Sunday, July 29, 2007

Odeio

Odeio todos os calendários
Os que compro, os que ganho de presente
Os que acho em casa, nos armários
Os que vem pelo correio de repente

Odeio todos os oceanos
A distância que dão aos continentes
Os quilômetros, deus, são tantos
Que não há um só que agüente

Porém, embora nefastos
E ambos tão pouco amansados
Os calendários são pra serem gastos
E os oceanos atravessados

Não os odeio tanto.

Wednesday, July 25, 2007

debate sobre o uso de drogas e emancipação

Há algum tempo discuto com meu amigo José Francisco a questão do uso de drogas e etc. é lógico que é um tema bastante amplo. Mas achei interessante as últimas discussões e publico um recorte deste debate, os dois textos iniciais para falar a verdade. Quem quiser acompanhar seus desdobramentos e complementos pode checar a comunidade Aléchis Brasileiro no orkut. Nós não somos nenhuma autoridade no assunto, somos no entanto seres pensantes que podem ter opiniões sobre as coisas do mundo. Eis os textos.

Chico - Sobre a emancipação
(bom primeiro queria esclarecer que isso é a minha opinião e em nada tem a ver com os outros membros da comunidade e muito menos com a taça cudizio)

Eu acredito que as drogas PODEM SER um escapismo. e se entendi bem o que vc pensa de emancipação, um escapismo é algo alienante e por isso contrário à emancipação. No entanto até ai a religião, a televisão, a arte e diversas filosofias podem ser escapismo. Então eu penso que o que faz de determinada idéia ou substância alienante ou não é o seu uso.

além disso eu encaro o uso de psicotropicos em geral, maconha e alucinógenos essencialmente, sob a ótica que Aldous Huxley expoe no seu genial "as portas da percepção". Essa ótica defende basicamente que as drogas são uma forma de atingir estados extraordinários da percepção. Ou seja, que atravéz delas podemos obter uma nova percepção da realidade e que essa nova percepção é benéfica.

Essa percepção é mostrada como benéfica por possibilitar uma nova forma de "aprendizagem" a partir da realidade, que não a partir da experiência racional. É uma nova apreensão da realidade a partir de experiências sensoriais. Além disso é uma forma de entrarmos em contato com o que ele chama de "antipodas da mente", que pode ser vulgarmente traduzido como subcobsciente. Assim o que huxley defende, e eu concordo, é que as drogas podem possibilitar um mergulho no seu subconsciente completamente impressionante, chegando ao ápice de seu subconsciente projetar a realidade(alucinações) para que essas sejam absorvidas pelo seu consciente.

Seria impossível resumir todo o livro em alguns parágrafos mais acho que o ponto central é mais ou menos isso. qq problema esclareço.

Além disso eu sigo na minha vida uma filosofia completamtente antagônica ao estoicismo como dizia W. Blake: "só o caminho do excessos conduz ao palácio da Sabedoria." acredito nos excesso como vivência positiva, por mais que isso renda prejuízos. Talvez isso seja uma tendência ao epicurismo, mas teria medo de afirmar isso porque desconheço ao certo o teor da filosofia
concluindo
assim a conclusão é que: as drogas são uma forma de autoconhecimento e o autoconhecimento é sim um possibilidade de emancipação. Uma emancipação de toda a realidade opressora. Veja bem, isso nao quer dizer viver loucão, quer dizer experiências com drogas.

Para além disso os excessos no fundo são uma forma de contato com as experiências em seu estado mais bruto. se for algo que seja inteiro, que seja extremo. Algo como a poética da radicalidade, mas uso isso em minha vida muito mais relacionado a filosofias e idéias, do que ao uso de drogas. O excesso se tratando substâncias psicoátivas é um comportamente que deve ser combatido caso afete, e normalmente afetará, na vida de terceiros. Assim, um viciado sempre deve ser evitado.

E por fim, acredito que cada um tem o direito de escolher a forma de encontrar a sua felicidade e que sobre isso não cabe qualquer julgamento. Para mim isso é um direito inalienável e mesmo que eu não concorde com essa forma tenho que respeitar e nao posso, de forma nenhuma, dar qualquer demérito ao indíviduo por isso. Pois nao existe felicidade melhor, existe felicidade. E único ser apto pra julgar se é feliz ou não é o próprio indivíduo.

ps.: enquanto escrevia isso vc respondeu meu primeiro post, então já digo se vc nao se incomoda em conviver comigo sobre efeito de qq substância, não há porque segregação nenhuma, está certo? sendo assim gostaria de contar com vc mais vezes em nosso eventos.


Diogo - Bem, vou usar este texto base do Chico para colocar os meus contra-arguentos, bem como os meus argumentos.

O conceito de emancipação é bastante problemático, logo não pretendo esgotá-lo aqui pois seria um tanto pretensioso e provavelmente enganoso da minha parte. Não quero, no entanto, falar generalidades e ser superficial. Por isso vou desenvolver um raciocínio que procure chegar ao menos na substância principal da emancipação.

Como o homem passa a ser livre? O homem já foi escravo, já foi servo, e hoje é assalariado, proprietário em alguns casos. É um caminho de emancipação, pois ninguém possui, ou pode possuir, o corpo, a vida do outro. Mas não é só isso.

Há dois pólos dos quais o homem deveria ter total controle para ser livre. Não só sobre sua vida, seu destino e sobre sua felicidade, mas sobre sua consciência (Espinoza). Sem a consciência, o homem não se dá conta de seu lugar na história, e do significado de sua existência no mundo.

O que há contra isso? Ora, há diversos tipos de dominação. Hoje, mais do que a dominação econômica, há uma tentativa de dominação da consciência, ou melhor, uma tentativa de atrofiar o desenvolvimento dela. O uso de drogas é uma das coisas que atrofia a consciência, em vez de expandi-la, pois anestesia o ser humano, por um tempo, ou por muito tempo. “O ópio faz dormir por causa de suas propriedades dormitivas”, é um exemplo de tautologia que eu achei num livro de lógica. Bem, os sentidos oferecem as ferramentas para a consciência se desenvolver. A percepção dos fenômenos forma a consciência, logo. Então o que você disse sobre trazer as experiências das alucinações para a realidade é verdade exceto por uma coisa: Não é certo este caminho de volta. Ele depende do uso da faculdade de pensar, e do desenvolvimento prévio da consciência.

Numa sociedade em que nascemos para sermos desligados, a experiência do uso de drogas só pode levar a uma expriência separada da realidade objetiva e incomunicante com ela. Alguém que conheceu a realidade apenas pelas representações e sombras da caverna de platão, não pode nunca imaginar como seria levar seu inconsciente a uma realidade que nunca conheceu diretamente pelos sentidos apenas mediatizada por imagens (capital). Por isso, os sentidos, embora sejam essenciais para a formação da cosnciencia, não são capazes de reconhecer quando se está numa prisão tão prazerosa e atraente como a que vivemos.

A estrada dos excessos leva então ao porto da servidão inquestionada. A maioria dos políticos do mundo não vêem problemas nas drogas, pois elas não mais representam uma ameaça ao status quo. George Bush usou maconha quando era jovem, assim como todos os novos candidatos a presidente dos EUA. E quanto aos outros usuários que usam drogas sem mesmo pensar em emancipação?

Portanto, a única maneira de impedirmos o atrofiamento de nossa consciência é negando o máximo de anestesias possíveis, o que não é nada prazeroso. A dúvida se somos livres ou não, e portanto capazes de fazer o “caminho de volta” é eterna como a dúvida de Pascal se existe céu e inferno. Mas prefiro não arriscar tanto, arrisco pouco, pois talvez, a consciência vá ser um dia a única coisa que vá me sobrar.

Wednesday, July 18, 2007

Paris, Je T'aime

Este, para mim é um dos melhores filmes dentro do filme. Acho completo em termos da sensibilidade que possui e caracterização da personagem.

Monday, July 16, 2007

Identidade Brasileira

Sempre há gente nos meios de comunicação, nas discussões da universidade que quer imputar uma identidade ao brasileiro, seja para identificá-la a certos ritmos musicais ou a certos costumes.
Estas tentativas não só são permeadas por preconceitos e enganos, como têm uma característica perversa, de colocar de fora, tomando o aspecto até de ideologia, muitos brasileiros que são outras coisas, que não ouvem música regional, não dançam, e não usam do "jeitinho", não são hospitaleiros, tampouco cordiais.
Estamos muito bem, vivendo na ausência de qualquer caráter. Só os países velhos precisaram, por fatores históricos, que a elite afirmasse uma série de características do povo, que tomou vida própria. No caso da Inglaterra, por exemplo, Burke, enumerou as características do povo inglês, e relacionou-a diretamente com a liberdade que aquele povo desfrutava, que aliás, segundo ele, os franceses teriam dificuldade em ter.
Aqui a elite é tão vulgar quanto o povo. Não há a menor necessidade de que ela tenha o povo espelhado à sua imagem, e se haver necessidade, ela será mentirosa. Aqui o Odi Profanus Vulgus, a tradicional arrogância de qualquer elite de qualquer país, em relação à passionalidade dos mesmos educados, menos cheios de "classe", é uma heresia, é considerado um pecado mortal, e será condenado em qualquer próxima novela da globo.

Por isso, como diz uma amigo meu, um metaleiro de curitiba e um peão de fazenda no interior de minas são, culturalmente, tão brasileiros quanto eu, quanto você. Não tenhamos a pretensão de dizer que um é mais brasileiro que o outro pois isso é uma usurpação simbólica perigosa. A cidadania de um depende da legitimação social de todos os outros cidadãos, e não está evidente que os governos devam ouvir mais um grupo do que outro, se quiserem buscar uma identificação com a nação ou uma afirmação da nacionalidade.

Quanto mais afirmarmos nossa falta de identidade (ausência positiva), mais perto estaremos da tolerância (uma tolerância diferente da permissividade) e da liberdade.

Thursday, July 12, 2007

A vocação da TV

Agradam-me os reality shows de perda de peso. As pessoas são forçadas a entrar num regime militaresco, em que, no início, como uma espécie de estratégia de desmoralização, se mostram todas as comidas que elas comem em uma semana, numa mesa só. Uma vez botaram vários quilos de cereal com leite numa banheira, e fizeram uma senhora pôr uma roupa de banho e entrar lá.
Não sei o que dá em mim. Mas toda vez que vejo toda aquela comida espalhada, aquela abundância, aquele exagero, me dá um prazer sem medida. Eu assisto o programa até esta parte, depois procuro outro programa na TV. TV tem que ter espetáculo, e um monte de comida junta é espetacular.

Quem já assistiu TV escola sabe do que eu estou falando. A rede cultura é pretensiosamente educativa em alguns programas, mas tem ainda seu punhado de ridículo, seu pedaço de espetáculo. Eu gosto do "Sr. Brasil", aos domingos, com aquela platéia octogenária, que canta as músicas de cor. Aquele agrupamento de aposentados é o maior trunfo do programa, além das boas músicas uma vez ou outra, obviamente. Ver aquelas pessoas cantando as músicas da sua época em que eram jovens e ouviam as modas daquelas pessoas que sempre há nas cidades do interior é revigorante. A expressão delas é brilhante.

Por isso não sou um medieval, que quer distribuir diversão pública, e proibir a educação na TV, mas a TV tem uma vocação para o espetáculo, não é coincidência que ela surgiu e se popularizou na segunda metade do século XX. Alguns poderiam dizer que o avanço tecnológico que trouxe a TV, mas digo que além do avanço tecnológico há o peso de uma época.

Até a ópera pode aparecer na TV. principalmente esta cena de un ballo in maschera, de Verdi. Passaria sem problemas, no horário da novela. A história é bem conhecida por nós: mulher se apaixona pelo melhor amigo do marido, etc. Tem morte no final, só que sem traição de fato (carnal) por parte dos dois, era um amor verdadeiro, o que dá um remorso danado no assassino enraivecido.

Infelizmente, não achei no youtube o trecho final "ella è pura" que eu queria. O que tem, não está inteiro. Este "teco io stò" é legal também. A mulher está com um medo de manchar sua honra e sugere se afastar do amado, etc. É um trecho muito bonito, pelos dizeres românticos. como esse, que diz mais ou menos "que tudo desapareça, menos o amor":

M'ami, m'ami! . . . oh sia distrutto
Il rimorso, l'amicizia
Nel mio seno: estinto tutto,
Tutto sia fuorchè l'amor!


Legenda em espanhol.






eu sei que não tenho escrito coisas literárias... Mas volto à forma.

Monday, July 09, 2007

Tempo Livre


Esse não sou eu. É um eu primitivo que agente deixa de ser depois de um tempo, mas. por necessidade ou dever, nunca abandona. Não é uma foto pessoal, mas é o conflito de qualquer pessoa sob as mesmas circunstâncias que eu (ou seja, quase pessoal), que crê que apesar de viver momentos contentes, estes não são senão uma sucessão de imitações da alegria verdadeira anterior.



Não é nostalgia. É um resgate: algo mais ativo que nostalgia.



Dentro de alguns dias eu volto a postar neste blog coisas melhores.

Friday, July 06, 2007

A glória do fracasso

Cada vez descubro algo novo em que fracasso. É como quem tem um album de figurinhas e não faltam nem muitas nem poucas para se completar, é aquela fase intermediária típica.
Esses dias obtive um sinal de minha inaptidão para coisas relacionadas à economia. Vale dizer que é o que eu escolhi estudar para a minha vida, então há certa importância nisso. Não é como descobrir, por exemplo, que não tenho talento para botânica.
Botânica, aliás, é algo que eu gostaria muito de saber quando estiver na meia-idade.

Digo tudo isso não por gostar de descobrir minhas fraquezas. Mas que há algo de heróico, ou anti-heróico, em aceitá-las como parte da sua vida, e até da sua identidade, ah, isso sem dúvida que há.

Sustento, pois, que todos merecem fracassar, todos merecem esta glória, estes louros.
E os perfeitos, vejam que estúpidos, que não se esborracham, não terão nunca nenhuma derrota para se vangloriar. O perder é tão maior que o erro, que ela até serve para expiar as decepções individuais. Há sempre um ar de mistério circunstancial ou fatalístico naquele que perde.

Talvez por essa razão, a glorificação do fracasso seja a única alternativa para aqueles que têm se afogado no mar da derrota, e se esfregado nos assoalhos públicos das incapacidades.