Friday, May 11, 2007

Sobre a existência

Gostaria de saber responder porque os indivíduos são o que eles são. Indaguei-me isto hoje e fiquei, vá lá..., com um nó na minha cabeça.
Por conveniência ou segurança, sempre tive uma idéia determinista da nossa existência, ou seja, sempre pensei que se somos o que somos (ainda que não saibamos dizer exatamente o quê), isto é devido à nossa família, nosso círculo social, nossa cidade, nossa renda, todas essas características externas a nós. Ou seja, nascidas pessoas sob mesmas condições culturais, materiais, é provável que elas não sejam muito diferentes de um certo padrão de costumes, de idéias políticas etc. Não quer dizer, já para rebater possíveis críticas, que dadas essas condições é fatal que sejamos de um jeito.

Digo que esta idéia me dava segurança porque é uma maneira de pensar bastante objetiva, e descarta, portanto, qualquer viagem idealista do tipo "eu sou eu", de Ficht, e as relativizações complexas do nosso tempo, que eu nunca entendi. Se o homem é homem, ele o é porque se relaciona com outros homens e com o resto, e conhece, objetivamente, outros homens e as coisas (que não são homens). Esta é uma idéia que aparece em Marx, por exemplo, mas em Kant também. É uma idéia até aceita por alguns bons filósofos. Deixei de lado o subjetivismo pois é dificil eu confrontá-lo com outras pessoas.

Ocorre que hoje surgiu-me uma dúvida. Suponhamos que 10% do que somos fuja a esta regra determinística, e que não seja possível encontrar nenhuma ligação com a nossa história e nosso meio, com o que nos transformamos. É uma suposição razoável. Isso implicaria em ser, em parte, uma aberração, em ter algo de inexplicável, imponderável. Em alguma pontinha de nossa existência, o eu só poderia se afirmar pelo próprio eu, e nada mais, não se podia rastrear qualquer origem daquela característica.

Alguém poderia dizer que é nessa região que cada homem se faz único, inimitável, imprevisível, por isso humano. Eu pensando comigo hoje, conclui que eram nesses 10% que ele se sentia completamente, inevitavelmente solitário e cinza, como me senti hoje.

5 comments:

A Esquesita said...

Se eu não perdi nada, e interpretei bem o que vc disse, quer dizer que acredita que o ser humano nasce como uma folha de papel em branco? E que todas as suas idéias, conceitos e preconceitos surgem à partir do meio externo?

Se for isso eu concordo plenamente. E achei bem legal e razoável a sua dúvida. Não tinha pensado nunca nela.

Diogo Bardal said...

papel em branco, não diria.
aliás, pelo contrário. se o meio o determina, seria um papel já com alguma coisa escrita.

A Esquesita said...

Eu quis dizer antes de ele entrar em contato com o meio.

Defendo que qualquer ser humano é o que é por causa do meio. E são pouquíssimas pessoas que concordam comigo...

Quando li o seu texto acho que entendi isso. = )

Diogo Bardal said...

é. entendi seu ponto. mas veja, O homem nem sequer existe sem o meio. Logo, o homem destituido daquilo que o circunda é apenas uma abstração teórica, só dá para especular. Não há nenhum homem que possa ser analisado puramente dessa maneira.

A Esquesita said...

Nossa... não tinha pensado nisso tbm. Tem razão.