Sempre há gente nos meios de comunicação, nas discussões da universidade que quer imputar uma identidade ao brasileiro, seja para identificá-la a certos ritmos musicais ou a certos costumes.
Estas tentativas não só são permeadas por preconceitos e enganos, como têm uma característica perversa, de colocar de fora, tomando o aspecto até de ideologia, muitos brasileiros que são outras coisas, que não ouvem música regional, não dançam, e não usam do "jeitinho", não são hospitaleiros, tampouco cordiais.
Estamos muito bem, vivendo na ausência de qualquer caráter. Só os países velhos precisaram, por fatores históricos, que a elite afirmasse uma série de características do povo, que tomou vida própria. No caso da Inglaterra, por exemplo, Burke, enumerou as características do povo inglês, e relacionou-a diretamente com a liberdade que aquele povo desfrutava, que aliás, segundo ele, os franceses teriam dificuldade em ter.
Aqui a elite é tão vulgar quanto o povo. Não há a menor necessidade de que ela tenha o povo espelhado à sua imagem, e se haver necessidade, ela será mentirosa. Aqui o Odi Profanus Vulgus, a tradicional arrogância de qualquer elite de qualquer país, em relação à passionalidade dos mesmos educados, menos cheios de "classe", é uma heresia, é considerado um pecado mortal, e será condenado em qualquer próxima novela da globo.
Por isso, como diz uma amigo meu, um metaleiro de curitiba e um peão de fazenda no interior de minas são, culturalmente, tão brasileiros quanto eu, quanto você. Não tenhamos a pretensão de dizer que um é mais brasileiro que o outro pois isso é uma usurpação simbólica perigosa. A cidadania de um depende da legitimação social de todos os outros cidadãos, e não está evidente que os governos devam ouvir mais um grupo do que outro, se quiserem buscar uma identificação com a nação ou uma afirmação da nacionalidade.
Quanto mais afirmarmos nossa falta de identidade (ausência positiva), mais perto estaremos da tolerância (uma tolerância diferente da permissividade) e da liberdade.
Monday, July 16, 2007
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
No comments:
Post a Comment