Wednesday, July 25, 2007

debate sobre o uso de drogas e emancipação

Há algum tempo discuto com meu amigo José Francisco a questão do uso de drogas e etc. é lógico que é um tema bastante amplo. Mas achei interessante as últimas discussões e publico um recorte deste debate, os dois textos iniciais para falar a verdade. Quem quiser acompanhar seus desdobramentos e complementos pode checar a comunidade Aléchis Brasileiro no orkut. Nós não somos nenhuma autoridade no assunto, somos no entanto seres pensantes que podem ter opiniões sobre as coisas do mundo. Eis os textos.

Chico - Sobre a emancipação
(bom primeiro queria esclarecer que isso é a minha opinião e em nada tem a ver com os outros membros da comunidade e muito menos com a taça cudizio)

Eu acredito que as drogas PODEM SER um escapismo. e se entendi bem o que vc pensa de emancipação, um escapismo é algo alienante e por isso contrário à emancipação. No entanto até ai a religião, a televisão, a arte e diversas filosofias podem ser escapismo. Então eu penso que o que faz de determinada idéia ou substância alienante ou não é o seu uso.

além disso eu encaro o uso de psicotropicos em geral, maconha e alucinógenos essencialmente, sob a ótica que Aldous Huxley expoe no seu genial "as portas da percepção". Essa ótica defende basicamente que as drogas são uma forma de atingir estados extraordinários da percepção. Ou seja, que atravéz delas podemos obter uma nova percepção da realidade e que essa nova percepção é benéfica.

Essa percepção é mostrada como benéfica por possibilitar uma nova forma de "aprendizagem" a partir da realidade, que não a partir da experiência racional. É uma nova apreensão da realidade a partir de experiências sensoriais. Além disso é uma forma de entrarmos em contato com o que ele chama de "antipodas da mente", que pode ser vulgarmente traduzido como subcobsciente. Assim o que huxley defende, e eu concordo, é que as drogas podem possibilitar um mergulho no seu subconsciente completamente impressionante, chegando ao ápice de seu subconsciente projetar a realidade(alucinações) para que essas sejam absorvidas pelo seu consciente.

Seria impossível resumir todo o livro em alguns parágrafos mais acho que o ponto central é mais ou menos isso. qq problema esclareço.

Além disso eu sigo na minha vida uma filosofia completamtente antagônica ao estoicismo como dizia W. Blake: "só o caminho do excessos conduz ao palácio da Sabedoria." acredito nos excesso como vivência positiva, por mais que isso renda prejuízos. Talvez isso seja uma tendência ao epicurismo, mas teria medo de afirmar isso porque desconheço ao certo o teor da filosofia
concluindo
assim a conclusão é que: as drogas são uma forma de autoconhecimento e o autoconhecimento é sim um possibilidade de emancipação. Uma emancipação de toda a realidade opressora. Veja bem, isso nao quer dizer viver loucão, quer dizer experiências com drogas.

Para além disso os excessos no fundo são uma forma de contato com as experiências em seu estado mais bruto. se for algo que seja inteiro, que seja extremo. Algo como a poética da radicalidade, mas uso isso em minha vida muito mais relacionado a filosofias e idéias, do que ao uso de drogas. O excesso se tratando substâncias psicoátivas é um comportamente que deve ser combatido caso afete, e normalmente afetará, na vida de terceiros. Assim, um viciado sempre deve ser evitado.

E por fim, acredito que cada um tem o direito de escolher a forma de encontrar a sua felicidade e que sobre isso não cabe qualquer julgamento. Para mim isso é um direito inalienável e mesmo que eu não concorde com essa forma tenho que respeitar e nao posso, de forma nenhuma, dar qualquer demérito ao indíviduo por isso. Pois nao existe felicidade melhor, existe felicidade. E único ser apto pra julgar se é feliz ou não é o próprio indivíduo.

ps.: enquanto escrevia isso vc respondeu meu primeiro post, então já digo se vc nao se incomoda em conviver comigo sobre efeito de qq substância, não há porque segregação nenhuma, está certo? sendo assim gostaria de contar com vc mais vezes em nosso eventos.


Diogo - Bem, vou usar este texto base do Chico para colocar os meus contra-arguentos, bem como os meus argumentos.

O conceito de emancipação é bastante problemático, logo não pretendo esgotá-lo aqui pois seria um tanto pretensioso e provavelmente enganoso da minha parte. Não quero, no entanto, falar generalidades e ser superficial. Por isso vou desenvolver um raciocínio que procure chegar ao menos na substância principal da emancipação.

Como o homem passa a ser livre? O homem já foi escravo, já foi servo, e hoje é assalariado, proprietário em alguns casos. É um caminho de emancipação, pois ninguém possui, ou pode possuir, o corpo, a vida do outro. Mas não é só isso.

Há dois pólos dos quais o homem deveria ter total controle para ser livre. Não só sobre sua vida, seu destino e sobre sua felicidade, mas sobre sua consciência (Espinoza). Sem a consciência, o homem não se dá conta de seu lugar na história, e do significado de sua existência no mundo.

O que há contra isso? Ora, há diversos tipos de dominação. Hoje, mais do que a dominação econômica, há uma tentativa de dominação da consciência, ou melhor, uma tentativa de atrofiar o desenvolvimento dela. O uso de drogas é uma das coisas que atrofia a consciência, em vez de expandi-la, pois anestesia o ser humano, por um tempo, ou por muito tempo. “O ópio faz dormir por causa de suas propriedades dormitivas”, é um exemplo de tautologia que eu achei num livro de lógica. Bem, os sentidos oferecem as ferramentas para a consciência se desenvolver. A percepção dos fenômenos forma a consciência, logo. Então o que você disse sobre trazer as experiências das alucinações para a realidade é verdade exceto por uma coisa: Não é certo este caminho de volta. Ele depende do uso da faculdade de pensar, e do desenvolvimento prévio da consciência.

Numa sociedade em que nascemos para sermos desligados, a experiência do uso de drogas só pode levar a uma expriência separada da realidade objetiva e incomunicante com ela. Alguém que conheceu a realidade apenas pelas representações e sombras da caverna de platão, não pode nunca imaginar como seria levar seu inconsciente a uma realidade que nunca conheceu diretamente pelos sentidos apenas mediatizada por imagens (capital). Por isso, os sentidos, embora sejam essenciais para a formação da cosnciencia, não são capazes de reconhecer quando se está numa prisão tão prazerosa e atraente como a que vivemos.

A estrada dos excessos leva então ao porto da servidão inquestionada. A maioria dos políticos do mundo não vêem problemas nas drogas, pois elas não mais representam uma ameaça ao status quo. George Bush usou maconha quando era jovem, assim como todos os novos candidatos a presidente dos EUA. E quanto aos outros usuários que usam drogas sem mesmo pensar em emancipação?

Portanto, a única maneira de impedirmos o atrofiamento de nossa consciência é negando o máximo de anestesias possíveis, o que não é nada prazeroso. A dúvida se somos livres ou não, e portanto capazes de fazer o “caminho de volta” é eterna como a dúvida de Pascal se existe céu e inferno. Mas prefiro não arriscar tanto, arrisco pouco, pois talvez, a consciência vá ser um dia a única coisa que vá me sobrar.

1 comment:

A Esquesita said...

Eu tenho visto seus textos na comunidade, mas sinceramente, não os leio.

Li esse, gostei do debate e até acho que vou ler os da comunidade.

E... concordo com vc.