Saturday, March 31, 2007

Ao meu lado

Quando sentas ao meu lado
Olho-te sentada sorrindo ao meu lado
Singularmente inexplicável, tu
Que onda me inunda, desnuda
Levanta, amansa e expulsa
Que fogo arde, consome
Mas que é onda, e de novo fogo, e tanto

Tu ausência, Tu cuidado
Tu mãos dadas, Tu agrado
Tu sozinha, Tu rosinha
Tu mansinha, ao meu lado

E eu me derreto como o diabo
Eu, inviolavelmente apaixonado
Amo como quem precisa de miopia
Vasto, triste, de antes abandonado

Quero-te junto com mais nada
A dormir linda ao meu lado
A sentar comigo na ceia
A olhar-me olhos de fada
A acender-me branca candeia

Mas permaneço em todo aflito
O futuro talvez não atente
Pra que fiques ao meu lado
Parvoíce minha dos descrentes
Realismo duro dos soldados

Mil fogos de artifício acionados!
Esperança eterna toma a frente!
Os tolos se viram humilhados
E a minha alma descontente

No final tornei-me insistente
Força que há muito não tinha
Que o amor faz o corpo mais quente
E a mente da sorte rainha
Se tu ainda tens duvidado
Do que tua boca provoca na minha
Vem e continua ao meu lado
Pois nenhum sol, nenhum malgrado
Entrará nessa nossa casinha

Saturday, March 24, 2007

Alterações

Por sua causa, hoje ouço rádio diferentemente,
Presto atenção em cada palavra,
Pois antes achava dispensável prestar atenção nelas,
Já que cansava-me menos.
Mas hoje dou outro sentido,
E descubri que oito em cada dez canções
São de amor
São de um amor rasgado, chorado na calçada,
O que justifica o mau gosto musical

Por sua causa, estou mais suscetível aos acidentes de trânsito,
E quase sofri alguns, por sorte quase,
Enquanto ficava matutando você,
Pois nada demanda mais que lembrar de ti
E lembrar, de certo modo é viver de novo,
Só que com medo e dor,
Sem esquecer, porém, que é viver, ainda,

Por sua causa, tornei-me por vezes eufórico,
Sem qualquer motivo ou explicação

Por sua causa, passei a praguejar o tempo,
Pois ele tem demorado a passar, tedioso.
E não falo do tempo que fico parado no trânsito,
Ou do tempo que demoram os programas de rádio.
Praguejo outro tipo de tempo,
E eu espero, quase sem forças,
Aquilo que não sei se devo esperar,
Aliás, que sei que não deveria esperar,
E por isso odeio os relógios e os calendários,

Mas não tem conserto, eu não tenho mais jeito,
Eu antes preferia era não sentir nada, apenas flutuar no espaço,
E apenas fazer o que a vida me designasse.
Perdi, no entantom também essa vontade, e lentamente fui tolhido,

Por sua causa, essas gotas de chuva
formam um espelho em que me vejo
Ouço barulhos de meu inconsciente
Que gritam, maus olhados, desejos

Mas digo que apesar de tudo,
Meus dias, em si,
Têm continuado sempre iguais



(o poema não está pronto nem acho que esteja bom o suficiente, então não é nada definitivo, mas coloco aqui já)

Wednesday, March 21, 2007

Sabedoria dos Outros

Estando eu algum tempo sem dormir, creio que minhas virtudes cerebrais vão se esvaindo.
Logo darei espaço a quem sabe mais. Duas coisas. O primeiro trecho é o poema famosíssimo de Augusto dos Anjos, "versos íntimos", que embora retratem aquele momento realmente ínitmo em que nós descremos do homem por completo, (camões até tem versos sobre isso, chama-se "ao desconcerto do mundo" deve haver alguma permanência desse sentimento ao longo da história. O outro trecho de Norberto Bobbio, capta muito bem a figura de Kant, quando se põe a falar da evolução moral do homem, creio que na metafísica dos costumes. Seria uma possível resposta kantiana a essa nossa postura descrente frente ao, parafraseando Camões, desconcerto do mundo e dos homens?

Cabe colocar os dois trechos um após o outro para dar um efeito. Como se pode ver, os versos de augusto dos anjos reportam para uma dimensão individual, (por isso particular), mas por vezes essas noções migram para o plano da atuação política, e ao sentido que damos à história, que é mais o objeto do trecho de Bobbio escolhido por mim. Um dia vou brincar com esse poema do augusto dos anjos. Ando concordando demais com ele, mas apenas no plano particular, felizmente:

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

E Bobbio, Kant:

"Comecei com Kant. Concluo com Kant. O progresso, para ele, não era necessário. Era apenas possível. Ele criticava os "políticos" por não terem confiança na virtude e na força da motivação moral, bem como por viverem repetindo que "o mundo foi sempre assim como vemos hoje". Kant comentava que, com essa atitude, tais "políticos" faziam com que o objeto de sua previsão - ou seja, a imobilidade e a monótona repetitividade da história - se realizasse efetivamente. Desse modo, retardavam propositalmente os meios que poderiam assegurar o progresso para melhor.
Com relação às grandes aspirações dos homens de boa vontade, já estamos demasiadamente atrasados. busquemos não aumentar esse atraso com nossa incredulidade, com nossa indolência, com nosso ceticismo. Não temos muito tempo a perder"

Friday, March 16, 2007

Sobre mim

A minha vida é feita ao estilo de uma comédia, mas teimam em querer transformá-la num suplício. Eu nunca, nem nos dias mais dramáticos da minha existência, perdi um pingo da salutar risada, de como quem vê o mundo com uma incompreensão cômica, e ao mesmo tempo já viu de tudo, sem ter visto, na verdade.
Eu fico triste, obviamente que fico, é só darmos uma olhada aí nos meus últimos posts, nas últimas coisas que escrevi, aliás, eu deveria parar com este hábito de usar esse blog como um diário. Mas embora triste, continuei a me flagrar rindo sozinho às vezes, continuei a usar um óculos ridículo para dirigir, na esperança de que alguém me veja e possa achar engraçado.
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Se sou ingênuo, isso se deve a minha educação católica. Se me mantenho fiel a principios de qualquer ordem, também. Entretanto, eu tenho uma visão muito prática sobre eles. Respeitar princípios éticos rígidos é muito prático. Evita-se dor de consciência e ainda tem-se milênios da humanidade e uma porrada de filósofos backing me up, para usar um anglicismo. Se sou assim, não é porque ainda não fui contaminado pela malícia do mundo e um dia hei de aprender, mas porque vejo que o mundo é muito ineficiente desse ponto de vista, de ter que inventar a roda todos os dias.
O amor, coloco-o como algo central na minha vida. Desta vez não por praticidade, mas por pragmatismo. Posso idealizá-los nas palavras, nos poemas, mas sabendo eu que ninguém é feliz sozinho (wave), e que sem amor não somos nada (Coríntios 13), sempre que tenho de escolher entre o amor e qualquer outra coisa, escolho o amor, lógico, eu não sou bobo nem nada.
Os anti-romanticos que me desculpem, mas ninguém dessacraliza mais o amor do que eu. O amor é que nem pastel de feira, é trivial minha gente, é estar parado no trânsito e ter esses insights sobre como você ama os outros.

Tuesday, March 13, 2007

sem título

Toda angústia cabe em mim
Minha alma é um ferro velho
Uma planta feia em meu jardim
Tem morrido todos os dias

A mesma planta, sempre mesquinha
Já que só tenho uma maldita planta em meu jardim
Feia, erva-daninha

Mas assim que as marteladas
Dos homens da construção civil
Acordam-me raivoso, furioso de viver
Vou a janela ver esmorecer minha planta

Fico triste.

Pois significa a tua ausência

Mas quando saio a caminhar na rua
E o mesmo barulho, talvez mais alto
Faz-me musical, contente com os outros
Vejo-a de longe rejuvenescida, embora feia

Mas que acontece, que aquele ser renasce
Sempre, insistente, sem eu ver?

É a tua volta
Que como o dia,
A vida e a morte sentencia
Em tudo que é meu


(encheram o saco tantos posts sobre amor, hehe, mas são os que tenho no momento, os de outros assuntos merecem muitos ajustes)

Sunday, March 11, 2007

Orestes Barbosa

Arranha-Céu

Cansei de esperar por ela
Toda noite na janela
Vendo a
cidade a luzir

Nestes delírios nervosos
Dos
anúncios luminosos
Que são a vida a luzir

E cada
vez que subia
O elevador não trazia
Essa mulher,
maldição

E quando lembro
Gemia o elevador e
descia
Fundia o meu coração

Cansei de olhar as
reclames
E disse ao peito não ame
Que o teu amor não te
quer

Descansa, feche a vidraça
Esquece aquela
desgraça
Esquece aquela mulher

Deitei então sobre o
peito
Vieste em sonho ao meu leito
E eu acordei que
aflição

Pensando que te abraçava
Alucinado
apertava
Eu mesmo meu coração

Saturday, March 10, 2007

A redução da TR.

Às vezes é bom falar de pequenos detalhes que mostram qual o direcionamento da nossa política econômica.

O governo decidiu mais uma vez em favor dos bancos. O aumento do redutor na taxa referencial (TR) quer dizer que todo mundo que tem poupança passará a ganhar menos em rendimentos. Vale lembrar que também todos os trabalhadores serão prejudicados, já que o FGTS (fundo de garantia por tempo de serviço) também é corrigido pela TR.
Havia um medo de que com a diminuição dos juros a poupança passase a competir com outras oportunidades de investimento, mais lucrativas para eles.

Significa dizer que os bancos tinham um problema de mercado decorrido da redução dos juros, e que o governo não tinha nada a ver com isso. Os bancos teriam que melhorar suas taxas de administração, que são bastantes altas. Por que será que o governo tomou as dores das instituições bancárias?

Agora com a poupança sendo menos rentável, as outras alternativas de investimento mais lucrativas aos bancos continuam sendo preferidas, e não há pressão para a diminuição das taxas de administração. O preço é pago por quem investe na poupança e por quem trabalha.

Ora, é salutar como alguns orgãos de imprensa e o governo tomaram a questão. A único benefício social desta redução é que quem faz financiamento para a casa própria (as prestações são corrigidas pela TR), pagará menos. Alguém poderia dizer que é um bom sinal, que o governo está ajudando as pessoas, como disse Lula. Mas duas observações devem ser feitas:

O universo prejudicado é muito maior do que a soma daqueles que dependem de um financiamento da casa própria. E além do mais, se o FGTS, que também é usado para financiar políticas públicas habitacionais, terá menor rendimento, então na soma social o saldo é negativo também para a habitação.

É lamentável que um governo apresente tamanho servilismo diante de certas questões. O Interfere então em questões de mercado para salvar o único setor que talvez não apresente problema nenhum de sustentabilidade.

Saturday, March 03, 2007

Infelicidade

Sempre tive a idéia de que a infelicidade seria um estado absoluto. Se se está infeliz, a alma está de tal forma envolvida na mágoa, que não se pode fazer mais nada. Não é assim. Enganei-me. A infelicidade convive conosco. É como uma deficiência. É como eu, que tenho que conviver com minhas incapacidades. É um demônio feio que nos assombra.
Por isso antes fosse nossa infelicidade absoluta, antes eu fosse um pianista frustrado e apenas isso. Valeria-me mais tragicidade.
Acontece que, além desse mundo estúpido, que nos diz não, há de ter algo que nos exija nobreza (no cume calmo do meu olho que vê assenta a sombra sonora de um disco voador). Quantas batalhas, quantos amores ainda terei que perder? Eu, que não sei quanta dor sou capaz de suportar.

Somos infelizes enquanto somos felizes, nada é pior do que ser infeliz e feliz ao mesmo tempo.

De que vale a poesia e o caráter, num mundo estúpido, feito por pessoas estúpidas? Farei-me esta pergunta a vida inteira.

Friday, March 02, 2007

O tempo do Brasil

Um amigo diz que só agora, finalmente, o resto do mundo chegou na fase das mulatas rebolando, algo que temos há mais de dois séculos. O que se vê nos canais de música, nas paradas de rádio?
O exemplo das mulatas é muito emblemático. O mundo ocidental entrou num intenso processo de catching up tendo como referência infalível o Brasil.
Os exemplos pululam a nossa frente. Mas, embora sirvam para efeitos retóricos, não são de todo conclusivos:
Nos últimos anos, o mundo enfrentou um aumento das desigualdades e das tensões econômico-sociais. (Estivemos sempre na frente). Também a Europa, que abriu seus portões aos imigrantes das mais variadas nacionalidades, prova pela primeira vez o sabor de um racismo explícito e velado, encardido, meio nojento, meio abominavelmente tolerável. Aplica, em suas políticas públicas, os mais sujos princípios de segregação espacial e cultural.
Devemos nos inflar de entusiasmo patriótico, pois, também o mundo infestou-se de consultores a dizer que “se algumas reformas forem feitas”, determinado país encontrará seu rumo. Povoou-se, então, de sujeitos categoricamente insuportáveis, que trabalham em organizações internacionais e graduaram na “Escola Superior da Falácia e da Diletância” de José Carlos Fernandes. E ainda se lê no jornal que as filas e o trânsito chegaram, enfim, a ter proporções paulistanas.
Seria um exagero dizer que o mundo está-se “subdesenvolvendo”, seria exagero dizer o contrário. A história não parece ser nada além de uma luta bastante incerta entre essas duas forças e, modéstia à parte, nenhum país expressa melhor esse conflito do que aquele cuja brisa beija e balança o auriverde pendão da minha terra.
Não é nenhum orgulho inspirar. Mas, nós, que conhecemos tantos nossos problemas a ponto de sermos capazes de ignorá-los, bem que poderíamos dar-lhes alguma luz. Ainda que sejamos acostumados a falar mal do Brasil, a característica de um patriotismo legítimo, temos de reconhecer que ao menos tentamos constantemente decifrar esse país ininteligível, e até tivemos certo sucesso. Orgulhemo-nos.
Orgulhemo-nos de nunca termos sidos catequizados, nas palavras de Oswald de Andrade, e ainda assim, não termos mergulhado na barbárie. Civilização sem catequização, eis o que temos a ensinar ao mundo.
Entretanto, e abandonemos a atmosfera rósea, o ano de 2007 é marcado, entre outras coisas, pelo segundo mandato de Lula. Estamos a esperar os resultados “pacote de crescimento” anunciado pelo governo. Vale perguntar se pacote de crescimento é capaz de melhorar substancialmente a economia de um país. O ano de 2007 é marcado pela continuidade de um caos nos aeroportos que esteve passando, dia a dia no noticiário, e, provavelmente, 90% da população não usa nenhum meio de transporte aéreo. As novelas continuam a misturar merchandising infame e fora de contexto com cenas de prática de tai chi chuan; a revista Veja continua a publicar alguns absurdos, como no dia em que aproximou a democracia direta ao regime nazista.
Em outras palavras, não só o mundo está virando Brasil, mas o Brasil , que já era Brasil, está como esteve sempre: na corda bamba.
A espera de que o nosso país sofra alguma melhora (e não uso o verbo sofrer à toa) é como uma promessa de ano novo coletiva, renovada anualmente. Como as senhoras que, entre uma garfada e outra na maionese, prometem começar uma dieta assim que o ano virar. “É só ter força de vontade”, dizem empanturradas. Por essa razão, se uma coisa nos distingue dos que nos copiam é o caráter de nosso otimismo. É substancialmente diferente. Otimismo costuma ser uma expectativa. Para nós, é uma promessa aflita, quase engasgada, uma resposta trágica a nossa impotência, pois sabemos nosso destino, em verdade. É a marca de uma nobreza heróica, que o mundo não enxerga.
Se todos caminhamos para o mesmo abismo de incerteza e selva, não é culpa nossa. E não chegaremos nunca a ensinar o mundo. Mas, bastará apenas que nos confiram certa poesia. Esse é mesmo o tempo do Brasil.