Tuesday, May 29, 2007

um pouco romântico

mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo


Ainda que longe, mais vasto é o tamanho do não-esquecer-te. Eu hoje dei um tropeço, e alguém conhecido na rua me viu, e riu, mas eu não ouvi. Passei a tarde exercitando um poder de materialização que minha mente nunca teve e terá, mas o poder de lembrar, aquele que não exige dela nada além da obviedade de reter o que é belo, ela felizmente tem. É por isso que você me aparece no sofá, na televisão, no computador, no teto, no céu, no espelho; É por isso que se tivesse nascido cachorro, tu serias o meu passeio a tarde, se um templário, o meu graal, se criança, o sorriso de minha mãe, e se fosse eu uma laranja ridícula, e por isso vivesse para nada, você seria a minha forma, minha cor, e meu gosto, aquilo que me fizesse de fato laranja.

Por isso carrego você para todo o lado, por todos os cantos da minha vida.

Sunday, May 27, 2007

Discutir ou Fazer.

Ultimamente, tenho testemunhado algumas discussões em que me dizem que eu deveria discutir menos e fazer mais. Que se eu critico os que fazem, eu deveria é tentar fazer no lugar deles, ou propor alguma alternativa.

Nobilíssima a crítica à minha crítica. Eu, do mesmo modo, desgosto de quem chia, mais ainda chiar e não fazer. É, porém, e infelizmente, uma retórica falha, pois não resguarda ao outro o direito de expressão, da simples, livre, e unidimensional expressão das idéias.

A discussão é o estágio intermediário do processo de pensar, que se materializa na ação.

Por isso, temos sempre de rebater as críticas dos que fazem e dos que não fazem, assim é a vida. Isto é um fato. Porque as ações são reflexos das idéias expressas e de outras ações, e as idéias expressas são reflexos das ações e de outras idéias. Nesse sentido, discutir, se se pensou previamente, também pode significar fazer. Eis que quem pensa, um dia deve agir, e quem age um dia, ou uma hora, deve pensar. Aqueles que só fazem, um dia perdem o senso crítico, e os que só pensam, a forma. No entanto, há a hora certa para cada coisa, e num momento da vida se privilegia uma em detrimento da outra, talvez por um período de formação intelectual, ou do outro lado, por um tempo de maturidade e poder.
Isto não é nada de genial.
Acordei assim.

Não escrevo sobre a greve na universidade nos últimos dias é apenas o que tenho feito bastante.

Saturday, May 19, 2007

Lágrima

*poema antigo, mas tem seu charme. Ultimamente estou com 15 poemas feitos pela metade, que não consigo terminar.

Há uma lágrima.
No fundo de meu olho.
Escondida,
E Não sei,
Nunca apareceu

Já deveria ter saído
Há muito tempo
Esses meus dias têm sido tão duros
A minha vida tão fatigada
De que serviria esta lágrima
Senão para escorrer logo
Por minha face;
Senão
Para carregar consigo
O semblante triste de alguém
Cansado de viver

Mas ela não sai,
Não sai,
Faço força,
Que terá acontecido comigo?
As estátuas não choram
Nem nunca choraram

Fico, de tão fixado,
A esperar esta lágrima redentora
Este sonho, este beijo d’alma
Em algum tempo e espaço
N’algum sentimento...
Sim!
Sinto-a!
Ela aos poucos se revela
E sinto meus olhos úmidos
Finalmente!
Mas,
E se forem apenas as gotas
Dessa garoa que se inicia?

Friday, May 11, 2007

Sobre a existência

Gostaria de saber responder porque os indivíduos são o que eles são. Indaguei-me isto hoje e fiquei, vá lá..., com um nó na minha cabeça.
Por conveniência ou segurança, sempre tive uma idéia determinista da nossa existência, ou seja, sempre pensei que se somos o que somos (ainda que não saibamos dizer exatamente o quê), isto é devido à nossa família, nosso círculo social, nossa cidade, nossa renda, todas essas características externas a nós. Ou seja, nascidas pessoas sob mesmas condições culturais, materiais, é provável que elas não sejam muito diferentes de um certo padrão de costumes, de idéias políticas etc. Não quer dizer, já para rebater possíveis críticas, que dadas essas condições é fatal que sejamos de um jeito.

Digo que esta idéia me dava segurança porque é uma maneira de pensar bastante objetiva, e descarta, portanto, qualquer viagem idealista do tipo "eu sou eu", de Ficht, e as relativizações complexas do nosso tempo, que eu nunca entendi. Se o homem é homem, ele o é porque se relaciona com outros homens e com o resto, e conhece, objetivamente, outros homens e as coisas (que não são homens). Esta é uma idéia que aparece em Marx, por exemplo, mas em Kant também. É uma idéia até aceita por alguns bons filósofos. Deixei de lado o subjetivismo pois é dificil eu confrontá-lo com outras pessoas.

Ocorre que hoje surgiu-me uma dúvida. Suponhamos que 10% do que somos fuja a esta regra determinística, e que não seja possível encontrar nenhuma ligação com a nossa história e nosso meio, com o que nos transformamos. É uma suposição razoável. Isso implicaria em ser, em parte, uma aberração, em ter algo de inexplicável, imponderável. Em alguma pontinha de nossa existência, o eu só poderia se afirmar pelo próprio eu, e nada mais, não se podia rastrear qualquer origem daquela característica.

Alguém poderia dizer que é nessa região que cada homem se faz único, inimitável, imprevisível, por isso humano. Eu pensando comigo hoje, conclui que eram nesses 10% que ele se sentia completamente, inevitavelmente solitário e cinza, como me senti hoje.

Saturday, May 05, 2007

CENA 11 – Pobre Detetive Scott

EXTERNA – PRÉDIO DE SCOTT - DIA

O Delegado e Manuel estão na escada do prédio de Scott.

DELEGADO
Me ajude aqui Manuel, você que colocou tudo a perder, carrega esta caixa aqui.

O Delegado dá uma caixa para Manuel, eles entram no prédio, e caminham em direção as escadas. Eles sobem as escadas, em direção ao apartamento de Scott.

MANUEL
Que nós vamos fazer chefe?

DELEGADO
Chefe?! Você é meu capanga agora? Eu não sou seu chefe, sou o delegado, você é um atorzinho que nem na revista Caras nunca saiu.


MANUEL
Saí sim, na parte de flagras!

DELEGADO
Apareceu sua calcinha na foto?

MANUEL
Não, eu apareci um pouco de relance assim, do lado da Ângela que estava com o vestido decotado.

DELEGADO
Ela era um pitel, não é?

MANUEL
Ô... Mas nós enfiamos a faca nela! HEHE

DELEGADO
SHHH! Cale a boca. Chegamos no apartamento dele.

MANUEL
Que nós fazemos agora, chefe?

DELEGADO
Chefe é a mãe, entendeu!? Agora, nós vamos colocar a caixa bem aqui na frente da porta dele e vamos tocar a campainha. Aí nós damos no pé.

MANUEL
Tem certeza que vai dar certo?

DELEGADO
Claro, o que poderia dar errado? Nós colocamos a caixa com os itens pessoais da Ângela na casa dele, dizemos que as anotações dela no diário se referem a um amante, na verdade ao próprio detetive Scott, que vivia um caso secreto, a Dalila confirma o fato chorando e pronto. Podemos incriminar o detetive Scott.



MANUEL
Eu gosto muito dessas horas em que o vilão explica todo seu plano diabólico antes de colocá-lo em prática. Vê, isso aqui é lindo!

DELEGADO
É, É, vai pro diabo que te carregue! Se prepare que eu vou tocar a campainha.

Os dois param na frente da porta de Scott. Manuel deixa a caixa delicadamente no chão. Os dois preparam-se para correr, tocam a campainha e saem correndo.

DELEGADO
Sai, sai, sai homem!

MANUEL
Já vou!

Os dois saem correndo tentando sair do prédio, desesperados. São parados na saída por alguém que reconhece Manuel como celebridade.


Não acredito! Requião Queiroz o grande vilão!!

DELEGADO
Minha amiga, este homem é um estorvo na sociedade, você só pode estar de brincadeira!


Não! Eu ouço suas novelas desde pequeno, torço sempre para te darem papéis melhores, a sua altura.

MANUEL
Obrigado, não sei nem o que dizer.

O delegado leva as mãos a cabeça e começa a puxar sua própria pele.



DELEGADO
(FALANDO EM VOZ DE CHORO)
Por quê? Por quê? AÍ meu deus, olha lá o detetive, olha lá, olha lá ele.

Scott aparece na entrada do prédio, olhando para os lados, procurando por alguém.

SCOTT
Bom dia senhores! Vocês viram o zelador por aí? É que parece que eu recebi uma encomenda, mas não me mandaram assinar nem nada, acho que foi um engano, de qualquer forma eu coloquei lá para dentro né, pode ser algo importante.

Scott e o Delegado ficam quietos, enquanto Manuel dá um autógrafo para a fã.

SCOTT
Pêra aí!? Seus delinqüentes, eu vou colocar vocês na cadeia! Vocês planejaram a morte da Ângela, eu arranquei a confissão do Manuel!

DELEGADO
Manuel, eu sei que deve estar legal posar aí de miss universo e dando autógrafos. Mas agora, mais do que nunca, nós temos que correr mais que o João do Pulo!

MANUEL
João do pulo saltava, não era mesmo?

DELEGADO
Ele devia correr também, não?

MANUEL
Sim, sim, pra pular tem que tomar distância e correr!

Os três ficam em silêncio.

DELEGADO
(GRITANDO - VAAAAAAI!)

Tuesday, May 01, 2007

II

No fim,
Minha vida fora aquilo que imaginava
Um monte de sangue adicional correndo
No mundo,
E ainda mais sem ninguém para admirar
A beleza do sangue que corria em minhas veias.
Capaz era meu sangue de explodir esse mundo
E virá-lo de cabeça para baixo
Mas a verdade é que passou sem grande estrondo