Friday, August 03, 2007

Os meus pesadelos. (escritos autobiográficos)

Busco ainda interpretação psicanalítica para meus pesadelos. Só pude interpretar perfeitamente um sonho, numa noite que sucedeu o dia em que tinha terminado de ler "mal estar na civilização". Foi perfeito: estava lá meu pai, minha mãe, mulheres nuas, vestidos vermelhos, salas vazias, livros velhos, crianças endiabradas, criados uniformizados... uma festa. Creio que sofri do que chamei de idealização do inconsciente (algo análogo à idealização do ego), isto é, meu inconsciente, vendo que os conceitos de Freud eram muito mais interessantes que o mais confuso e sujo dos meus segredos, simplesmente recriou aqueles símbolos, ordenadamente. É um pouco decepcionante, pois ninguém espera isso do inconsciente, esta subordinação e admiração total.

Na maioria das vezes não sonho, tenho só pesadelos (diria porque sonho já demasiadamente durante o dia, e meus pesadelos não são terríveis, quer dizer, mão são violentos, cruéis. Normalmente, não riam, eles acontecem em agências bancárias, mas não presencio assaltos, não testemunho o drama de reféns caídos no chão. Meu drama é quase sempre o mesmo, tendo algumas variações de um dia para o outro.

Estou diante de um caixa eletrônico (um ATM), insiro meu cartão, e ao me pedirem a senha, eu digito normalmente só que ela é inválida (esta é a melhor síntese biográfica da minha vida e da de qualquer outra pessoa, estou convencido), e então para confirmar meus dados o computador me pergunta qual meu prato preferido, o nome do meu cachorro, minha cor preferida. Respondo todas essas perguntas uma atrás da outra até ficar extremamente angustiado com a situação. A cena se prolonga infinitamente, até eu acordar, como se as perguntas não acabassem.

Ontem, de novo, estava diante do caixa eletrônico, mas, (que surpresa!), digito a senha e ela funciona, para retirar vinte reais. Fico esperando o dinheiro vir, e como sempre faço na vida real, desejo que a máquina erre a contagem e me dê um bolo de dinheiro. Um dia poderia acontecer, acho.

o dinheiro saí e são quatro notas de cinqüenta reais. Meu desejo se realizou. Esta felicidade dura alguns instantes, mas logo vejo num extrato que surge na minha mão, que aquele dinheiro foi debitado na minha conta, e que estou negativo no banco.

Olho o ATM e há um relógio digital que marca os juros em dinheiro, a cada segundo, que devo por ter aquela dívida. E o número vai crescendo rapidamente até eu ficar bastante angustiado. Tento usar o telefone, e nada.

Acho que há alguma relação com a minha vida em geral, bastante na verdade. Mas não posso negar também que posso ver o pesadelo como uma não metáfora, já que tenho mesmo pavor viceral de caixas eletrônicos, e todos os outros procedimentos bancários possíveis.

2 comments:

A Esquesita said...

Adorei esse texto, nunca pensei que alguém tem pesadelos com bancos. Rsss... Meus pesadelos são terríveis, violentos e cruéis. Aí sim esses sonhos são considerados pesadelos... Outros sonhos eu esqueço. E uns são a realização de alguma coisa q eu desejei muito durante o dia. Ás vezes já tive até deja vu (muito raro, mas já aconteceu e sobre o cotidiano, nada de mais). Mas nunca, nunca nem ouvi falar de alguém com pesadelos com bancos, rss...

Renato Siviero dos Santos said...

Tenho certeza que, se tivesse um pesadelo fixo, ele seria minha conexão da internet caindo de 2 em 2 minutos.