramente não soube o que sentir. Só sei que vivi aquela hora, hora e meia, e não achei desrespeito. Senti-me numa comédia verdadeira. Não tinha nenhuma probabilidade da missa de sétimo dia da minha vó ser uma missa afro.
Pensei depois em casa e tentei achar algo de providencial que justificasse o engano, mais pela distração que tenho de procurar essas razões. E enquanto pensava, quis que aquilo fosse uma forma de minha avó, que sempre pensou em agradar os outros e não a ela, ceder de novo a sua vez, o seu espaço.

Oxalá.


(é fato verdadeiro.)

Monday, July 24, 2006

O encontro

Um lugar vago, finalmente o achara. Sentara naquele banco e sentira pairar o silêncio por todo vagão. Ao contrário do ônibus onde é normal conversar alto com outras pessoas, no metrô esse costume não vingou. Lógico que alguns mantêm velhos hábitos, mas o metrô, desde o início, foi um verdadeiro expoente da modernidade, e com ela toda a individualidade, o charme do anonimato cosmopolita. O metrô foi um dos primeiros locais da cidade a ter escada rolante, e é impossível imaginar a grande expectativa das pessoas em torno de um invento como esse. Nos primeiros dias de operação as filas eram enormes para poder usar aquele presente da tecnologia, uma escada em que não se precisasse fazer esforço para subi-la.
E ali estava, sentado em seu banco marrom, olhando para os rostos das pessoas e para os reflexos dos rostos delas, nos vidros das janelas, sugando o que podia sugar do privilégio de ser indivíduo. As pessoas se entreolhavam sem parar, os seus olhos não paravam quietos. Em poucos minutos obtinha-se uma impressão completa de grande parte das pessoas que estavam no vagão.
Do seu lado não havia ninguém. Estava até vazio para aquele horário. Esperava que nas próximas estações mais gente haveria de se sentar, talvez ao seu lado. E tendo analisado involuntariamente cada pessoa próxima, por um momento viu-se sozinho e lembrou-se daquela música que compusera mentalmente. A música tinha um som de uma flauta e combinava com o apito do metrô quando chegava a uma estação. Mas foi intrrompido:
- Com licença.
- Ah sim. Deixou que uma moça sentasse ao seu lado.
Estranho, ela carregava consigo um caderno, e assim que sentou começou já a fazer anotações. Que palavras estará escrevendo? Ficara curioso e passou a esticar um pouco o pescoço, de modo a tentar ler suas frases. Sua cabeça quase invadia o espaço individual de ar reservado para aquele assento. Isso era perigoso. Sua visão não era boa e seu interesse por ler aquilo diminuía a cada instante em que olhava para o rosto lindo e alvo da moça. A inicial vã curiosidade, na verdade, em poucos segundos transformou-se numa vontade inexplicável de ver-se percebido por ela, que apesar de compenetrada no assunto que escrevia, não deixou de perceber os olhares para o seu caderno. Ela hesitou um pouco em responder com um outro olhar, afinal ele não tinha caderno, não era a mesma coisa olhar de volta a seus olhos.
Foi sem querer, entretanto, que desviou uma olhada rápida para ele, mas logo se envergonhou e virou o rosto. Alberto não conseguiu mais pensar em nada, e tentou segurar uma palavra que já escapara muito antes que pudesse tê-la evitado:
- Oi. - O sorriso custou a sair.
- Oi. - Respondeu.
Uma saudação curta, mas que não poderia transbordar mais sentimento, dada a frieza daqueles dois corpos. Aquilo não deveria jamais ter acontecido, era um deslize grave, um engano. Deveriam sim ter ficado apenas nos olhares como se faz normalmente todos os dias. E imediatamente perceberam a tragédia. Estavam apaixonados, amarrados, ligados para sempre, mesmo que nunca mais se encontrassem, porque sentimento não tem nem precisa de memória. Não! Não em plena atualidade dos homens passantes e bem protegidos. Deixar escapar um erro desses era imperdoável, um aprofundamento inconveniente do mistério da vida.
Podia tê-la conhecido e se apaixonado num lugar em que era permitido, numa festa, num bar com os amigos, não no metrô, nesses lugares dedicados à rotina de cada dia, isso era definitivamente um engano, uma atitude infâme. A sociedade é muito mais restritiva do que se imagina. Ele não podia ficar parado, tinha de corrigir.
Tentaria se redimir do erro levantando de seu banco e descendo na próxima estação. De certo o faria, contanto que não se despedisse. Não lhe daria nem mais um olhar, não daria mais chances. Era a única oportunidade que tinha de impedir um eventual reconhecimento num outro lugar, numa outra hora, nesses momentos em que qualquer que seja a probabilidade certos eventos sempre ocorrem. Aí sim estariam perdidos.
Desceria na próxima estação onde descansaria um pouco. Ali sim poderia sonhar com o amor que perdeu, com o rosto lindo daquela moça. Antes pudesse ver o amor distante, ,enfeitá-lo, e então se arrepender de não tê-lo vivido, do que vivê-lo, apenas vivê-lo e nem pensar nisso.
O som se inicia e abrem-se as portas, ele tão compenetrado em fugir, mal ouve o pedido dela:
- Com licença, eu desço nesta estação.
E agora? Ele não havia pensado nessa hipótese, não estava preparado. Simplesmente não tinha resposta alguma. E, por acaso deveria ter? A moça insistiu:
- Licença moço.
Alberto não podia descer com ela. Se ela fez o contrário que pensava, ele deveria fazer o contrário do contrário, já que deveriam se separar. No entanto ouve um som finíssimo, quase imperceptível. Mas que depois de ter sentido profundamente tanto amor em seu peito, mais do que sentiu em toda sua vida, entendeu tudo, tudo o que a fala dizia:
- Tchau. Disse ela quase não pronunciando o “u”.
Mais uma vez, ele sente um impulso incontrolável, afastando-o ainda mais da razão:
- Espere, eu vou com você.
Com você? Não bastava o desastre que fizera, agora a reconhecia como uma pessoa, uma pessoa mesmo. Bem, estava feito. Não havia volta. Ele, Alberto, e aquela moça, que se chamava Clara, desceram naquela e nas outras estações que ele tinha planejado passear. Dizia ela ter esquecido até para onde ia depois que conheceu Alberto, mas mais certa é a versão de que ela não iria a lugar nenhum e simplesmente não havia razão para ela ter tomado o metrô naquela hora, nem para ter pegado seu caderno e começado a escrever do lado dele.

Thursday, July 13, 2006

poesia cotidiana


Hoje, comi uma coxinha,

Estava muito boa

Tinha muita carne

E me caiu muito bem

Para que o dia fosse feliz

Só faltou pimenta

Sempre a pimenta

Monday, July 10, 2006

A beleza e a capitulação

A desistência e a rendição são subvalorizadas.
Esse pensamento lembra-me de um documentário que vi quando um ex-general americano da segunda guerra mundial contava sobre a época da rendição das tropas alemãs, em que encontrara um general alemão e recebeu dele uma arma de presente. Este último, ao apresentar a rendição de seus soldados, teria dito a ele que a pistola a qual lhe estava dando de presente nunca dera um único disparo se quer, e era o símbolo de como qualquer conflito deveria terminar. Nenhum de seus soldados morreram e todos puderam voltar as suas famílias.

Admiro a coragem mais do que qualquer virtude. Desistir por vezes é uma covardia. Mas naquelas vezes em que desistir é se recusar a participar de um jogo estúpido, e se servir para esvaziar de legitimidade uma postura desumana, digam que sou anti-herói, digam que fujo da vida. Sei que no fundo é lá que me aproximo de viver, porque viver é ter coragem, é capitular.

Friday, July 07, 2006

Meus planos não tão nobres.

Saiu hoje o resultado de um concurso literário o qual tinha inscrito um texto de ficção. Como era de se esperar de um escritor iniciante ridículo e infâme como eu meu texto não foi nem selecionado.
Reparem que quando digo infâme e ridículo falo com uma enorme sinceridade de mim mesmo. convivo muito bem com isso tirando os socos que dou no ar de vez em quando.

Há outras coisas que me deixam triste de verdade. mesmo essas eu aceito com um sorriso trêmulo mas cordial.

No concurso do ano que vem verei se inscrevo umas poesias para variar um pouco. Mesmo nos fracassos há de se sair da rotina.

E que "ninguém me dê piedosas intenções, ninguém me diga vem por aqui".

Tuesday, July 04, 2006

Os excessos de nosso mundo (culinário)

Acho infundado esse fanatismo por chocolate. Chocolate é bom, eu entendo e não discuto. Mas esses dias estava num aniversário e serviram um bolo de chocolate com chocolate demais. Não dá. Alguém há de dizer a essas pessoas que por mais que todo mundo goste de chocolate, se colocarmos demais o bolo fica com gosto de chocolate em pó, nescau, toddy.

Mas nosso mundo é assim, quando gostamos de algo temos que enxarcar a vida disso senão não estamos aproveitando corretamente e então nos queimam em fogueiras.

Vá ao mercado municipal e peça aquele sanduiche inescrupuloso de mortadela. A mesma coisa. Alguém tem de dizer isso, alguém tem de levar a fama de cri cri: aquilo lá é um exagero.

Sunday, July 02, 2006

Tempo Livre.

Aproveitei o tempo livre para mudar de blog. Este parece-me mais legal.
Quem estiver lendo pela primeira vez, que seja bem vindo.

Eu não vou falar da Copa do Mundo não. Pelo menos não hoje.
Esperarei passar o domingo até que me venha algo a cabeça.

eu.

o fim.

acabaram-se minhas provas. volto a escrever após uma noite de sono.